Abril/2023
“Vacinada contra a #COVID19! É uma satisfação ver a #vacinação acontecendo e ter a possibilidade de me proteger. A dose de reforço da #vacina #bivalente está disponível para todos os grupos prioritários. Vamos nos vacinar! Vacina é pra todos, vacina é vida!”, postou a ministra da Saúde Nísia Trindade Lima nas suas redes sociais na última terça-feira, 11/4.
A imagem da ministra feliz da vida sendo vacinada é simbólica: mostra uma reviravolta positiva na saúde pública brasileira, agora livre do negacionismo científico do governo anterior, que promoveu um retrocesso numa área em que o Brasil era referência internacional: imunização.
Mas o Brasil da vacinação voltou. Lançado em 27 de fevereiro, o Movimento Nacional pela Vacinação deu início à mobilização para retomada das altas coberturas vacinais e da confiança da população brasileira nos imunizantes, com destaque para a volta do Zé Gotinha como símbolo da campanha!
Pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) desde 1987 e primeira mulher presidente da Fiocruz, cargo que ocupava desde 2017, a socióloga Nísia Trindade Lima também é a primeira mulher a chefiar o Ministério da Saúde do Brasil, tendo tomado posse em 2 de janeiro de 2023.
Há 20 anos, em 2003, Nísia editou, junto com Nara Azevedo, Carlos Fidelis Ponte e Akira Homma, o suplemento “Imunização no Brasil – história e perspectivas” da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (vol. 10, n. 2, 2003). Acesse aqui.
Na Carta dos Editores, os pesquisadores foram proféticos: “Esta edição é uma história inacabada e incompleta”.
De fato, mesmo com 20 artigos publicados, o suplemento temático de 2003 não deu conta da demanda e, em 2004, no volume 11, suplemento 1, o tema voltou à baila nos artigos Vacina antivariólica: visões da Academia de Medicina no Brasil Imperial, de Tania Maria Fernandes, e As ciências sociais entre biólogos e vacinas: agruras do estudo em um laboratório, de Márcia de Oliveira Teixeira.
Bem antes disso, em 1996, a revista HCS-Manguinhos já se ocupava do tema de forma multidisciplinar. Em A produção e o desenvolvimento de vacinas no Brasil (v. 3, n. 1, jun 1996), o economista Carlos Augusto Grabois Gadelha reunia em quase vinte páginas depoimentos de personalidades influentes e de áreas diversas como Akira Homma, Isaías Raw, José Gomes Temporão, Carlos Alberto Moreira e José Eduardo Bandeira de Mello, visando fornecer ao leitor subsídios para refletir sobre o desenvolvimento tecnológico e a produção de imunobiológicos no país e se posicionar sobre os temas.
“As questões estão em aberto e requerem liberdade de pensamento face aos dogmas do neoliberalismo e do intervencionismo”, refletia Carlos Gadelha, que hoje é secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde e líder do Grupo de Pesquisa Desenvolvimento, Complexo Econômico Industrial e Inovação em Saúde.
No ano 2000, em Alastrim, varíola é? (v. 7, n. 1, mar/jun 2000), Luiz Antônio Teixeira discutia uma controvérsia científica ocorrida entre 1910 e 1913 entre dois importantes médicos de São Paulo: Antonio Carini, diretor do Instituto Pasteur, e Emílio Ribas, diretor do Serviço Sanitário, em torno da classificação de uma doença que afetava a cidade.
No artigo Saúde pública e as empresas químico-farmacêuticas (v.7 n.3, nov 2000/fev 2001), Maria Alice Rosa Ribeiro aborda o surgimento do sistema de saúde pública e as práticas de combate às doenças infecciosas, desde as desinfecções e produção de substâncias químicas pela indústria, à soroterapia e produção de soros e vacinas nas instituições de pesquisa científica públicas e nas empresas farmacêuticas privadas.
Em abril de 2002, dois artigos de autores renomados são publicados no volume 9, número 1: Erradicação da poliomielite no Brasil: a contribuição da Fundação Oswaldo Cruz, de Hermann G. Schatzmayr, Ana Maria Bispo de Filippis e Fabian Friedrich, e Por uma história renovada da febre amarela e da vacina antiamarílica no Brasil, de Claudio Bertolli Filho.
