Doença fantasma ou endemia de estimação? A emergência da dengue como desafio para a virologia

Agosto/2022

Nos anos 1970, uma nova e desafiadora arbovirose ocupou as bancadas e os cérebros nos laboratórios do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Até os anos 1950, estudos sobre febre amarela, poliomielite e gripe preenchiam o pequeno espaço destinado aos estudos sobre vírus no instituto. Já nas décadas seguintes, a dengue ajudou a consolidar as pesquisas com vírus e arboviroses no IOC e levou à estruturação de um núcleo de cientistas de destaque, como Hermann Schatzmayr, Ortrud Monika Barth e Rita Maria Ribeiro Nogueira, selando a permanência dos estudos em virologia na instituição. 

Virologistas do IOC no fim da década de 1970: equipe foi pioneira no estudo da dengue

No artigo Emergência da dengue como desafio virológico: de doença-fantasma à endemia “de estimação”, 1986-1987, publicado na revista HCS-Manguinhos (v. 29, n. 2, abr-jun/2022), Jorge Tibilletti de Lara, doutorando em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS/COC/Fiocruz), analisa como a dengue se apresentou como desafio virológico na década de 1980. Resultado de sua dissertação de mestrado  em História das Ciências e da Saúde, defendida na Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) em março de 2020, o artigo busca entender o papel dos estudos virológicos na compreensão da doença e a construção de uma expertise em arboviroses.

O autor analisou os principais impactos da doença naquele núcleo de pesquisas, na carreira dos cientistas, na incorporação de novas técnicas laboratoriais para o estudo dos vírus e, em especial, das arboviroses, e no modo como a virologia se inseria frente aos novos problemas da esfera da saúde pública. O trabalho também buscou trazer novas fontes à historiografia, apresentando algumas novidades e possibilidades analíticas, sobretudo buscando enfatizar o papel dos vírus e da virologia nas discussões sobre doença e saúde pública.

O processo analisado no artigo ajuda a explicar a rápida e consistente resposta dos virologistas da Fiocruz às crises de saúde pública mais recentes, como nos casos da zika, da chikungunya e da covid-19. “A transição da ideia de dengue, de doença fantasma à doença de estimação, é um bom exemplo disso, devido ao importante papel da ciência dos vírus nesse processo”, afirma Tibilletti de Lara.

Leia na revista HCS-Manguinhos:

Emergência da dengue como desafio virológico: de doença-fantasma à endemia “de estimação”, 1986-1987, artigo de Jorge Tibilletti de Lara (HCS-Manguinhos, v. 29, n. 2, abr-jun/2022)