Março/2021
Hoje é a Covid-19, mas terríveis epidemias não são novidade na história do Brasil. No século XIX, a febre amarela e a cólera foram as doenças que mais preocuparam o poder público e ocuparam o imaginário popular no país, mas várias outras manifestações febris vitimavam indivíduos em praticamente todos os extratos sociais.
As febres representavam um desafio extra à formação europeia de grande parte dos médicos da capital. No artigo Ardentes trópicos: febres e saúde pública no Brasil joanino, publicado em HCS-Manguinhos (v. 27, n. 3, jul./set. 2020), Ricardo Cabral de Freitas, pós-doutor pelo Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, analisa como as febres tropicais afetavam a vida social no Brasil do início do século XIX e os esforços para se construir um saber médico sobre elas.
Segundo o historiador, a partir da transferência da Corte para o Rio de Janeiro em 1808, a salubridade ganhou importância perante a administração local, e a Coroa tornou-se incentivadora direta de trabalhos científicos dedicados ao tema. Entre estes trabalhos, destacam-se as Reflexões sobre alguns dos meios propostos por mais conducentes para melhorar o clima da cidade do Rio de Janeiro, de Manuel Vieira da Silva, médico da Câmara Real, que descrevia as características do relevo, das temperaturas e da circulação de ar e seus efeitos sobre a saúde dos habitantes, e o Ensaio sobre as febres do Rio de Janeiro, de Francisco de Mello Franco, sobre as particularidades das febres encontradas na capital em comparação aos tipos mais comuns na Europa. Escrito há 200 anos, em 1821, o Ensaio foi publicado após o falecimento do autor, em 1829.
Freitas conta que o diagnóstico destas febres nem sempre era tarefa simples, em função do amplo conjunto de sintomas cuja identificação e terapêutica ainda estavam em intenso debate nos círculos médicos do Brasil e da Europa.
Leia em HCS-Manguinhos:
Ardentes trópicos: febres e saúde pública no Brasil joanino, artigo de Ricardo Cabral de Freitas (v. 27, n. 3, jul./set. 2020)
Baixe em PDF:
Reflexões sobre alguns dos meios propostos por mais conducentes para melhorar o clima da cidade do Rio de Janeiro, de Manuel Vieira da Silva, 1808. BNDigital do Brasil
Ensaio sobre as febres do Rio de Janeiro, de Francisco de Mello Franco, 1829. Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP
Leia no Blog de HCS-Manguinhos:
História e coronavírus
Veja o que já publicamos sobre a pandemia