Novembro/2023
Apesar da crença de que escravos de ordens religiosas recebiam cuidados melhores se comparados aos escravos de particulares, na primeira metade do século XVIII os escravos dos jesuítas eram afetados por várias doenças, decorrentes de motivos diversos, e eram tratados nas propriedades da Companhia de Jesus. O artigo Sobre “os remédios e medicinas que se haviam dado a negros enfermos”: os gastos com a saúde e a morte de escravos do Ofício da Província Jesuítica do Paraguay, 1711-1745, publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 30, 2023), analisa o tratamento dado a escravos enfermos com base no Libro de cuentas del Ofício, Memoriales e Cartas ânuas. As fontes revelam que o adoecimento de escravos do Ofício gerava despesas tanto com a aquisição de medicamentos, roupas e alimentos, quanto com mortalhas para seu sepultamento.
Os autores – Eliane Cristina Deckmann Fleck, do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pelotas, RS, e Antonio Dari Ramos, da Faculdade Intercultural Indígena e Cátedra Unesco Gênero, Diversidade Cultural e Fronteiras e da Universidade Federal da Grande Dourados, MS – também analisaram casos de escravos da Estância de Santa Catalina. Estes, dependendo da enfermidade, eram encaminhados à cidade de Córdoba, onde eram tratados por leigos treinados nas artes de curar, implicando em despesas de outra natureza.
Segundo os pesquisadores, o estudo sugere que a jornada extenuante de trabalho dos escravos podia ser, ao lado das doenças comuns do período e da escassez alimentar, uma das razões para seu adoecimento.
Leia na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos:
Sobre “os remédios e medicinas que se haviam dado a negros enfermos”: os gastos com a saúde e a morte de escravos do Ofício da Província Jesuítica do Paraguay, 1711-1745, artigo de Eliane Cristina Deckmann Fleck e Antonio Dari Ramos (v. 30, 2023).
Leia também em HCS-Manguinhos:
- Corpo, saúde e alimentação na Marinha de Guerra brasileira no período pós-abolição, 1890-1910, Almeida, Sílvia Capanema P. de
- Doenças, religião e medicina: a varíola no Benim, século XIX, Soumonni, Elisée
- Sujeira, doença e morte: controle, resistência e mudança no Caribe pós-emancipação, Pemberton, Rita
- Mortalidade escrava durante a epidemia de cólera no Rio de Janeiro (1855-1856): uma análise preliminar, Kodama, Kaori; Pimenta, Tânia Salgado; Bastos, Francisco Inácio; Bellido, Jaime Gregorio
- A demografia atlântica dos africanos no Rio de Janeiro, séculos XVII, XVIII e XIX: algumas configurações a partir dos registros eclesiásticos, Gomes, Flávio
- Um declínio triunfante?: Tétano entre escravos e livres no Brasil, Read, Ian
- Enfermidade e morte: os escravos na cidade de Pelotas, 1870-1880, Loner, Beatriz Ana; Gill, Lorena Almeida; Scheer, Micaele Irene
- Escravos no purgatório: o leprosário do Tucunduba (Pará, século XIX), Henrique, Márcio Couto
- Universos coloniais e ‘enfermidades dos negros’ pelos cirurgiões régios Dazille e Vieira de Carvalho Nogueira, André
- Perigosas amas de leite: aleitamento materno, ciência e escravidão em A Mãi de Familia, Carula, Karoline
- Pai Manoel, o curandeiro africano, e a medicina no Pernambuco imperial, Farias, Rosilene Gomes
- Escravos e cidadãos na Ilha Grande: a alvorada republicana demorou a chegar, Schnoor, Eduardo Cavalcanti
- Uma morfologia dos quilombos nas Américas, séculos XVI-XIX, Florentino, Manolo; Amantino, Márcia
Dossiê: Raça, Genética, Identidades e Saúde (v.12 n.2 maio/ago. 2005)
- Razões para banir o conceito de raça da medicina brasileira, Pena, Sérgio D. J.
- O significado da anemia falciforme no contexto da ‘política racial’ do governo brasileiro 1995-2004, Fry, Peter H.
