Fevereiro/2017
Publicado no número especial sobre eugenia de HCS-Manguinhos, o artigo O autoritarismo e eugenia punitiva: higiene racial e nacional-catolicismo em Franco (1936-1945), de Ricardo Campos, do Instituto de História/CSIC, Espanha, discute alguns dos elementos que moldaram a eugenia nos primeiros anos da ditadura de Franco na Espanha.
O autor mostra como a forte influência do catolicismo na formação do estado franquista, o estado nacional-católico, e no discurso eugênico levou a uma eugenia ambiental. No entanto, apesar de rejeitar a chamada eugenia negativa ligada ao neo-malthusianismo, a esterilização, a contracepção e o aborto, a eugenia promovida pelo franquismo teve um caráter punitivo e coercitivo que afetou o terreno da moral e dos costumes, formando parte da repressão do inimigo político que o “Estado Novo” iniciou.
Neste sentido, o artigo analisa os detalhes do discurso eugênico fortemente ambientalista de Franco, baseado na ideia racial da hispanidade – raça entendida como uma comunidade espiritual e cultural, e não como um fenômeno biológico – e aborda discussões com alguns setores minoritários abertamente biologicistas e contrários ao conceito de hispanidade abordados.
As propostas sociobiológicas de Nágera Antonio Vallejo e sua tentativa de criar uma sociedade dirigida por “selecionados”, bem como suas justificativas científicas para a segregação do inimigo político – marxistas e republicanos – também são estudadas. Finalmente, discute-se a influência da encíclica papal Casti Connubii no debate sobre se deve-se ou não implementar o aconselhamento pré-marital obrigatório.
Em suma, o trabalho mostra como a natureza repressiva do regime de Franco favoreceu o desenvolvimento de um discurso coercitivo eugênico com um forte conteúdo de higiene racial, que teve entre seus objetivos redefinir a anormalidade como uma característica própria do inimigo político. Neste sentido, a eugenia de Franco, apesar de sua marca católica principalmente entre 1936 e 1950, foi uma eugenia punitiva em que a higiene da raça alcançou um elevado grau de crueldade, sem no entanto que se aplicassem medidas eugênicas negativas.
O autoritarismo e eugenia punitiva: higiene racial e nacional-catolicismo em Franco (1936-1945), artigo de Ricardo Campos (vol.23, supl.1, dez/2016).
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