Artigo discute educação sanitária para professoras do Rio de Janeiro em 1929 e 1930

Outubro/2021

Distribuição do copo de leite na Escola Uruguai, 1929. Fonte: Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.

As precárias condições de higiene e salubridade, o acirramento da pobreza e o crescimento das doenças epidêmicas que assolavam os centros urbanos e as regiões rurais do Brasil nas primeiras décadas do século XX eram apontados por intelectuais e reformadores sociais como os principais males que afligiam e coibiam o progresso e a modernização do país.

A crença de que era preciso povoar o território brasileiro com ideias saudáveis fez parte do ideal que alinhavou as ações reformadoras e salvacionistas visando, por meio da educação e da higiene, construir uma consciência de saúde. Essa a consciência vinha acompanhada da ideia de que era preciso desenvolver ações e difundir valores associados à higiene e aos cuidados com o corpo, especialmente entre as camadas pobres.

Neste contexto, a escola passou a ser responsabilizada pela transmissão dos valores higiênicos necessários a construção da civilidade desejada, e a professora pelo cuidado e a educação da criança. No artigo intitulado “Lições para o professorado”: o curso Educação Sanitária (Higiene e Medicina Preventiva) e a formação da professora na cidade do Rio de Janeiro, 1929-1930 (HCS-Manguinhos, vol. 28, n. 3, jul-set/2021), a professora Sônia Camara, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), parte da premissa que a concepção que organizou o curso estava em consonância com os debates científicos e pedagógicos que instituíram a competência da ciência na administração e regulação do social.

A partir da analise de um farto repertório documental, composto por Programma Para os Jardins de Infâncias e as Escolas Primárias, exemplares do Boletim da Instrução Pública, o livro Educação Sanitária (Hygiene e Medicina Preventiva), a revista A Folha Médica e jornais comerciais, a autora buscou recompor os indícios que se enovelaram na construção de nexos que ajudaram a captar os possíveis efeitos das lições para o magistério primário das escolas da capital do país, bem como das concepções que pretendiam conformar um novo ethos profissional para as professoras primárias identificadas como “missionárias do projeto de civilidade”.

Pelotão de saúde em escovação de dentes na Escola Uruguai, 1929. Acervo do Museu da Imagem e do Som/RJ

“O curso procurou produzir um redimensionamento da atuação da professora e da escola em pelo menos três frentes: na formação do caráter nacional e patriótico, na adoção de uma obra de assistência social e na implantação do plano geral de educação que visava atuar sobre as novas gerações”, afirma a autora. Ela defende, ainda, que embora em vários momentos da pesquisa as fontes analisadas façam referência à ideia de “professorado” fazendo sucumbir o peso do gênero feminino do magistério primário, considera que este aspecto marcou definitivamente os temas e à ênfase atribuída às mulheres na função de professoras nas escolas primárias.

Leia em HCS-Manguinhos:

“Lições para o professorado”: o curso Educação Sanitária (Higiene e Medicina Preventiva) e a formação da professora na cidade do Rio de Janeiro, 1929-1930 , artigo de Sônia Camara (HCS-Manguinhos, vol. 28, n. 3, jul-set/2021)