Artigo revela tratamento dado a escravos doentes por jesuítas

Novembro/2023

Província Jesuítica Paraguaia em 1732. Fonte: Wikimedia.

Apesar da crença de que escravos de ordens religiosas recebiam cuidados melhores se comparados aos escravos de particulares, na primeira metade do século XVIII os escravos dos jesuítas eram afetados por várias doenças, decorrentes de motivos diversos, e eram tratados nas propriedades da Companhia de Jesus. O artigo Sobre “os remédios e medicinas que se haviam dado a negros enfermos”: os gastos com a saúde e a morte de escravos do Ofício da Província Jesuítica do Paraguay, 1711-1745, publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 30, 2023), analisa o tratamento dado a escravos enfermos com base no Libro de cuentas del Ofício, Memoriales e Cartas ânuas. As fontes revelam que o adoecimento de escravos do Ofício gerava despesas tanto com a aquisição de medicamentos, roupas e alimentos, quanto com mortalhas para seu sepultamento.

Os autores – Eliane Cristina Deckmann Fleck, do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pelotas, RS, e Antonio Dari Ramos, da Faculdade Intercultural Indígena e Cátedra Unesco Gênero, Diversidade Cultural e Fronteiras e da Universidade Federal da Grande Dourados, MS – também analisaram casos de escravos da Estância de Santa Catalina. Estes, dependendo da enfermidade, eram encaminhados à cidade de Córdoba, onde eram tratados por leigos treinados nas artes de curar, implicando em despesas de outra natureza.

Segundo os pesquisadores, o estudo sugere que a jornada extenuante de trabalho dos escravos podia ser, ao lado das doenças comuns do período e da escassez alimentar, uma das razões para seu adoecimento.

Leia na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos:

Sobre “os remédios e medicinas que se haviam dado a negros enfermos”: os gastos com a saúde e a morte de escravos do Ofício da Província Jesuítica do Paraguay, 1711-1745, artigo de Eliane Cristina Deckmann Fleck e Antonio Dari Ramos (v. 30, 2023).

Leia também em HCS-Manguinhos:

Dossiê: Raça, Genética, Identidades e Saúde (v.12 n.2 maio/ago. 2005)

E ainda em HCS-Manguinhos:

Ilustre inominada: Lydia das Dôres Matta e enfermagem brasileira pós-1930, artigo de Paulo Fernando de Souza Campos e Alessandra Rosa Carrijo (HCS-Manguinhos v. 26, n.1, jan./mar. 2019)

O botânico George Gardner e suas impressões sobre a cultura escrava no Brasil: Rio de Janeiro, 1810-1850, artigo de José Carlos Barreiro (HCS-Manguinhos, vol 24, n. 3, set 2017)

As proposições de Antonio de Saldanha da Gama para a melhoria do tráfico de escravos, “por questões humanitárias e econômicas”, Rio de Janeiro, 1810, artigo de Ana Carolina de Carvalho Viotti, (HCS-Manguinhos, vol. 23, n. 4, dez 2016)

Fronteira, cana e tráfico: escravidão, doenças e mortes em Capivari, SP, 1821-1869, artigo de Carlos A. M. Lima (vol.22, no.3, jul./set. 2015)

Relatos de Luís Gomes Ferreira sobre a saúde dos escravos na obra Erário mineral (1735)artigo de Alisson Eugênio (vol.22, n.3, jul./set. 2015)

Apontamentos acerca da Cadeia do Ser e o lugar dos negros na filosofia natural na Europa setecentista, artigo de Christian Fausto Moraes dos Santos e Rafael Dias da Silva Campos (vol.21 no.4 out./dez. 2014)

Sobre escravos e genes: “origens” e “processos” nos estudos da genética sobre a população brasileira. Artigo de Elena Calvo-González (vol.21, no.4, dez 2014)

Uma morfologia dos quilombos nas Américas, séculos XVI-XIX, artigo de Manolo Florentino e Márcia Amantino (vol.19, supl.1, dez. 2012)

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Entre negros e miscigenados: a anemia e o traço falciforme no Brasil nas décadas de 1930 e 1940, artigo de Juliana Manzoni Cavalcanti e Marcos Chor Maio (v.18 n.2, abr/jun 2011)

‘Amas mercenárias’: o discurso dos doutores em medicina e os retratos de amas – Brasil, segunda metade do século XIX, artigo de Sandra Sofia Machado Koutsoukos (vol.16, no.2, jun 2009)

O suicídio de escravos em São Paulo nas últimas duas décadas da escravidão, artigo de Saulo Veiga Oliveira e Ana Maria Galdini Raimundo Oda (v.15 n.2 abr./jun. 2008)

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