A ‘presença ausente’ de Humboldt e Bonpland no Brasil oitocentista

Novembro/2020

Alexander von Humboldt e Aimé Bonpland por Eduard Ender (c. 1850)

Apesar de terem sido impedidos de entrar no Brasil em 1800, Alexander von Humboldt e Aimé Bonpland tornaram-se referências no campo das viagens científicas pelas regiões tropicais americanas no século XIX, tendo a sua obra, saber e atuação conquistado forte impacto no país. Essa “presença ausente” da dupla de viajantes/filósofos mereceu a investigação da historiadora Karen Macknow Lisboa, que pesquisou como eles foram retratados no maior e mais importante diário no Brasil – o Jornal do Commercio – e entre autores brasileiros antiescravagistas – considerando-se a postura nesse sentido do barão franco-prussiano Humboldt.

As descobertas de Karen, que é professora visitante do Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade de São Paulo, estão no artigo Seguindo os passos não dados de Alexander von Humboldt e A. Bonpland no Brasil oitocentista, publicado em HCS-Manguinhos (v. 27, n. 3, jul/set 2020).

Segundo a pesquisadora, prevalece a imagem de Humboldt como grande ilustrado, redescobridor da América, visionário de uma civilização nos trópicos, e ao mesmo tempo ambientalista e arqueólogo valorizador da população original americana. Já as referências a Bonpland, ela conta, são muito raras: “Ele permanece a tiracolo do grande cientista visionário, quando não empurrado para a periferia dos pampas sulamericanos, onde terminou os seus dias.”

A historiadora chegou as essas conclusões inéditas, entre outras, após cuidadosa pesquisa em publicações dos autores José Bonifácio de Andrada, Frederique Burlamaque, João Severiano Maciel da Costa, André Rebouças e Joaquim Nabuco, e nas edições de 1827 a 1899 do Jornal do Commercio, verificando em quais contextos os nomes de Humboldt e de Bonpland, em menor medida, figuram nas notícias, matérias e anúncios ao longo desses mais de 70 anos de vida do jornal.

A autora afirma que o jornal, conservador, abusa desses personagens, sobretudo de Humboldt, “cujas concepções políticas mais arrojadas sobre a América – marcadas pelo transnacionalismo, antirracismo, antiescravismo, multiculturalismo e republicanismo – são completamente eclipsadas”.

Segundo Karen, a pesquisa inova ao trazer novos elementos sobre o impacto e a recepção do saber de Humboldt e Bonpland nos campos político, da opinião pública e até do marketing, através de anúncios e marcas, ajudando a pensar a circulação e apropriação seletiva de ideias e saberes científicos entre o Brasil e a Europa do século XIX.

Leia em HCS-Manguinhos:

Seguindo os passos não dados de Alexander von Humboldt e A. Bonpland no Brasil oitocentista, artigo de Alexander von Humboldt e Aimé Bonpland (v. 27, n. 3, jul/set 2020).