Março/2017
“A ligação entre eugenia e escola teve efeitos contraditórios: por um lado, concentrou esforços, recursos e técnicas para ampliar a educação pública num molde que alcançava famílias até então excluídas. Mas, por outro, os conceitos eugênicos que nortearam as escolas e ordenavam os alunos e professores tendiam a definir como deficientes as pessoas negras ou provenientes de meios pobres. Em vez de exclusão, a presença do pensamento eugênico no ambiente escolar resultou numa moderna inclusão marginalizadora.”
A declaração do historiador e brasilianista Jerry Dávila, diretor do Lemman Institute for Brazilian Studies, dá o tom da entrevista concedida a Leonardo Dallacqua de Carvalho e Igor Nazareno da Conceição Corrêa, do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, e publicada na atual edição de HCS-Manguinhos. Especialista nas relações entre eugenia, raça e educação, Dávila é autor de Diploma de brancura, livro que examina as relações raciais e eugênicas na educação brasileira entre 1917 e 1945, lançado em 2006, e de Hotel trópico: o Brasil e o desafio da descolonização africana, 1950-1980, de 2011.
Diploma de brancura, referência para estudos que envolvem educação e raça no Brasil das primeiras décadas do século XX, resulta da tese de doutorado de Dávila, orientada por Thomas Skidmore, outro brasilianista que se tornou notório com a publicação de Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro, 1870-1930, publicado no Brasil em 1976 e desde então um clássico sobre a questão racial.
Nesta entrevista, Dávila destaca os desafios em torno das pesquisas sobre eugenia na atualidade, suas impressões ao participar do seminário “História da eugenia: ampliando perspectivas”, realizado pela Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz em 2015, e seus recentes interesses de pesquisa.
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