Junho/2020
André Felipe Cândido da Silva *
A cloroquina, bem como uma de suas variantes, a hidroxicloroquina, está no centro de um amplo e atual debate sobre ciência e saúde pública. Esses dois medicamentes, tradicionalmente utilizados no combate à malária, foram empregados este ano no tratamento de pacientes de Covid-19 em estado grave, mostrando-se aparentemente eficazes em alguns poucos casos. Não obstante representantes da classe médica advertirem para os riscos envolvidos no seu uso e para a falta de resultados conclusivos acerca da sua eficácia contra o novo vírus, a expectativa em torno do medicamento cresceu após ampla divulgação da imprensa e politizou-se após o tratamento ser mencionado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e pelo brasileiro, Jair Bolsonaro.
Recentemente, a polêmica ganhou mais um capítulo: dias após o Ministério da Saúde do Brasil publicar uma portaria autorizando médicos de todo o país a utilizarem a cloroquina para casos leves da doença, a revista acadêmica The Lancet, uma das mais prestigiadas na área média,publicou um robusto estudo que levou em conta o acompanhamento de 96 mil pacientes de Covid-19 submetidos à hidroxicloroquina. Apesar das expectativas com o medicamento, os resultados demonstraram que a cloroquina não só é ineficaz na luta contra o vírus, como aumenta substancialmente o risco de morte e arritmias cardíacas.
A polêmica em torno da cloroquina, contudo, não é recente. Originalmente desenvolvida para tratar da malária, surgiu do esforço sistemático da indústria químico-farmacêutica em encontrar um substituto sintético para a quinina, conhecida desde a colonização espanhola das Américas e por séculos utilizada como principal tratamento contra os acessos febris que caracterizam a doença. Desta forma, a origem da cloroquina está associada à longa história de enfrentamento da malária, enfrentamento este que envolveu cientistas europeus marcados pelo pensamento colonialista, experimentos em pacientes com distúrbios psiquiátricos em hospícios, divulgação de drogas com efeitos colaterais ignorados e rivalidades entre norte-americanos e nazistas no século XX. O objetivo deste artigo é contar esta acidentada história que resultou na cloroquina durante a Segunda Guerra.
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*André Felipe Cândido da Silva é pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz, professor do programa de pós-graduação em História das ciências e da saúde e ex-editor-científico da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Ensina e pesquisa sobre história das doenças, da medicina e das ciências da vida, com foco nas relações científicas internacionais e na relação entre saúde, ambiente e ecologia.
Como citar este artigo
SILVA, André Cândido da. A origem da cloroquina: uma história acidentada. In: Café História – história feita com cliques. Publicado em 25 mai. 2020. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/a-origem-da-cloroquina/. ISSN: 2674-59.
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