Fevereiro/2021
Fundado pelo ginecologista e político mineiro Clóvis Salgado em 1939 para o ensino prático da ginecologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, o Hospital de Ginecologia foi pioneiro na introdução das tecnologias de detecção do câncer do colo do útero naquele estado e na montagem de uma estrutura própria de atendimento e diagnóstico da doença no país.
No artigo A experiência mineira no controle do câncer do colo do útero em meados do século XX: o Hospital de Ginecologia de Belo Horizonte, publicado na atual edição de HCS-Manguinhos (v. 27, n. 4, out./dez. 2020), Vanessa Lana, professora do Departamento de História da Universidade Federal de Viçosa, discute a construção de políticas de diagnóstico e controle deste câncer no Brasil a partir da organização daquele hospital.
Na década de 1920, duas novas tecnologias de diagnóstico foram desenvolvidas: a citologia, pelo patologista George Nicholas Papanicolaou nos Estados Unidos, e a colposcopia, pelo ginecologista Hans Hinselmann, na Alemanha.
Segundo a pesquisadora, que é pós-doutora em História das Ciências pela Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, em meados do século XX a difusão de novas tecnologias para diagnóstico precoce fomentou o interesse da comunidade médica e a organização de espaços para detecção, tratamento e pesquisa, frente aos limites da medicina no tratamento do câncer. Uma rede de prevenção foi construída a partir de publicações especializadas, associações profissionais, iniciativas para formação de pessoal e intercâmbio científico, da qual fizeram parte o Hospital de Ginecologia, em Minas Gerais, o Instituto de Ginecologia da Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro e o Hospital Aristides Maltez, na Bahia.
“Estas instituições, com suas peculiaridades, se constituíram como espaços de controle da doença em suas regiões e de institucionalização de um modelo específico de ação que se afirmou no país até a década de 1970, tendo a colposcopia como principal método nas estratégias de controle”, afirma.
O Hospital de Ginecologia de Minas Gerais se tornou referência na difusão do uso do colposcópio na capital mineira, sendo a primeira técnica de diagnóstico, utilizada em conjunto com a citologia e a biópsia – o chamado “modelo triplo” para a detecção da doença. Todas as mulheres que buscassem os serviços, independente das queixas e sintomas apresentados, seriam assim examinadas. A análise sobre a instituição mineira apresentada no artigo possibilita a discussão sobre como o controle do câncer do colo do útero no Brasil se organizou e tornou-se objeto de estudo em espaços institucionais específicos.
Leia em HCS-Manguinhos:
A experiência mineira no controle do câncer do colo do útero em meados do século XX: o Hospital de Ginecologia de Belo Horizonte, artigo de Vanessa Lana (v. 27, n. 4, out./dez. 2020)
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