A cidadania feminina restringida à condição de mãe

Maio/2021

Durante a primeira metade do século XX, a cidadania feminina no Brasil só podia ser exercida através da maternidade. A tese é sustentada por Cassia Roth, da Universidade da Georgia (EUA), no livro A miscarriage of justice: women’s reproductive lives and the law in early twentieth-century Brazil (em tradução livre, Um erro judiciário: a vida reprodutiva das mulheres e a lei no Brasil do início do século XX), publicado em 2020 pela Stanford University Press.

“A utilidade da mulher das classes pobres e urbanas seria a de reproduzir a mão de obra para o futuro da pátria”, explica Isabela de Oliveira Dornelas, doutoranda em História na Universidade Federal de Minas Gerais, em resenha sobre o livro de Roth publicada na atual edição de HCS-Manguinhos (v. 28, n. 1, mar. 2021).

Segundo Isabela, o livro de Roth, baseado numa análise criteriosa dos Códigos Penais e Civil brasileiros, contribui para os estudos da história da saúde reprodutiva no Brasil e oferece um diálogo interdisciplinar entre medicina, justiça, polícia e sociedade.

“A autora apresenta o funcionamento de uma complexa engrenagem de vigilância sobre a reprodução nas classes populares e proporciona uma valiosa contribuição à historiografia da área, por realizar uma análise que leva em conta os aspectos cotidianos das práticas de aborto e infanticídio, como também analisa as gravidezes e os partos”, afirma a autora da resenha.

Leia em HCS-Manguinhos:

Gravidez e controle reprodutivo no Brasil: coibir e negociar, resenha de Isabela de Oliveira Dornelas para o livro A miscarriage of justice: women’s reproductive lives and the law in early twentieth-century Brazil, de Cassia Roth (HCS-Manguinhos, v. 28, n. 1, mar. 2021)

Leia no Blog de HCS-Manguinhos:

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