A iconografia em torno das vacinas e das campanhas de vacinação constitui importante acervo para aqueles que se interessam pela temática das políticas de imunização. No artigo Vacinas e campanhas: as imagens de uma história a ser contada, Ângela Pôrto e Carlos Fidelis Ponte selecionaram duas coleções de imagens importantes para a compreensão da história das políticas de imunização no Brasil: o material reunido na exposição A Revolta da Vacina: da varíola às campanhas de imunização e o trabalho de Ângela Porto sobre a erradicação da poliomielite no Brasil, onde são analisadas as mudanças ocorridas nas campanhas publicitárias convocando a população a vacinar seus filhos.
Em 2007, diante da grande produção em torno do tema, um grupo de cinco pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz organizou um livro, publicado pela Editora Fiocruz. Inovação em saúde: dilemas e desafios de uma instituição pública teve oito colaboradores que escreveram análises, além de depoimentos de pessoas ligadas à história de Bio-Manguinhos, resultando em mais de quatrocentas páginas. O livro recebeu a resenha Auto-suficiência em vacinas: a história de uma utopia, de Luiz Jacintho da Silva (vol.15, n. 1, mar 2008).
Em 2011, as vacinas voltaram à pauta da revista em dois artigos, um deles ainda atual, dez anos depois: Aspectos socioculturais de vacinação em área indígena, de Luiza Garnelo (vol.18, n.1, mar. 2011). Para os curiosos de uma história um pouco mais distante e apreciadores de charges antigas, o artigo Oswaldo Cruz e a controvérsia da sorologia, de Jorge Augusto Carreta (vol.18, n. 3, set 2011), será leitura aprazível.
Em 2013, Juliana Manzoni Cavalcanti também remonta ao início do século passado com o artigo Rudolf Kraus em busca do “ouro da ciência”: a diversidade tropical e a elaboração de novas terapêuticas, 1913-1923, publicado no Dossiê Brasil-Alemanha (vol. 20, n. 1, mar 2013).
Para quem se interessa pela resistência da população à vacinação, o artigo A epidemia de varíola e o medo da vacina em Goiás, de Eliézer Cardoso de Oliveira (vol. 20, n. 3, set 2013) revelará que, apesar da quase ausência de surtos de varíola, do século XIX até as três primeiras décadas do século XX houve um empenho dos políticos em promover a vacinação antivariólica em Goiás, interpretada como prática civilizatória, embora sua eficácia nem sempre fosse comprovada empiricamente e houvesse resistência popular.
A resistência à vacinação contra varíola reaparece na revista em 2019, no artigo Entre vacinas, doenças e resistências: os impactos de uma epidemia de varíola em Porto Alegre no século XIX, de Fábio Kühn e Jaqueline Hasan Brizola (vol.26, n.2, abr./jun. 2019). Os autores buscaram conhecer o universo da morbidade e estabelecer o impacto social da doença na cidade entre 1846 e 1874.
Outro tema que permanece atual são as concorrências e colaborações científicas entre países. O tema é tratado no artigo De Bombaim ao Rio de Janeiro: circulação de conhecimento e a criação do Laboratório de Manguinhos, 1894-1902 (vol.25, no.3, jul./set. 2018), em que Matheus Alves Duarte da Silva examina uma disputa científica internacional envolvendo vacinas e soros. Por ocasião da defesa de sua tese de doutorado à Ehess, em Paris, recentemente ele concedeu entrevista ao Blog de HCS-Manguinhos na qual revelou que, há cerca de cem anos, foi a interação entre grupos de cientistas de Brasil, Índia e França – e não os seus esforços isolados – que levou a importantes avanços contra sobre a peste bubônica.
