Anpuh convida historiadores a responderem a artigos publicados no site da Fundação Palmares

Maio/2020

Em reação a artigos publicados no site da Fundação Palmares neste 13 de maio – data que marca a abolição da escravatura pela Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 1888 – a Associação Nacional de História emitiu a seguinte nota:

Fundação Palmares e os abusos da História

A Associação Nacional de História convida a todos e a todas os historiadores e historiadoras do país a responderem aos artigos vinculados na Fundação Palmares, em comemoração ao 13 de maio.

Destacamos aqui dois textos: o antropólogo Laércio Dias se esforça por defender a importância de comemorarmos a atuação da Princesa Isabel na assinatura da Lei Áurea, sem analisar o contexto social e político daquela decisão de 13 de maio de 1888.

O segundo artigo, assinado pela doutora em Linguistica pela UFF e pela Université de Paris Nanterre, supostamente “desconstrói” o mito Zumbi que, segundo a autora, havia se pautado na “mitologia racialista-marxista. A autora desconhece, portanto, a inovadora produção historiográfica sobre Zumbi e a fundamental importância da resistência negra no desmantelamento da abolição do cativeiro, que vai bem além do reducionismo do mito, tão enfatizado hoje pela extrema direita.

Em suma, em face à produção de uma história simplificadora, incompleta e muitas vezes apenas e tão somente inventada, a Associação Nacional de História convida a todos e a todas que se manifestem em relação a essas mensagens vinculadas pela fundação Palmares. Mais um dos tristes episódios de destruição da História, enquanto campo de saber crítico, embasado e ético. Nossas redes estão abertas às manifestacões da comunidade historiadora.

Usaremos a #13demaio e #abusosdahistória para reunir essas respostas.”

 

Sobre escravidão, leia em HCS-Manguinhos:

Fronteira, cana e tráfico: escravidão, doenças e mortes em Capivari, SP, 1821-1869, artigo de Carlos A. M. Lima (vol.22, no.3, jul./set. 2015)

Relatos de Luís Gomes Ferreira sobre a saúde dos escravos na obra Erário mineral (1735)artigo de Alisson Eugênio (vol.22, n.3, jul./set. 2015)

Sobre escravos e genes: “origens” e “processos” nos estudos da genética sobre a população brasileira. Artigo de Elena Calvo-González (vol.21, no.4, dez 2014)

Leia também em HCS-Manguinhos:

Dossiê: Raça, Genética, Identidades e Saúde (v.12 n.2 maio/ago. 2005)

Leia no Blog de HCS-Manguinhos:

Enfermagem dava mobilidade social a mulheres negras em meados do século XX
Projeto coordenado por Luiz Otávio Ferreira estudou 934 prontuários de três escolas num período de 40 anos

Escravidão, doença e morte ontem e hoje no Brasil
Em 13 de maio de 1888, a escravidão foi abolida, mas nem por isso acabou

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Registros de dois cemitérios públicos do Rio de Janeiro evidenciam o viés social do cólera. No pico da epidemia, entre 1855 e 1856, a mortalidade escrava foi bem maior do que a de pessoas livres

Declínio do tétano: mistério revelado
Doença que vitimava principalmente escravos e recém-nascidos já estava em declínio no Brasil antes das campanhas das autoridades sanitárias. O americano Ian Read investigou por quê

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Em entrevista à revista História Viva, Alberto da Costa e Silva, especialista brasileiro em história da África, diz temer que conhecimento sobre o continente fique limitado a um gueto

A herança escravista no trabalho doméstico
Livro investiga o trabalho doméstico no período entre 1880 e 1920, na cidade de São Paulo. A atividade preservou vestígios da escravidão que se mantiveram até os dias atuais

‘O x da questão não está na reação do jogador, mas no teor da campanha’
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Macacos não jogam futebol
Ricardo Waizbort inocenta Darwin de acusações de racismo: ele defendia que todas as “raças” humanas faziam parte de uma mesma espécie e compartilhavam de um ancestral comum primata

Imagens da escravidão
Fotografias do acervo Instituto Moreira Salles

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Durante as obras do Porto, em 2011, foi descoberto o sítio arqueológico do Cais da Imperatriz

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Mahommah Gardo Baquaqua, nascido no Norte da África no início do século XIX, trabalhou no país antes de fugir em Nova York

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Alisson Eugênio estudou o Erário Mineral, escrito por Luís Gomes Ferreira. Leia em HCS-Manguinhos