Março/2016
Carolina Kffuri, pós-doutoranda no Departamento de Horticultura da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, passou um ano e meio na região do alto rio Negro, no Amazonas, entre 2010 e 2012, período em que conviveu com moradores e indígenas da região. Essa convivência permitiu que ela conhecesse a realidade da malária no local, assim como as plantas da região usadas pela medicina tradicional no tratamento da doença. Ela documentou o uso de 46 espécies de plantas, das quais apenas 18 já tinham sido estudadas por suas propriedades antimaláricas; 26 delas eram desconhecidas da ciência. Seus efeitos no combate da doença nunca foram investigados. São 26 espécies com potencial para o desenvolvimento de novas drogas e que ninguém nunca tinha ouvido falar – exceto os índios. Em setembro de 2013, a pesquisa de campo deslanchou com cinco comunidades indígena multiétnicas: Tukano, Desano, Baré, Tariano, Piratapuia, Arapaço, Baníua (Baniwa), Hupda, Curripaco e Bará. Foram entrevistados, ao todo, 89 índios, 49 homens e 40 mulheres, cujas idades variavam dos 22 até os 74 anos. A todos ela indagou, por exemplo, “quais plantas você usa para tratar malária e quais você conhece ou ouviu falar?”. A maioria dos entrevistados respondeu em português, espanhol e em outros dez idiomas nativos. A pesquisadora contou com a ajuda de Moisés Ahkáutó Lopes, um estudante da etnia tukano da comunidade Cunuri. As respostas permitiram identificar as plantas usadas no tratamento da malária, as formas de preparo e a posologia. As 46 plantas documentadas na pesquisa crescem em vários ambientes: perto das casas, dentro da floresta, em terra firme ou em igapós, e em terrenos baixos, próximos aos rios e frequentemente inundados. De todas as plantas citadas, sete tiveram um alto consenso de uso contra a malária. Cinco delas já eram conhecidas da ciência por suas propriedades antimaláricas. Uma questão suscitada pelas respostas dos índios intrigou a pesquisadora: eles dizem que alguns remédios não servem para todas as pessoas. Cabe aos bioquímicos, farmacologistas e à indústria farmacêutica a tarefa de verificar se as plantas têm de fato emprego no combate à malária e se é possível extrair delas princípios ativos que resultem em novos medicamentos. Leia a reportagem completa de Peter Moon no site da Agência Fapesp Acesse o artigo de Carolina Kffuri, Moisés Ahkáutó Lopes e outros, Antimalarial plants used by indigenous people of the Upper Rio Negro in Amazonas, Brazil, publicado no Journal of Ethnopharmacology Leia em História, Ciências, Saúde – Manguinhos: Malária como doença e perspectiva cultural nas viagens de Carlos Chagas e Mário de Andrade à Amazônia, artigo de Nisia Trindade Lima (v.20, n.3, jul.-set 2013) As representações da malária na obra de João Guimarães Rosa, Lacerda-Queiroz, Norinne, Queiroz Sobrinho, Antônio and Teixeira, Antônio Lúcio (jun 2012, vol.19, no.2). Dossiê Malária (abr.-jun. 2011) Malaria epidemics in Europe after the First World War: the early stages of an international approach to the control of the disease, Gachelin, Gabriel and Opinel, Annick (jun 2011, vol.18, no.2) O medo do sertão: a malária e a Comissão Rondon (1907-1915), Caser, Arthur Torres and Sá, Dominichi Miranda (jun 2011, vol.18, no.2) Um método chamado Pinotti: sal medicamentoso, malária e saúde internacional (1952-1960), Silva, Renato da and Hochman, Gilberto (jun 2011, vol.18, no.2) Ferrovias, doenças e medicina tropical no Brasil da Primeira República, Benchimol, Jaime Larry and Silva, André Felipe Cândido da (set 2008, vol.15, no.3) A malária em foto: imagens de campanhas e ações no Brasil da primeira metade do século XX, Hochman, Gilberto, Mello, Maria Teresa Bandeira de and Santos, Paulo Roberto Elian dos (2002, vol.9) Leia no blog de HCS-Manguinhos: Malária, maleita, doença e desejo Nisia Trindade Lima e André Botelho discutem as visões do médico Carlos Chagas e do poeta Mario de Andrade sobre a moléstia. ‘Sal Pinotti’ contra malária na Amazônia No workshop sobre doenças tropicais realizado na Fiocruz, Rômulo de Paula Andrade abordou a estratégia na Amazônia nos anos 1950 e Elis Regina Corrêa Vieira falou sobre o papel da imprensa paraense no surto de 1917. Leia também: Malaria and quinine resistance: a medical scientific issue between Brazil and Germany (1907–1919), Da Silva AFC, Benchimol JL: . Med Hist 2014, 58:1–26.