Abril/2015
Apesar de a maioria dos Hospitais Universitários (HUs) brasileiros já ter introduzido formalmente a atividade de pesquisa como missão, na prática, o binômio ensino–assistência prevalece nestas instituições. Esta é a conclusão de um estudo realizado pelas pesquisadoras Kizi Mendonça de Araújo e Jacqueline Leta, do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Elas publicaram em HCS-Manguinhos o artigo “Os hospitais universitários federais e suas missões institucionais no passado e no presente” (vol.21 no.4 out./dez. 2014). A integração entre pesquisa, ensino e assistência está presente na definição oficial de hospital universitário divulgada pelo site do MEC, um dos órgãos reguladores e mantenedores dos HUs. A introdução de um processo de certificação dos HUs brasileiros em 2004 reforçou a tríplice missão. Mas será que os HUs brasileiros incorporaram e integraram de fato essas missões? Como será que os gestores dessas instituições percebem essas missões no passado e no presente? Para responder essas questões, foram realizadas entrevistas com 13 diretores-gerais e oito diretores de ensino e pesquisa (ou diretoria afim) do universo de 31 hospitais universitários gerais da rede federal de ensino superior, selecionados com base em dois critérios: tempo de fundação e região geográfica. Foram selecionados para entrevistas: HC/Unifesp e HU/UFMG no Sudeste; HUOL/UFRN, HU/Ufba, HU/UFC e HU/UFCG no Nordeste; HC/UNB e HC/UFG no Centro-oeste; HU/UFSC, HC/UFPR e HC/UFRGS no Sul; e HU/Ufam e HUJBB/Ufpa no Norte. O estudo também analisou as informações da história e das missões contidas nos sites dos 31 HUs federais, incluindo os 13 que participaram das entrevistas e os outros 18: HU/Unirio, HU/UFF, HU/Ufes, HE/UFTM, HU/UFMS, HU/UFSM, HU/Ufal, HU/Furg, HU/UFRJ, HC/Ufpe, HU/UFPB, HU/UFMT, HUBFS/Ufpa, HU/Ufma, HU/UFJF, HE/Ufpel, HU/UFS e HU/Ufpi. A análise dos sites revela que as três missões – assistência, ensino e pesquisa – são apontadas pela maioria dos 31 HUs estudados. Porém, as entrevistas dos gestores contrastam com as informações oficiais dos sites. O conjunto de fala dos gestores indica que a atividade de assistência ocupa maior destaque nos HUs, sendo o binômio ensino e assistência ainda forte norteador dentro dessas instituições. Fica claro que a tripla missão (ensino, pesquisa e assistência) ainda não foi introjetada efetivamente na prática institucional. Alguns fatores corroboram esse fato, tais como a falta de estrutura para pesquisa, a falta de financiamento, o processo de contratualização e a demanda assistencial. “A se considerar que os gestores são os representantes formais e oficiais dessas instituições, essa é uma forte indicação do peso institucional do ensino, o que nos remete ao modelo de hospital do século XVIII”, afirmam as autoras no artigo. Um único gestor considera que a interação ensino, pesquisa e assistência seja de fato o ponto central para um hospital universitário, sendo ela o diferencial dos HUs em relação aos demais hospitais que servem de campo de estágio aos alunos de cursos da saúde. Para as autoras, o estudo indica a necessidade urgente que os hospitais universitários criem mecanismos que permitam a integração plena da pesquisa às outras duas missões institucionais, contribuindo para uma formação científica na graduação e na pós-graduação em saúde. “O contato com a atividade de pesquisa pode contribuir não somente para a formação de profissionais mais críticos, reflexivos e resolutivos em suas práticas, como também despertar o interesse pela carreira científica em saúde, que, sem dúvida, é um setor estratégico para o desenvolvimento do país”, concluem. Leia em HCS-Manguinhos: Os hospitais universitários federais e suas missões institucionais no passado e no presente, artigo de Kizi Mendonça de Araújo e Jacqueline Leta (vol.21 no.4 out./dez. 2014) Leia também: O ensino da medicina na Universidade de Coimbra no século XVI, artigo de Isilda Teixeira Rodrigues e Carlos Fiolhais (vol.20, no.2, jun 2013) Apontamentos para a arquitetura hospitalar no Brasil: entre o tradicional e o moderno, artigo de Renato Gama-Rosa Costa (vol.18, supl.1, dez 2011) Direções e traçados da assistência hospitalar no Rio de Janeiro (1923-31), artigo de Gisele Sanglard e Renato da Gama-Rosa Costa (vol.11, no.1, abr 2004)