Conselho Deliberativo da Fiocruz lança nota em apoio ao Programa Mais Médicos
Reunidos nos dias 29 e 30/8, na Residência Oficial, no Campus de Manguinhos, os integrantes do Conselho Deliberativo da Fiocruz divulgaram uma nota de apoio ao Programa Mais Médicos, do Ministério da Saúde. O texto afirma que, ao criar alternativas para atrair profissionais médicos – brasileiros formados no Brasil ou no exterior e estrangeiros – para atuar na atenção básica à saúde da população em centenas de municípios onde há vazios de assistência, o programa busca a efetivação dos princípios do Sistema Único de Saúde.
O documento lembra que essa política é voltada para atender locais onde a relação médico/habitante é crítica ou inexistente, abaixo dos critérios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 1,8 médicos por 1.000 habitantes. O Conselho Deliberativo lembra o histórico da Fundação, “sempre presente com o movimento dos médicos, dos profissionais de saúde em geral, com diversas organizações da sociedade civil” e lamenta a “postura estreita, preconceituosa e insensível como algumas entidades médicas se apresentam contra o programa Mais Médicos”. Na avaliação do CD, essas reações “estão longe de representar as mais caras tradições humanistas e de serviço à população da categoria médica”.
Nota CD Fiocruz em apoio ao Programa Mais Médicos
O Conselho Deliberativo da Fiocruz, reunido em 30 de agosto 2013, manifesta seu firme apoio ao programa Mais Médicos do Ministério da Saúde. O programa criou a alternativa para atrair profissionais médicos, brasileiros formados no Brasil ou no exterior e também estrangeiros, para atuarem na atenção básica à saúde da população de centenas de municípios do interior e das periferias das grandes cidades. Essa política visa atender lugares onde a relação médico/ habitante é extremamente crítica ou mesmo inexistente, pelos critérios da OMS, muito abaixo da equação 1,8 médicos/1.000 habitantes, existente no Brasil, que por si já é de grande carência comparada com outros países.
Superar esses vazios de assistência à saúde da população brasileira, onde quer que ela esteja, é decisivo para a efetivação dos princípios do SUS que buscam garantir a equidade, a universalidade e a integralidade da atenção, bem como a aplicação do preceito constitucional de que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Há disparidades enormes na distribuição de médicos no nosso imenso território. Somente sete estados têm índice igual ou superior ao do Brasil; mais de 1.900 municípios têm menos de um médico para cada três mil habitantes na atenção básica.
Não há dúvida que a falta de médicos e a má distribuição desses profissionais no país não são o único grande impasse para a consolidação do SUS. Temos graves problemas com o subfinanciamento e com a infraestrutura do sistema, além da imperiosa necessidade de um plano nacional de cargos e salários para os trabalhadores do SUS, do enfrentamento constante com os interesses que tratam de submeter o SUS aos ditames do mercado de consumo, incompatíveis com o desenvolvimento do país.
É preciso reconhecer, entretanto, o grande esforço que o governo federal vem fazendo para disponibilizar recursos para os municípios e os estados para a aquisição de equipamentos, modernização e reforma de unidades de saúde. Além disso, estão sendo encaminhadas propostas e medidas para o aprimoramento da formação médica em melhor sintonia com a grande importância que tem a atenção básica de saúde para a população brasileira.
Nesse sentido, não é justa a interpretação de algumas entidades médicas e de certos setores da mídia de que as medidas implementadas para atender a demanda da população, expressa nas ruas por uma atenção de saúde de qualidade, se resumem ao programa Mais Médicos.
A Fiocruz esteve sempre presente junto com os movimentos dos médicos, dos profissionais de saúde em geral, com diversas organizações da sociedade civil, nas ruas, nas conferências nacionais de saúde, na Constituinte, no parlamento e nos espaços acadêmicos participando na conformação e consolidação do SUS, na democratização do acesso à saúde. Por isso, nos causa estranheza a postura estreita, preconceituosa e insensível como algumas entidades médicas se apresentam contra o programa Mais Médicos.
Acreditamos que essa postura está longe de representar as mais caras tradições humanistas e de serviço à população da categoria médica, expressas em diferentes momentos da vida nacional e historicamente sintonizadas com os movimentos sociais. Conclamamos essas entidades à reflexão e ao diálogo construtivos em benefício dos mais altos interesses do povo brasileiro, para que, assim, possamos garantir efetiva assistência de saúde a milhões de brasileiros.
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