Cólera-morbo: contágio ou infecção?

Julho/2016

Um caso real de cólera. Publicado por G. Tregear, 1832, Londres.

Um caso real de cólera. Publicado por G. Tregear, 1832, Londres.

Em 1855, aportou em Belém, vindo da cidade portuguesa do Porto, o navio Defensor, trazendo consigo o cólera-morbo.

Caracterizada por uma diarreia aguda, a doença matava rapidamente, após um processo de desidratação e perda de peso que conferia aos pacientes uma aparência esquelética, com olhos afundados e cor da pele azulada.

A intensificação do comércio marítimo espalhara o cólera-morbo, originário da Índia, por quase todo o globo. Em poucos meses, havia doentes em todas as províncias do Norte e Nordeste do Brasil, e também no Rio de Janeiro, capital do Império.

O Conselho de Salubridade Pública buscava identificar os doentes, providenciar quarentena aos suspeitos de contaminação e realizar a desinfecção dos navios e de todo tipo de material com os quais as tripulações tivessem tido contato, como alimentos, roupas e objetos. Também era preciso sanar os problemas de insalubridade das cidades. Entre as medidas preventivas estavam o aterro dos pântanos, a limpeza, desinfecção e ordenação do espaço urbano e a educação do povo.

O agente patogênico do cólera-morbo, seus princípios de comunicação e terapêuticas eficazes eram ignorados. No artigo Um imenso campo mórbido: controvérsias médico-científicas sobre a epidemia de cólera-morbo de 1855, publicado na edição atual de HCS-Manguinhos (vol.23 no.2 Rio de Janeiro abr./jun. 2016), Luciana dos Santos, professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, examina a epidemia que atingiu a província de Pernambuco em 1855, focalizando as controvérsias médico-científicas que giraram em torno da definição dos princípios de comunicação da moléstia e dividiram as opiniões médicas entre duas concepções distintas: o contágio e a infecção.

São analisados documentos e relatórios produzidos pela Sociedade de Medicina de Pernambuco e pelo Conselho Geral de Salubridade Pública que permitem descrever o programa médico-sanitário oficial formado por engenheiros, cientistas e médicos com o objetivo de construir um projeto de cidade salubre – modelo de civilização que integra a remodelação do espaço urbano e a disseminação de novos hábitos entre a população.

Leia em HCS-Manguinhos:

Um imenso campo mórbido: controvérsias médico-científicas sobre a epidemia de cólera-morbo de 1855, artigo de Luciana dos Santos (vol.23 no.2 Rio de Janeiro abr./jun. 2016)

E ainda:

Rebelo, Fernanda. Entre o Carlo R. e o Orleannais: a saúde pública e a profilaxia marítima no relato de dois casos de navios de imigrantes no porto do Rio de Janeiro, 1893-1907. Set 2013, vol.20, no.3  texto em português

Farias, Rosilene Gomes. Pai Manoel, o curandeiro africano, e a medicina no Pernambuco imperial. Dez 2012, vol.19, suppl.1 texto em português

Kodama, Kaori et al. Mortalidade escrava durante a epidemia de cólera no Rio de Janeiro (1855-1856): uma análise preliminar. Dez 2012, vol.19, suppl.1 texto em português

Pemberton, Rita. Dirt, disease and death: control, resistance and change in the post-emancipation Caribbean. Dec 2012, vol.19, suppl.1 texto em inglês

Almeida, Maria Antónia Pires de. As epidemias nas notícias em Portugal: cólera, peste, tifo, gripe e varíola, 1854-1918. Jun 2014, vol.21, no.2 texto em português

Nunes, Everardo Duarte. Henry Mayhew: jornalista, investigador social e precursor da pesquisa qualitativa. Set 2012, vol.19, no.3 texto em português

Almeida, Maria Antónia Pires de. A epidemia de cólera de 1853-1856 na imprensa portuguesa. Dez 2011, vol.18, no.4 texto em português

Beltrão, Jane Felipe. Memórias da cólera no Pará (1855 e 1991): tragédias se repetem?.Dez 2007, vol.14 texto em português

Carbonetti, Adrián and Rodríguez, María Laura Las epidemias de cólera en Córdoba a través del periodismo: la oferta de productos preservativos y curativos durante la epidemia de 1867-1868. Jun 2007, vol.14, no.2 texto em espanhol

Bertolli Filho, Claudio. Cólera: um retrato permanente. Dez 2004, vol.11, no.3 texto em português

Sanjad, Nelson. Cólera e medicina ambiental no manuscrito ‘Cholera-morbus’ (1832), de Antonio Correa de Lacerda (1777-1852). Dez 2004, vol.11, no.3 texto em português

Beltrão, Jane Felipe. A arte de curar dos profissionais de saúde popular em tempo de cólera: Grão-Pará do século XIX. Set 2000, vol.6 texto em português

Como citar este post:
Cólera-morbo: contágio ou infecção?. Blog de HCS-Manguinhos. [viewed 28 July 2016]. Available from: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/colera-morbo-contagio-ou-infeccao/