A Casa da Ciência da UFRJ e os desafios de um centro cultural de divulgação científica

Novembro/2021

Transformar a relação de desinteresse pela ciência, proveniente da abordagem conteudista – que valoriza a
repetição em detrimento da curiosidade – em algo atrativo e prazeroso é a intenção da Casa da Ciência da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Designada em 1995 Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da
UFRJ pelo Conselho Universitário, a Casa da Ciência, no Campus da Praia Vermelha, busca despertar a curiosidade através das relações entre ciência, arte e cultura, utilizando diferentes linguagens, de forma lúdica e interativa, para refletir sobre conceitos da ciência. Para cumprir sua missão, desenvolve exposições multimídias e cenográficas, oficinas, espetáculos de teatro e música, ciclo de debates e mostras de vídeos voltados para a divulgação de conteúdos científicos e culturais. Suas ações criativas e inovadoras a identificam como um museu de ciência dentro de uma perspectiva contemporânea.

Assim como outros museus da UFRJ, a Casa da Ciência ainda não goza de uma condição que a configure como instância autônoma, gestora de recursos orçamentários e extra orçamentários. No artigo A Casa da Ciência e os desafios de um centro cultural de divulgação científica na Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 28, n. 3, jul/set 2021), a produtora cultural Luciane Correia Simões e os professores Nadja Paraense dos Santos e Antonio José Barbosa de Oliveira discutem as dificuldades dos processos de institucionalização desses espaços.

Segundo os autores, grande parte dos recursos necessários para a realização da programação da instituição acaba vindo de outras instâncias e agências de fomento. Nesta realidade, a UFRJ atua, fundamentalmente, como contrapartida não financeira, com subsídios na forma de bens, recursos humanos, insumos e serviços, que viabilizam a execução de uma programação tão vasta.

Para minorar o impacto da falta de recursos públicos, a Casa vem construindo estratégias de criação de um grupo de mantenedores, a exemplo do modelo de sustentabilidade de outros museus no exterior. Essa iniciativa busca por patrocínio privado, através das leis de incentivo fiscal e de outros mecanismos, tais como a de captação direta de financiamento com as áreas de comunicação e de responsabilidade social das empresas. Além disso, a Casa tem trabalhado na obtenção de emendas parlamentares para a restauração e expansão do espaço físico.

“A dependência da captação externa de recursos não é um objetivo e sim uma forma de sobrevivência, não há intenção de promover a qualquer preço a parceria público-privada. A instituição trabalha no sentido de construir mecanismos políticos que visem à implantação e a consolidação de estratégias que garantam o funcionamento, a manutenção e a expansão dos museus da UFRJ no âmbito do Ministério da Educação. Um dos caminhos para se atingir esse objetivo é a implantação do Sistema Integrado de Museus, Acervos e Patrimônio (Simap) cuja destinação de orçamento próprio para os Museus da UFRJ, pode significar a garantia das condições mínimas de funcionamento desses organismos”, esclarecem os autores.

Eles acreditam ser possível uma administração mista de recursos que contemplem os dois cenários: um investimento mínimo do governo que garanta o funcionamento da Casa com orçamento próprio e o investimento externo em forma de patrocínio para a execução dos diferentes projetos. Além disso, defendem que parcerias com diversas instituições de ciência e tecnologia, outros centros e museus de ciência, organizações e empresas, na concessão de bens e serviços, também podem ajudar a garantir o funcionamento das atividades.

“Entendemos que uma instituição pública não pode ter como principal fonte de sustentação as parcerias e o financiamento externo, isso é destoante da natureza da instância universitária pública. Faz-se necessário refletir sobre novos modelos de administração e mecanismos de financiamento destes espaços, sem abrir mão de sua vinculação ao Estado e de sua natureza educativa. E como instância educativa, os recursos para sua manutenção devem ser encarados como investimento fundamental para minoração das diferenças e desigualdades sociais e de uma maior equidade entre os atores sociais”, defendem.

Leia em HCS-Manguinhos:

A Casa da Ciência e os desafios de um centro cultural de divulgação científica na Universidade Federal do Rio de Janeiro, artigo de Luciane Correia Simões, Nadja Paraense dos Santos e Antonio José Barbosa de Oliveira (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 28, n. 3, jul/set 2021)