- Raça, genética & hipertensão: nova genética ou velha eugenia? Josué, Laguardia
- Natureza humana criada em laboratório: biologização e genetização do parentesco nas novas tecnologias reprodutivas, Luna, Naara
- Tempos de racialização: o caso da ‘saúde da população negra’ no Brasil, Maio, Marcos Chor; Monteiro, Simone
- Antropologia, raça e os dilemas das identidades na era da genômica, Santos, Ricardo Ventura; Maio, Marcos Chor
E ainda em HCS-Manguinhos:
Ilustre inominada: Lydia das Dôres Matta e enfermagem brasileira pós-1930, artigo de Paulo Fernando de Souza Campos e Alessandra Rosa Carrijo (HCS-Manguinhos v. 26, n.1, jan./mar. 2019)
O botânico George Gardner e suas impressões sobre a cultura escrava no Brasil: Rio de Janeiro, 1810-1850, artigo de José Carlos Barreiro (HCS-Manguinhos, vol 24, n. 3, set 2017)
As proposições de Antonio de Saldanha da Gama para a melhoria do tráfico de escravos, “por questões humanitárias e econômicas”, Rio de Janeiro, 1810, artigo de Ana Carolina de Carvalho Viotti, (HCS-Manguinhos, vol. 23, n. 4, dez 2016)
Fronteira, cana e tráfico: escravidão, doenças e mortes em Capivari, SP, 1821-1869, artigo de Carlos A. M. Lima (vol.22, no.3, jul./set. 2015)
Relatos de Luís Gomes Ferreira sobre a saúde dos escravos na obra Erário mineral (1735), artigo de Alisson Eugênio (vol.22, n.3, jul./set. 2015)
Apontamentos acerca da Cadeia do Ser e o lugar dos negros na filosofia natural na Europa setecentista, artigo de Christian Fausto Moraes dos Santos e Rafael Dias da Silva Campos (vol.21 no.4 out./dez. 2014)
Sobre escravos e genes: “origens” e “processos” nos estudos da genética sobre a população brasileira. Artigo de Elena Calvo-González (vol.21, no.4, dez 2014)
Uma morfologia dos quilombos nas Américas, séculos XVI-XIX, artigo de Manolo Florentino e Márcia Amantino (vol.19, supl.1, dez. 2012)
Perigosas amas de leite: aleitamento materno, ciência e escravidão em A Mãi de Familia, artigo de Karoline Carula (vol.19, supl.1, dez. 2012)
Entre negros e miscigenados: a anemia e o traço falciforme no Brasil nas décadas de 1930 e 1940, artigo de Juliana Manzoni Cavalcanti e Marcos Chor Maio (v.18 n.2, abr/jun 2011)
‘Amas mercenárias’: o discurso dos doutores em medicina e os retratos de amas – Brasil, segunda metade do século XIX, artigo de Sandra Sofia Machado Koutsoukos (vol.16, no.2, jun 2009)
O suicídio de escravos em São Paulo nas últimas duas décadas da escravidão, artigo de Saulo Veiga Oliveira e Ana Maria Galdini Raimundo Oda (v.15 n.2 abr./jun. 2008)
Leia no Blog de HCS-Manguinhos:
Enfermagem dava mobilidade social a mulheres negras em meados do século XX
Projeto coordenado por Luiz Otávio Ferreira estudou 934 prontuários de três escolas num período de 40 anos
Escravidão, doença e morte ontem e hoje no Brasil
Em 13 de maio de 1888, a escravidão foi abolida, mas nem por isso acabou
Escravos, maiores vítimas de cólera
Registros de dois cemitérios públicos do Rio de Janeiro evidenciam o viés social do cólera. No pico da epidemia, entre 1855 e 1856, a mortalidade escrava foi bem maior do que a de pessoas livres
Declínio do tétano: mistério revelado
Doença que vitimava principalmente escravos e recém-nascidos já estava em declínio no Brasil antes das campanhas das autoridades sanitárias. O americano Ian Read investigou por quê
A história da África é vista com preconceito
Em entrevista à revista História Viva, Alberto da Costa e Silva, especialista brasileiro em história da África, diz temer que conhecimento sobre o continente fique limitado a um gueto
A herança escravista no trabalho doméstico
Livro investiga o trabalho doméstico no período entre 1880 e 1920, na cidade de São Paulo. A atividade preservou vestígios da escravidão que se mantiveram até os dias atuais
‘O x da questão não está na reação do jogador, mas no teor da campanha’
Para Clícea Maria Miranda, associação do negro com animalização e a irracionalidade está cristalizada
Macacos não jogam futebol
Ricardo Waizbort inocenta Darwin de acusações de racismo: ele defendia que todas as “raças” humanas faziam parte de uma mesma espécie e compartilhavam de um ancestral comum primata
Imagens da escravidão
Fotografias do acervo Instituto Moreira Salles
Lei que criminaliza o racismo completa 25 anos
Lei determina a pena de reclusão a quem tenha cometido atos de discriminação ou preconceito racial. Apesar da mudança na lei, os negros ainda enfrentam situação de discriminação no Brasil
Zona portuária carioca é o mais importante sítio arqueológico da diáspora africana no mundo
Durante as obras do Porto, em 2011, foi descoberto o sítio arqueológico do Cais da Imperatriz
Inventário dos lugares de memória do tráfico de escravos está online
Estudo é resultado de parceria entre o Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense e o Projeto ‘Rota dos Escravos’, da Unesco
“Brasil é um país de colonização mais africana do que europeia”, diz historiador
Segundo Luiz Felipe de Alencastro, o país recebeu quantidade de africanos oito vezes maior que portugueses até 1850
Historiadores traduzem única autobiografia escrita por ex-escravo que viveu no Brasil
Mahommah Gardo Baquaqua, nascido no Norte da África no início do século XIX, trabalhou no país antes de fugir em Nova York
Obra de 1735 revela mazelas dos escravos em Minas Gerais
Alisson Eugênio estudou o Erário Mineral, escrito por Luís Gomes Ferreira. Leia em HCS-Manguinhos