Abril/2015
Marina Lemle | Blog de HCS-Manguinhos
Apesar dos avanços na difusão de medidas preventivas, o câncer de colo do útero continua sendo um sério problema de saúde no Brasil. A persistência da doença, principalmente nas regiões mais pobres, é o tema do pesquisador Luiz Antonio Teixeira, da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, no artigo “Dos gabinetes de ginecologia às campanhas de rastreamento: a trajetória da prevenção ao câncer de colo do útero no Brasil”, publicado em HCS-Manguinhos (vol.22 no.1 jan./mar. 2015).
De acordo com Teixeira, as pessoas em situação de maior risco são as que têm menor acesso à educação, vivem em condições mais precárias e tem maior dificuldade para fazer uso regular do sistema de saúde. “Pesquisas mostram que a realização do exame Papanicolaou está relacionada ao número de anos de estudo. Mulheres com menos informação procuram menos o sistema de saúde e, em muitos casos, têm diversas resistências: não sabem para que serve o exame, acham que não é para câncer e têm medo”, conta.
Outro problema, segundo o pesquisador, é o controle de qualidade dos exames, que algumas vezes é falho no Brasil. Resultados falso-negativos colocam a saúde das mulheres em risco. Por isso, a orientação é fazer inicialmente dois exames no período de um ano e depois de três em três anos. Novas técnicas, como a de captura híbrida, podem identificar a presença do HPV no organismo rapidamente, mas ainda não estão disponíveis no sistema público brasileiro – o que ele acredita que mudará nos próximos anos.
Teixeira explica que hoje, quando a mulher procura o sistema de saúde para fazer o teste Papanicolaou – conhecido como “preventivo” – os médicos aproveitam para realizar outros exames ginecológicos importantes. Mas algumas recusam o procedimento, por ignorância e medo. Já outras se confundem com o próprio termo “preventivo” e, acreditando que o exame previne que contraiam doenças sexualmente transmissíveis, fazem sexo sem proteção.
O pesquisador afirma que é difícil mudar a situação só através da intensificação do uso da técnica, visto o problema ter como causa o desnível sócio-econômico-cultural. “São necessárias mudanças mais amplas, que não se limitam ao sistema de saúde. As pessoas precisam de inclusão social, educação e melhores condições de moradia, além de campanhas educativas”, defende.
Em junho, a Casa de Oswaldo Cruz lançará o livro “Câncer de mama e de colo de útero: conhecimentos, políticas e práticas”, uma coletânea de estudos que analisam os resultados das políticas implementadas em momentos diferentes para controlar os cânceres ginecológicos. Os artigos exploram aspectos históricos e atuais dos conhecimentos sobre a doença, as intervenções de saúde pública e as formas de as mulheres lidarem com essas intervenções.
Leia em HCS-Manguinhos:
Dos gabinetes de ginecologia às campanhas de rastreamento: a trajetória da prevenção ao câncer de colo do útero no Brasil, artigo de Luiz Antonio Teixeira (vol.22 no.1 jan./mar. 2015).
História do Câncer – atores, cenários e políticas públicas, entrevista com Luiz Antonio Teixeira, coordenador do projeto História do Câncer – Casa de Oswaldo Cruz
“Câncer no século XX: ciência, saúde e sociedade”, edição especial de HCS-Manguinhos (Vol. 17, supl. 1, jul. 2010)
Saiba mais:
Projeto História do Câncer – Casa de Oswaldo Cruz
Câncer: estudos sobre mitos, crenças e comportamentos permitem aprimorar intervenções – O oncologista Ronaldo Corrêa Ferreira da Silva defende a formação de grupos de pesquisa interdisciplinares nas instituições de saúde.
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Artigo discute persistência do câncer de colo de útero no Brasil. Blog de HCS-Manguinhos [viewed 13 April 2015]. Available from: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/artigo-discute-persistencia-do-cancer-de-colo-de-utero-no-brasil/