Fevereiro/2013
O tétano foi uma das doenças mais mortais do período inicial do Brasil nação, tendo vitimado principalmente escravos e recém-nascidos. Vivendo em péssimas condições de higiene, os escravos eram contaminados (saber-se-ia depois) pela bactéria Clostridium tetani através das feridas adquiridas no trabalho braçal e nos castigos que sofriam; já os recém-nascidos eram vitimados por infecções decorrentes do corte do cordão umbilical sem os cuidados mais tarde considerados necessários.
Mas não foram só as campanhas de promoção de melhores condições de higiene conduzidas pelas autoridades sanitárias que levaram ao declínio da doença no país a partir da segunda metade do século XIX. Antes de os médicos esclarecerem que feridas abertas e umbigos recém-cortados deveriam ser mantidos limpos para evitar o contato com germes, a doença já havia começado a declinar no país. E a redução de mortes por tétano, principalmente entre crianças, teve impacto significativo no crescimento da população brasileira no início do século XX.
Para investigar esse mistério, Ian Read, professor de Estudos Latino-americanos da Universidade de Soka, Califórnia, pesquisou fontes arquivísticas do Império e do início da República e descobriu que mudanças demográficas e tecnológicas indiretas tiveram mais importância no declínio do tétano no Brasil.
Ao se mudarem de fazendas para locais mais povoados, as pessoas tinham menos contato com o solo e material orgânico. Não que as cidades fossem lugares limpos – havia montanhas de excremento nas ruas – mas havia menos terra e animais domesticados. A mecanização do campo também pode ter contribuído para a contenção do tétano: com menos arados com tração animal, reduzia-se o contato direto com a sujeira.
Outro aspecto é ligado à moda: por volta de 1860, jaquetas e casacos longos tornaram-se populares, assim como o uso de sapatos entre escravos.
Finalmente, não pode ser descartada a possibilidade de mudanças ambientais e biológicas que levaram à diminuição da presença do C. tetani no ambiente ou alteraram sua virulência em humanos.
Leia entrevista com Ian Read no blog de HCS-Manguinhos em inglês
Leia o artigo “A triumphant decline? Tetanus among slaves and freeborn in Brazil” (Um declínio triunfante? Tétano entre escravos e livres no Brasil).
Saiba mais:
Como viviam e morriam os escravos no Brasil?
Treze artigos inéditos do suplemento Saúde e Escravidão da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos revelam como viviam, adoeciam, eram curados ou morriam os escravos e libertos.