Quantidade versus qualidade, a polêmica continua

Julho/2014

retractsUm levantamento da revista “Nature” que mostrou que só na primeira década deste século o índice de retracts (artigos invalidados pela própria revista científica onde foram publicados) multiplicou-se por dez – muito mais do que o aumento de 44% na produção científica – inspirou reportagem de Cesar Baima no jornal O Globo de hoje (15/7). A reportagem ressalta que os equívocos e fraudes colocam em risco confiança do público na ciência e o próprio financiamento de pesquisas. As tendências quantitativistas e produtivistas que hoje imperam no meio acadêmico também são discutidas por Jaime Benchimol, Roberta Cerqueira e Camilo Papi, da equipe editorial de História, Ciências, Saúde – Manguinhos, no artigo “Desafios aos editores da área de humanidades no periodismo científico e nas redes sociais: reflexões e experiências”, publicado na revista Educação e Pesquisa, da Faculdade de Educação da USP (vol. 40, n. 2, abr./jun. de 2014). Segundo os autores, entre 1997 e 2007, o número de artigos brasileiros em publicações internacionais mais que dobrou, chegando a dezenove mil por ano, e a participação do Brasil no universo das publicações científicas internacionais subiu de 1,7% em 2002 para 2,7% em 2008.  De 2007 para 2008, o Brasil foi o país que mais cresceu entre as 20 nações com mais artigos publicados em periódicos científicos indexados pelo Institute for Scientific Information (ISI): o número de artigos de instituições brasileiras aceitos nessas publicações subiu de 19.436 para 30.145 . Com este crescimento de 56%, o país passou da 15ª para a 13ª colocação no ranking mundial de artigos publicados em revistas especializadas, o que equivale a 2,12% da produção mundial. Por outro lado, outro estudo mostra que, no tocante a impacto, o país caiu de posição. “O crescimento da produção com queda de impacto é atribuído ao aumento do número de periódicos brasileiros incluídos nas bases de dados internacionais (de 62 para 270, em dez anos) e à política acadêmica que, por um lado, vem expandindo o número de mestres e doutores, e, por outro, os leva a publicar ‘de qualquer jeito’ ou a praticar a chamada ‘ciência salame’, criticada pelo biólogo Fernando Reinach (2013), cuja voz é uma das muitas que se insurgem contra a ‘ideologia” quantitativista’, afirmam os autores. Leia o artigo.