Março/2017
Fenômenos como a tensão pré-menstrual (TPM) ou as transformações da menopausa têm sido usados como explicação para comportamentos e alimentado uma grande indústria de tratamento dos “problemas femininos”. A ideia de que os hormônios determinam tudo, até nossa inteligência e o comportamento frente ao sexo oposto, parece ganhar cada vez mais adeptos. Fala-se até em inteligência hormonal.
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Até a passagem para o século XX, a culpa era dos ovários. Prevalecia uma ideia de excesso relacionada à sexualidade feminina ou à própria concepção de feminilidade, marcadamente manifesta pelos vários ciclos femininos. Hoje, ao contrário, aponta-se para a “falta de hormônios” quando se fala em carência ou ausência de feminilidade, expressa de várias formas, do desejo sexual à capacidade de procriar. Acompanhando esse movimento, os tratamentos propostos também se alteraram. Em troca da extração dos ovários potencialmente perigosos, passou-se a se pregar a reposição das substâncias por eles secretadas, para a recuperação do equilíbrio físico e mental da mulher.
O artigo
O império dos hormônios e a construção da diferença entre os sexos, publicado em
HCS-Manguinhos (v.15, supl.0, 2008), demonstra como esses poderosos mensageiros químicos ajudaram a configurar a passagem entre uma lógica do excesso que envolvia o sexo até o final do século XIX, para o imperativo da falta, predominante desde meados do século XX. “Saímos de uma lógica do excesso a ser coibido para uma lógica da falta que precisava ser suprida – perspectiva que permanece ainda hoje governando as ideias sobre as diferenças entre os gêneros e especialmente sobre a sexualidade de homens e mulheres”, afirma Fabíola Rohden, autora do artigo. No texto, ela discute algumas facetas da gênese dessas ideias e o porquê de seu grande apelo.
Leia em HCS-Manguinhos:
O império dos hormônios e a construção da diferença entre os sexos, artigo de Fabíola Rohden (v.15, supl.0, 2008).
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