Dezembro/2016
A ciência moderna não é um veículo neutro do progresso, o que se demonstra pelas profundas relações entre o conhecimento científico e o poder político e econômico, como as ligações entre cientistas, a indústria e os militares. É o que afirma o físico e historiador Dominique Pestre, professor e diretor de pesquisa da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em entrevista a Mariza Romero, professora do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais da PUC/SP, publicada na atual edição de HCS-Manguinhos (vol.23, n.3, jul./set. 2016). Nos últimos 15 anos, Pestre, considerado referência nos estudos recentes da história das ciências e das técnicas, tem pesquisado as dinâmicas sociais, econômicas e políticas neste campo. Ele se destaca por levantar reflexões sobre os efeitos prejudiciais da ciência e o seu papel no mundo contemporâneo. “Como toda atividade humana, ela se fundamenta em valores e categorias que impregnam sua língua, seus instrumentos, seus resultados”, afirma. De acordo com o pesquisador, a ciência moderna produz resultados interessantes e úteis, mas suas propostas são também fonte de problemas que as sociedades devem enfrentar, como os danos do progresso técnico. “Eu diria que a ciência moderna nunca foi muito atenta às consequências que poderiam surgir da caixa de Pandora que ela reabre constantemente. Os produtos e os conhecimentos científicos e técnicos penetram as sociedades e as transformam por meio dos mercados, do consumo ou pelo uso, mas sem levar em conta as implicações sociais, morais ou ambientais. Em outros termos, é preciso pensar que as ciências e técnicas favorecem certas formas de estar no mundo e de desenvolver-se em detrimento de outras. Portanto, não devemos ficar surpresos com as reações das populações quando a tecnociência age sem cautela”, diz. Leia em HCS-Manguinhos: A nova história das ciências: entrevista com Dominique Pestre – Depoimento a Mariza Romero (vol.23, n.3, jul./set. 2016)A caixa de Pandora da ciência moderna
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