Pesquisadores defendem política nacional específica para acervos

 Julho/2014

Marina Lemle | Blog de HCS-Manguinhos

Foto: Casa de Oswaldo Cruz

Foto: Casa de Oswaldo Cruz

A necessidade urgente de uma política nacional específica para acervos foi a principal questão em debate na mesa-redonda “Acervos, patrimônio científico e cultural”, realizada na Fiocruz, no Rio, em 28 de julho – primeiro dia do XVI Encontro Regional de História. A mesa contou com a participação de pesquisadores de quatro instituições do Rio de Janeiro: Beatriz Kushnir, do Arquivo Geral da Cidade (AGCRJ), Alda Heizer, do Jardim Botânico (JBRJ), Ildeu de Castro Moreira, da UFRJ, e Martha Campos Abreu, da UFF.
O físico Ildeu Moreira lamentou que o movimento por uma política pública para acervos articulado em 2010 na 4a Conferência Nacional de CT&I para o Desenvolvimento Sustentável não tenha tido consequências efetivas, apesar da recomendação, no “Livro Azul” do evento, pela implantação de políticas e programas nacionais para a recuperação, preservação, valorização e acesso público ao patrimônio científico, tecnológico e cultural brasileiro.
“Precisamos continuar a pressionar nessa direção, trabalhar em conjunto e apresentar propostas concretas. Se falta de atenção à ciência básica, que dirá a acervos. E assim como o Ministério ainda não tem uma política, as instituições também não sabem o valor que seus acervos têm”, disse. Ele acrescentou que, hoje, digitalizar documentos não é difícil nem caro, mas exige esforço de convencimento dos gestores.
Segundo Moreira, a Fiocruz é uma exceção entre as instituições científicas, pela existência da Casa de Oswaldo Cruz. Entre projetos interessantes, ele citou o Sistema Integrado de Museus, Acervos e Patrimônio (Simap), da UFRJ, a Hemeroteca Digital, da Biblioteca  Nacional, que digitaliza todos os periódicos brasileiros, e o Guia de Museus e Centros de Ciências do Brasil. O físico enfatizou ainda que, além de preservar os acervos, é preciso dar acesso ao público e buscar formas de atrair jovens.
Martha Campos Abreu, do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense (Labhoi/UFF), falou da importância do Decreto 3551, do ano 2000, que ampliou percepção sobre acervos e sobre o patrimônio imaterial dos setores populares – saberes, formas de expressão, lugares e celebrações. Por outro lado, o decreto evidenciou outras questões, como a quem caberia a salvaguarda dos patrimônios imateriais. Além disso, um novo campo de trabalho se abre, uma vez que para um bem cultural ser registrado e protegido, ele deve passar por um processo de inventário, e como o Iphan não tem condições de fazer este serviço sozinho, terceirizou a produção dos inventários a instituições de pesquisa.
Para Beatriz Kushnir, que é diretora-geral do AGCRJ, é fundamental a abertura dos acervos e a sua salvaguarda para que se possa fazer ciência no país. Segundo a pesquisadora, está avançando a percepção de que as universidades e instituições de pesquisa e de guarda precisam trabalhar juntas, cada vez mais afinadas, e não buscando isoladamente resolver os problemas. Ela defende a criação de uma política pública para o setor de arquivos especificamente e uma atuação mais forte do Conselho Nacional de Arquivos, para que as sugestões da 1a Conferência Nacional de Arquivos inspirem tomadas de decisão e a área possa andar.
Alda Heizer, do JBRJ, chamou atenção para o material sobre expedições científicas do início do século XX que está depositado em diferentes jardins botânicos. Segundo a pesquisadora, são documentos como fotografias e cadernetas de campo que devem ser trabalhados em relação, circunstanciados, para a compreensão das expedições como prática científica desse período.
“Minha preocupação é que estes materiais não sejam analisados separadamente – as fotografias das cadernetas de campo”, ressalva. Segundo Alda, para esse tipo de pesquisa, são necessários pesquisadores como historiadores, taxonomistas e etnobotânicos. “Também precisamos de incentivos e da compreensão, por parte das instituições, de que este acervo é privilegiado, porque as práticas de campo nem sempre foram prestigiadas como práticas científicas, e este olhar amplia o horizonte de interesse delas”, disse.
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Pesquisadores defendem política nacional específica para acervos. Blog de História, Ciências, Saúde – Manguinhos. [viewed 31 July 2014]. Available from: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/esquisadores-defendem-politica-nacional-especifica-para-acervos