Como famílias interagem numa exposição sobre amor e perdão?

Dezembro/2025

Detalhe da exposição Ciencia del amor y del Perdón (Maloka, Bogotá, Colômbia)

Detalhe da exposição Ciencia del amor y del Perdón (Maloka, Bogotá, Colômbia)

A ira nos devora? A tristeza nos aproxima? A indignação nos transforma? O medo é antigo e a alegria saborosa? Questões sobre emoções, com direito à simulação de sensações, conduzem a exposição “Ciencia del amor y del perdón”, do Maloka, museu de ciências em Bogotá, Colômbia. Inaugurada em 2019, a exposição apresenta emoções sob perspectivas neurocientíficas e das ciências humanas e explora ferramentas da psicologia para o perdão.

Há três anos, em dezembro de 2022, pesquisadores do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia, da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e do Maloka analisaram dez famílias com crianças que visitaram exposição neste seu momento de lazer e reflexão. As visitas foram gravadas por meio de uma câmera GoPro colocada na cabeça ou no peito de uma das crianças de cada grupo. Os dados foram analisados por meio do software Dedoose, com base em protocolo de análise do grupo de pesquisa.

As conclusões do estudo estão no artigo Interações e conversas em visitas de famílias à exposição “Ciencia del amor y del perdón”, no Maloka, em Bogotá, Colômbia, de Alice Ribeiro, Juliana Araujo, Luisa Massarani, Rafael Velloso Luz, Grazielle Scalfi e Sigrid Falla, publicado na revista História, Ciência, Saúde – Manguinhos (v. 32, 2025).

Sensações e emoções do outro para experimentar empatia e perdão

Na primeira parte da exposição, estações abordam desde as emoções dos animais como um processo evolutivo até as emoções básicas, como ira, medo, tristeza, alegria e indignação. Atividades interativas evocam a sensação da emoção abordada, e um painel traz a explicação neuroquímica a emoção provocada.

A segunda parte aborda a empatia, e os visitantes são estimulados a se colocarem no lugar dos outros, expondo casos de discriminação, abuso ou escassez de recursos, alguns devido ao conflito armado, e como as pessoas, com apoio e solidariedade, conseguem superar desafios. Em outra atividade, o tema é o assédio escolar (bullying). O módulo convida os visitantes a se sentarem “na carteira do outro”, evocando as sensações tidas por uma pessoa em situação de bullying. Painéis abordam possíveis indícios de que o assédio ou bullying escolar está ocorrendo e suas possíveis consequências, e expõem números de telefone para denúncia/auxílio. Esta parte aborda ainda os processos do perdão e o “poder” do abraço, tanto em ursos de pelúcias como uns aos outros, estimulando a empatia na aproximação com o outro.

Por fim, uma roleta de perguntas desafia o visitante a realizar tarefas e refletir sobre as emoções abordadas na exposição.

Os autores contam que as visitas foram marcadas por interações frequentes e longas sobre a temática da exposição tanto no âmbito da família ou entre seus membros e os educadores. Por meio das indagações feitas pelos educadores e dos aparatos interativos que estimulavam a reflexão e a tomada de decisão, o público era convidado a interagir manualmente e mentalmente, refletindo sobre as emoções abordadas e o modo como os visitantes as vivenciam.

Para os pesquisadores, dois fatores foram importantes para a promoção da interatividade mental das crianças com a exposição: a proposta expográfica e a mediação dos adultos – educadores e familiares. Segundo eles, o estudo contribui para a compreensão das visitas familiares a museus como experiências de interação social, reforça a relevância do papel dos educadores e evidencia a importância do investimento em aparatos interativos capazes de promover a reflexão e a interatividade em sentido amplo nos museus.

O interesse dos pesquisadores na exposição relaciona-se ao fato dela se inserir em um momento colombiano socialmente importante, marcado pela polarização ideológica diante da assinatura de um acordo de paz entre o governo e o grupo guerrilheiro Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia – Ejército del Pueblo (Farc-EP). Os autores observaram que o museu Maloka busca estar atento às questões sociais de seu território, abordando-as, nas suas exposições, de forma transversal.

Leia na revista História, Ciência, Saúde – Manguinhos:

Interações e conversas em visitas de famílias à exposição “Ciencia del amor y del perdón”, no Maloka, em Bogotá, Colômbia, artigo de Alice Ribeiro, Juliana Araujo, Luisa Massarani, Rafael Velloso Luz, Grazielle Scalfi e Sigrid Falla (História, Ciência, Saúde – Manguinhos, v. 32, 2025)

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