A medicina psicossomática e o legado de Julio de Mello Filho

Março/2023

Julio de Mello Filho (1933-2018), médico e psicanalista

A concepção do movimento psicossomático, a estruturação teórica e as estratégias institucionais utilizadas para a consolidação do campo da medicina psicossomática no Brasil são o tema do artigo Da medicina psicossomática à psicologia médica: a trajetória teórica e institucional de Julio de Mello Filho, publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (vol. 29, dez/2022), no suplemento especial Histórias transculturais de psicoterapias: novas narrativas.

A pesquisa coordenada pela psicóloga Carla Ribeiro Guedes em coautoria com a médica Vanessa Maia Rangel, ambas professoras do departamento de Saúde e Sociedade do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF), e a colaboração do médico Kenneth Rochel de Camargo Jr., do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj), explora a estruturação do movimento psicossomático e as estratégias institucionais utilizadas para a consolidação desse campo disciplinar no cenário brasileiro.

A medicina psicossomática surgiu nos anos de 1930 nos Estados Unidos, com objetivo de unificar os saberes sobre o corpo e a mente a fim de compreender as causalidades psíquicas para o adoecimento físico. O psiquiatra e psicanalista Danilo Perestrello trouxe essa proposta para o Brasil. Quando foi acometido por uma doença incapacitante em 1976, foi o médico e psicanalista Julio de Mello Filho quem assumiu o protagonismo desse movimento no contexto brasileiro.

A trajetória profissional de Julio de Mello Filho conjugou medicina e psicanálise, colocando ênfase nas relações baseadas na prática dialógica, na reflexão, no vínculo e no poder transformador dos grupos. O estudo histórico e epistemológico sobre a sua trajetória aborda suas bases teóricas, as passagens por diversas instituições, seu percurso psicanalítico e sua produção discursiva de 1959 até a sua morte, em 2018. Foram estudados livros e textos sobre o movimento psicanalítico brasileiro, medicina psicossomática e psicologia médica, particularmente no período da ditadura civil-militar.

O artigo faz uma reconstituição importante para se compreender o cenário da saúde mental no país, lançando luz sobre o projeto político e institucional de consolidação da medicina psicossomática, reconstruindo as etapas do movimento e revelando parte da história da psicanálise no Rio de Janeiro.

“O movimento psicossomático experimentou uma série de inflexões e transformações sob o protagonismo de Julio de Mello Filho. A proposta inicial de transformação do paradigma biomédico perde força e observa-se um gradual abandono da expressão ‘medicina psicossomática’, com o uso cada vez mais frequente de ‘psicossomática’. Paralelamente, lançou-se luz para a psicologia médica com tamanha força, que acabou por produzir um coletivo de pensamento no interior da psicologia do campo da saúde”, concluem os autores.

Segundo os pesquisadores, não se sabe ainda quais serão os impactos de sua ausência para um campo que se mantinha fortemente em torno de seus projetos institucionais e teóricos. “Sabe-se que deixa um importante legado marcado por sua obra e pelos rastros de sua trajetória, que não podem ser esquecidos”, enfatizam.

Leia em HCS-Manguinhos:

Da medicina psicossomática à psicologia médica: a trajetória teórica e institucional de Julio de Mello Filho, artigo de Carla Ribeiro Guedes, Vanessa Maia Rangel e Kenneth Rochel de Camargo Jr. (História, Ciências, Saúde – Manguinhos , vol. 29, supl. 1, dez/2022)

Acesse o sumário do suplemento especial e todos os artigos na íntegra (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 29, supl., dez/2022)