De Moçambique ao Rio, escravizados experimentavam métodos de variolização

Setembro/2024

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Estudos no tema “Escravidão e Saúde” têm despertado o interesse de historiadores da ciência e da saúde. Na Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, diversos projetos vêm sendo realizados neste campo, como os coordenados pela pesquisadora e professora Tânia Salgado Pimenta, que assina, com Gutiele Gonçalves dos Santos, o capítulo “Variolização e vacinação no contexto do tráfico de escravizados entre Moçambique e Rio de Janeiro entre finais do século XVIII e início do século XIX“, publicado no livro Esclavitud, escravidão: negros e indígenas na ibero-américa (Séc. XVII – Séc XIX), lançado em julho de 2024 pela Editora da Universidade Federal do Piauí (EDUFPI).

O capítulo traz parte dos resultados parciais da pesquisa de doutoramento de Gutiele no PPGHCS/COC/Fiocruz, intitulada “Em benefício da saúde pública de seus vassalos”: a prática da inoculação de bexigas no Brasil – (1799-1811). 

“Pretendemos mostrar como questões envolvendo doenças, epidemias e os esforços para evitá-las e controlá-las constituíam parte importante das discussões sobre o tráfico atlântico de africanos escravizados. Focamos a atenção nas ações em torno da varíola e na introdução dos métodos de variolização e de vacinação, em especial, no contexto do tráfico de Moçambique para o Rio de Janeiro na última década do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX”, explicam as autoras.

O capítulo também aborda a participação de médicos e cirurgiões como autoridades de saúde pública ou responsáveis pela assistência aos africanos escravizados doentes, que usavam os corpos para o aprendizado e o desenvolvimento de conhecimento médico e sugeriam ações de saúde pública a serem tomadas.

“Interessa-nos contribuir para a análise das ações voltadas para controle de doenças e epidemias, a participação de médicos nessas ações de introdução da variolização e da vacinação, da inserção de africanos orientais na sociedade brasileira e na participação dos debates acerca do tráfico, sobretudo, no Rio de Janeiro entre finais do Setecentos e início do Oitocentos”, escrevem.

As autoras consideramos que os resultados dos estudos neste campo podem ajudar a uma melhor compreensão de processos históricos que relacionam tráfico atlântico, escravidão, condições de vida, adoecimento e morte de escravizados.

Conheça o suplemento de História, Ciências, Saúde – Manguinhos Como viviam e morriam os escravos no Brasil? (v. 19, supl. 1, dez/2012) e leia mais sobre saúde e escravidão.