Julho/2016
Em 1855, aportou em Belém, vindo da cidade portuguesa do Porto, o navio Defensor, trazendo consigo o cólera-morbo.
Caracterizada por uma diarreia aguda, a doença matava rapidamente, após um processo de desidratação e perda de peso que conferia aos pacientes uma aparência esquelética, com olhos afundados e cor da pele azulada.
A intensificação do comércio marítimo espalhara o cólera-morbo, originário da Índia, por quase todo o globo. Em poucos meses, havia doentes em todas as províncias do Norte e Nordeste do Brasil, e também no Rio de Janeiro, capital do Império.
O Conselho de Salubridade Pública buscava identificar os doentes, providenciar quarentena aos suspeitos de contaminação e realizar a desinfecção dos navios e de todo tipo de material com os quais as tripulações tivessem tido contato, como alimentos, roupas e objetos. Também era preciso sanar os problemas de insalubridade das cidades. Entre as medidas preventivas estavam o aterro dos pântanos, a limpeza, desinfecção e ordenação do espaço urbano e a educação do povo.
O agente patogênico do cólera-morbo, seus princípios de comunicação e terapêuticas eficazes eram ignorados. No artigo Um imenso campo mórbido: controvérsias médico-científicas sobre a epidemia de cólera-morbo de 1855, publicado na edição atual de HCS-Manguinhos (vol.23 no.2 Rio de Janeiro abr./jun. 2016), Luciana dos Santos, professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, examina a epidemia que atingiu a província de Pernambuco em 1855, focalizando as controvérsias médico-científicas que giraram em torno da definição dos princípios de comunicação da moléstia e dividiram as opiniões médicas entre duas concepções distintas: o contágio e a infecção.
São analisados documentos e relatórios produzidos pela Sociedade de Medicina de Pernambuco e pelo Conselho Geral de Salubridade Pública que permitem descrever o programa médico-sanitário oficial formado por engenheiros, cientistas e médicos com o objetivo de construir um projeto de cidade salubre – modelo de civilização que integra a remodelação do espaço urbano e a disseminação de novos hábitos entre a população.
Leia em HCS-Manguinhos:
Um imenso campo mórbido: controvérsias médico-científicas sobre a epidemia de cólera-morbo de 1855, artigo de Luciana dos Santos (vol.23 no.2 Rio de Janeiro abr./jun. 2016)
E ainda:
Rebelo, Fernanda. Entre o Carlo R. e o Orleannais: a saúde pública e a profilaxia marítima no relato de dois casos de navios de imigrantes no porto do Rio de Janeiro, 1893-1907. Set 2013, vol.20, no.3 texto em português
Farias, Rosilene Gomes. Pai Manoel, o curandeiro africano, e a medicina no Pernambuco imperial. Dez 2012, vol.19, suppl.1 texto em português
Kodama, Kaori et al. Mortalidade escrava durante a epidemia de cólera no Rio de Janeiro (1855-1856): uma análise preliminar. Dez 2012, vol.19, suppl.1 texto em português
Pemberton, Rita. Dirt, disease and death: control, resistance and change in the post-emancipation Caribbean. Dec 2012, vol.19, suppl.1 texto em inglês
Almeida, Maria Antónia Pires de. As epidemias nas notícias em Portugal: cólera, peste, tifo, gripe e varíola, 1854-1918. Jun 2014, vol.21, no.2 texto em português
Nunes, Everardo Duarte. Henry Mayhew: jornalista, investigador social e precursor da pesquisa qualitativa. Set 2012, vol.19, no.3 texto em português
Almeida, Maria Antónia Pires de. A epidemia de cólera de 1853-1856 na imprensa portuguesa. Dez 2011, vol.18, no.4 texto em português
Beltrão, Jane Felipe. Memórias da cólera no Pará (1855 e 1991): tragédias se repetem?.Dez 2007, vol.14 texto em português
Carbonetti, Adrián and Rodríguez, María Laura Las epidemias de cólera en Córdoba a través del periodismo: la oferta de productos preservativos y curativos durante la epidemia de 1867-1868. Jun 2007, vol.14, no.2 texto em espanhol
Bertolli Filho, Claudio. Cólera: um retrato permanente. Dez 2004, vol.11, no.3 texto em português
Sanjad, Nelson. Cólera e medicina ambiental no manuscrito ‘Cholera-morbus’ (1832), de Antonio Correa de Lacerda (1777-1852). Dez 2004, vol.11, no.3 texto em português
Beltrão, Jane Felipe. A arte de curar dos profissionais de saúde popular em tempo de cólera: Grão-Pará do século XIX. Set 2000, vol.6 texto em português
Como citar este post:
Cólera-morbo: contágio ou infecção?. Blog de HCS-Manguinhos. [viewed 28 July 2016]. Available from: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/colera-morbo-contagio-ou-infeccao/