Fernandes Figueira e a higiene infantil: alimentação como pilar da saúde

 

Junho/2024

Fernandes Figueira atendendo na Policlínica das Crianças Pobres, 1920. Fonte: A Policlínica de crianças pobres, da S.C. da Misericórdia. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Commercio (Col. Rui Barbosa)

A trajetória intelectual do pediatra carioca Antônio Fernandes Figueira, responsável por traçar as primeiras políticas públicas para a infância no país, entre 1923 e 1928 – ano de sua morte – é o tema do artigo Fernandes Figueira e a higiene infantil no Rio de Janeiro, 1880-1930, publicado na revista História, Ciências, Saúde-Manguinhos (v. 31, 2024), de autoria da pesquisadora Gisele Sanglard, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), e da doutoranda Letícia Cosati, do PPGHCS/COC/Fiocruz.

O artigo discute a relação entre Fernandes Figueira e a higiene infantil no período de institucionalização da pediatria no Brasil. Segundo as autoras, ele se notabilizou pela via da higiene infantil, com foco no combate à mortalidade infantil e na alimentação das crianças. Para o médico, as ações de profilaxia deveriam ter mais espaço que a doença. “A higiene infantil é fruto da emergência do conceito de saúde em contraposição à doença. Interessa-nos compreender como a higiene infantil se estabeleceu, se em parceria ou oposição à pediatria”, explicam. “Enfatizamos como a circulação das ideias sobre a saúde da criança chegou ao país e como esse médico dialoga com as discussões europeias e as reinterpreta.”

O fio condutor da pesquisa foi a alimentação infantil como pilar da higiene infantil, tendo como base o Livro das mães: consultas práticas de higiene infantil, publicado por Fernandes Figueira em 1910. Fruto da pesquisa de Gisele Sanglard (PQ/CNPq), o artigo explora como o tema da alimentação domina 70% do Livro das Mães.

O artigo traz um novo olhar sobre o processo de institucionalização da pediatria no Rio de Janeiro. “Até então repetia-se o papel inconteste de Moncorvo de Figueiredo na formação da primeira geração de pediatras brasileiros, a partir do curso livre da Policlínica Geral do Rio de Janeiro. O artigo demonstra que houve uma segunda via de formação: a da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, sob a liderança de Barata Ribeiro, que foi o mentor de Fernandes Figueira”, revelam as autoras.

Policlínica das Crianças, corpo médico. Foto: Augusto Malta, 1914. Coleção Augusto Malta, MIS-RJ

“A escola de Moncorvo de Figueiredo centrava-se na questão das doenças da infância, enquanto a formação com Barata Ribeiro seguia pela linha da higiene infantil: o caráter preventivo, o combate a mortalidade infantil e o papel central da alimentação na saúde da criança até um ano. Estes são os pilares das ações de Fernandes Figueira em sua atuação entre 1902 e 1928, quando falece”, explicam as autoras. 

Graças às pesquisas realizadas por Letícia Cosati em seu período de doutorado sanduíche na Universidade de Évora, Portugal (CAPES-Print/Fiocruz), quando teve acesso na Biblioteca Nacional de Portugal às atas dos primeiros congressos de proteção a infância, as autoras puderam demonstrar como a criação da cátedra de pediatria nas faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e Bahia, em 1883, ocorreu concomitantemente à institucionalização da pediatria na Europa, e também a instabilidade no estabelecimento da nova disciplina ainda em 1896. 

Leia na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos:

Fernandes Figueira e a higiene infantil no Rio de Janeiro, 1880-1930, artigo de Gisele Sanglard e Letícia Cosati (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 31, 2024)

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Conjunto de artigos e entrevistas sobre os cem anos do Instituto Fernandes Figueira foi editado por Luiz Antonio Teixeira e Larissa Velasquez de Souza. Leia a Carta dos Editores e acesse o volume 31 de História, Ciências, Saúde – Manguinhos