Em 1882 era descoberto bacilo da tuberculose

Março/2013

Martina Assunção

Robert Koch em seu laboratório

Robert Koch em seu laboratório

“Será que as três dúzias de cadeiras na sala de conferência serão suficientes?”, questiona-se preocupado o zelador do Instituto de Fisiologia de Berlim. Afinal, seu chefe, o conselheiro du Bois-Reymond, espera receber esta noite muito mais convidados do que de costume.

Uma palestra está no programa. Seu tema: “Tuberculose”. Será ministrada pelo Dr. Robert Koch, membro do conselho do Departamento Imperial de Saúde Pública. O título da conferência é um tanto quanto genérico, mas muito se espera dela, afinal Robert Koch sempre foi um nome importante do setor bacteriológico.

Robert Koch anuncia sua descoberta

O homem magro e de estatura mediana inicia sua apresentação lentamente, com certa hesitação. Os convidados ouvem com atenção e, talvez, alguns já comecem a suspeitar de que serão testemunhas de um marco na história da ciência. O colega Robert Koch, na época com 38 anos, anuncia a descoberta do causador da tuberculose, batizado por ele como “bacilo da tuberculose”.

“Em função das minhas inúmeras observações, considero provado que em todos os casos de tuberculose, em pessoas e animais, é encontrado o que chamei de bacilo da tuberculose. Um microorganismo que, através de suas características peculiares, diferencia-se de todas as outras bactérias conhecidas.”

Na época, além do fato de que era maligna e infecciosa, não se sabia muito mais sobre a tuberculose. A doença – também conhecida como tísica pulmonar – podia arrebatar um paciente em poucas semanas, outros sofriam durante anos antes de morrer. Dos 50 milhões de alemães, um milhão sofriam de tísica. Oitenta mil morriam todos os anos da doença. E um em cada sete europeus perecia de tuberculose.

Cura era quase impossível

“No final do século 19, a tuberculose era tão temida quanto o câncer e o enfarte de coração atualmente”, explica Peter Schneck, do Instituto Histórico de Medicina da Clínica Charité, em Berlim. “Realmente uma doença popular, como se dizia na época, e era também, com certeza, consequência das condições sociais. Estava diretamente ligada ao aparecimento das grandes cidades. Muitas pessoas viviam comprimidas nos centros urbanos de trabalho, onde faltavam moradias, saneamento e condições higiênicas apropriadas.”

Aos pacientes eram recomendados boa alimentação, tranquilidade e ar fresco – moradores dos bairros pobres mal podiam seguir tais advertências médicas. Os ricos iam, às vezes, a clínicas de tratamento. Mas a cura era quase impossível. Já se sabia há muito tempo que a tuberculose era infecciosa. Em 1865, um médico do Exército francês comprovou que a doença era transmitida de pessoas para coelhos.

270 tentativas antes de o bacilo aparecer

Robert Koch queria agora evidenciar o causador da tísica através de testes com animais e análise microscópica. Em agosto de 1881, iniciou suas pesquisas: infectou duas cobaias com material tuberculoso e esperou que estas adoecessem. Paralelamente, preparava amostras, coloria e examinava-as no microscópio.

Sempre trabalhando com técnicas novas de coloração, Robert Koch procurava tornar visível o que ninguém conseguira ver até então. No 271º preparado, o pesquisador encontrou o que tanto procurara: bacilos finos em forma de bastão com sinuosidades e espiralações. Ele conseguiu desenvolver uma cultura desses microorganismos sobre nutrientes. E encontrou, finalmente, a última prova de que precisava: a tal cultura, criada fora dos hospedeiros, era a responsável pela tuberculose.

A boa notícia propagou-se mais rápido que a doença

Robert Koch realizou um trabalho difícil e intenso antes de apresentar seus resultados aos integrantes da Sociedade Berlinense de Fisiologia, em 24 de março de 1882. Sua novidade revolucionária logo ganhou a mídia.

“Com o telégrafo a notícia correu o globo. A imprensa do mundo todo anunciou que a causa da tuberculose fora descoberta por um homem chamado Robert Koch”, comenta Peter Schneck. “De repente, o nome do cientista estava em todas as bocas. O que era compreensível, levando em consideração a propagação da doença. Seria como se disséssemos hoje: encontramos a cura do câncer.”

Com a descoberta do bacilo, Robert Koch desmascarou a tísica. Agora, os especialistas não lidavam mais com algo indeterminado, mas sim com um parasita concreto. A tuberculose, até então tão temida, começava a tombar diante do avanço da ciência.

Fonte: Blog História UPF