Com a Covid-19, o tema das vacinas voltou à tona, seja na resenha Pode a história imunizar as vacinas? Políticas de vacinação e suas imersões no cenário global, de Rodrigo Ramos Lima e Luiz Alves Araújo Neto, sobre o livro The politics of vaccination: a global history, da Manchester University Press, 2017. (v. 27, supl.1, set. 2020) ou na Carta do Editor intitulada Covid-19 e a corrida pela vacina (v. 27, n. 3, jul./set. 2020), assinada por Marcos Cueto, editor-científico de HCS-Manguinhos e pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, além dos artigos publicados na seção Testemunhos Covid e em outras seções da revista HCS-Manguinhos.
Testemunhos Covid
Discovery of drugs to combat covid-19 inspired by traditional Chinese medicine, artigo de Jianan Huang (Testemunhos Covid, volume 30 • 2023)
Israel y covid-19: ¿cómo se escribirá en el futuro la historia de la epidemia en este país?, artigo de Leo Corry (Testemunhos Covid, volume 29, número 3, jul/set 2022)
Historia en tiempos pandémicos: covid-19 en Latinoamérica, artigo de Claudia Agostoni, Karina Ramacciotti e Gabriel Lopes (Debate, volume 29, número 2, abr/jun 2022)
Covid-19, a diáspora chinesa e o legado duradouro do racismo no Peru, artigo de José Ragas e Patricia Palma (Análise, volume 29, número 2, abr/jun 2022)
Testemunhos Covid, HCS-Manguinhos, v. 29, n. 1, jan/mar 2022
Colombia y la instrumentalización de la pandemia de covid-19, por Jorge Márquez-Valderrama
Chile y la pandemia de covid-19: memoria de la medicina social en contexto de crisis neoliberal, por Marcelo Sánchez Delgado
As incertezas da pandemia: a experiência da covid-19 no Rio Grande do Sul, por Beatriz Teixeira Weber
Testemunhos Covid, HCS-Manguinhos, v. 28, n. 4, out/dez 2021
Pandemia de covid-19, ensino remoto e a potencialização das desigualdades educacionais, por Rodrigo Cesar da Silva Magalhães
Coronavirus en el Reino Unido: el costo del excepcionalismo, por Paulo Drinot
La covid-19 en Cuba seis meses después, por Enrique Beldarraín Chaple
A ciência subordinada: coronavírus e a política científica no Brasil, Rogério Rosa Rodrigues
Testemunhos Covid, HCS-Manguinhos, v. 28, n. 3, jul/set 2021
Médicos, enfermeras y pacientes: entre las contradicciones, la incertidumbre y las carencias en tiempo de covid-19 en México, por Claudia Agostoni
Las epidemias en La Pampa (Argentina), en perspectiva histórica, por María Silvia Di Liscia
A interiorização da covid-19 na Amazônia: reflexões sobre o passado e o presente da saúde pública, por Érico Silva Muniz
Covid-19 y gripe de 1918-1919: paralelos históricos, preguntas y respuestas, por María Isabel Porras Gallo
Testemunhos Covid, HCS-Manguinhos, v. 28, n. 2, abr/jun 2021
Covid-19 en el Perú: respuestas estatales y sociales, por Jorge Lossio
Covid-19 em Santa Catarina: um triste experimento populacional, por Sandra Caponi
Testemunhos Covid, HCS-Manguinhos, v. 28, n. 1, jan./mar 2021
Archivos digitales para historiadores: investigar en tiempos de pandemia, por Patricia Palma
La salud pública en la Argentina en tiempos de coronavirus, por Karina Inés Ramacciotti
Gripe española y coronavirus en Argentina: leer el pasado y entender el presente, por Adrián Carbonetti
La pandemia: ¿el acto final de Donald Trump?, por Eric Carter
Leia também:
O Brasil tem tradição em vacinação infantil, o que tornou possível a erradicação da varíola e da poliomielite no país. E temos um personagem-símbolo, amado pelas crianças, o Zé Gotinha, criado em 1986 pelo artista plástico mineiro Darlan Rosa.
E no Blog internacional…
A National Movement for Vaccination
The Brazilian Ministry of Health recently launched the National Movement for Vaccination, intending to resume high vaccination coverage in the country. Even though Brazil is considered an international reference in this field, it has experienced setbacks in recent years.