O sul da Bahia na viagem de Maximiliano de Wied, 1815-1817

Novembro/2021

Índios botocudos pintados com tintas de urucu e jenipapo (Löschner; Kirschstein-Gamber, 2001 , p.125)

A capa da atual edição da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (vol. 28, n. 3, jul/set 2021)
teve como base a aquarela acima, que retrata uma cena descrita em riqueza de detalhes por Maximiliano de Wied-Neuwied (1782-1867) no capítulo “Estada entre os botocudos” do seu relato Viagem ao Brasil (1815-1817). Trata-se, segundo o viajante, de um conflito ritualístico de guerra, carregado de gritos, cantos, discursos e golpes, entre dois grupos que disputavam territórios: de um lado, o grupo liderado pelo capitão Jeparaque que protegia seus “limites das zonas de caça”; do outro, o grupo do capitão June, acusado de ter invadido as terras do oponente, “matando alguns porcos do mato”.

Esta e outras aquarelas ilustram o artigo de revisão historiográfica A flora da antiga capitania de Porto Seguro na viagem de Wied-Neuwied, 1815-1817: prática científica, inventário naturalista e colaboração indígena, de Francisco Cancela, professor do Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias da Universidade do Estado da Bahia.

Cancela conta que Maximiliano Alexandre Felipe, ou Maximiliano de Wied-Neuwied, foi um dos
primeiros viajantes naturalistas a visitar o Brasil no início do século XIX. Nascido na cidade de Neuwied, era
membro de uma das mais antigas famílias nobres da região do rio Reno, atual Alemanha. Na juventude, o
príncipe Max, como era conhecido, dedicou-se aos estudos das ciências físicas e naturais e da história universal.

Paisagem da floresta no rio Doce (Löschner, Kirschstein-Gamber, 2001, p.89)

Segundo Cancela, o artigo publicado em HCS-Manguinhos revisita o relato do príncipe naturalista buscando valorizar as contribuições dos registros da expedição para a história natural, especialmente no levantamento da flora do atual extremo sul da Bahia. O objetivo central é demonstrar como se deu a relação do naturalista com as populações indígenas na produção do seu inventário florístico na antiga capitania de Porto Seguro, destacando a importância dos saberes e fazeres dos índios para o trabalho do naturalista europeu.

“A proposta aqui empreendida buscou realizar um tipo de leitura do relato de viagem na perspectiva de retomar uma memória silenciada da presença e participação dos índios na história, reivindicando a existência de um amplo e diversificado patrimônio epistemológico nativo que foi usurpado pela empresa colonial europeia, tanto material quanto abstratamente”, conclui o autor.

Leia em HCS-Manguinhos:

A flora da antiga capitania de Porto Seguro na viagem de Wied-Neuwied, 1815-1817: prática científica, inventário naturalista e colaboração indígena, artigo de Francisco Cancela (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, vol. 28, n. 3, jul/set 2021)

Leia no Blog de HCS-Manguinhos:

Viagem de Maximiliano de Wied do Rio a Salvador entre 1815 e 1817 é tema de projeto
A excursão marcou o início das grandes expedições científicas do século XIX e muito contribuiu para o conhecimento da biodiversidade, da história e da gente do Brasil.