OMS: Profissionais de saúde de nível médio são tão eficientes quanto médicos

Novembro/2013

Foto da capa do boletim da OMS

Reprodução da capa do boletim da OMS

Genebra – Os países que enfrentam uma escassez acentuada e má distribuição de profissionais de saúde podem se beneficiar com a formação e a mobilização de mais profissionais de saúde de nível médio, como é o caso de parteiras, enfermeiras, auxiliares médicos e clínicos cirúrgicos, de acordo com um estudo publicado hoje no Boletim da Organização Mundial de Saúde.

Nos países onde esses profissionais de saúde foram mobilizados, os resultados clínicos de determinados serviços foram tão bons quanto os daqueles realizados por médicos – e, em alguns casos, até melhores –, revela o estudo.

“Os nossos resultados derrubam o mito segundo o qual uma utilização mais extensa de profissionais de saúde de nível médio poderia levar a serviços de menor qualidade; apesar das limitações da evidência, aparentemente, em algumas áreas, eles chegaram a apresentar um desempenho superior ao dos médicos”, diz a autora principal, Dra. Zohra S. Lassi, Professora Titular na Divisão de Saúde das Mulheres e Crianças [Division of Women and Child Health] na Universidade de Aga Khan em Karachi, Paquistão. “A maior parte dos nossos resultados aponta para oportunidades que todos os países – tanto ricos quanto pobres – podem explorar”.

O estudo revela que, quando os cuidados são prestados às mães e aos recém-nascidos por parteiras, ao invés de por médicos trabalhando com as parteiras, os índices do recurso à episiotomia (incisão cirúrgica feita para facilitar a saída do bebê, que pode levar a complicações) e à utilização de analgésicos são inferiores. Além disso, a satisfação da paciente é frequentemente mais elevada, conforme mostra o estudo.

Outra revelação importante é a de que o atendimento prestado pelas enfermeiras em diversos campos da saúde – incluindo a prevenção e o tratamento de doenças cardíacas, diabetes, questões de saúde mental e infeção pelo HIV – é tão eficiente quanto aquele prestado pelos médicos. Não há nenhuma sugestão no estudo no sentido de que os médicos devam ser substituídos na sua totalidade por profissionais de saúde de nível médio, mas de que, em determinadas áreas da saúde, os profissionais de saúde de nível médio atendem tão bem quanto os médicos, se não mesmo melhor do que eles.

O estudo é um dos artigos de uma seleção publicada em uma edição especial do boletim internacional de saúde pública dedicada ao tópico dos profissionais de saúde necessários para que os países alcancem ou mantenham uma cobertura universal dos serviços de saúde.

O novo trabalho analisa 53 estudos realizados em 18 países ao longo dos últimos 20 anos, e compara os resultados de determinados tipos de atendimento prestado por profissionais de saúde de nível médio com os resultados do atendimento prestado por médicos. Trata-se de uma primeira análise sistemática – um estudo que analisa todas as evidências disponíveis – para efetuar tal comparação.

A maior parte dos estudos analisados comparou o atendimento prestado por parteiras com aquele prestado por médicos que trabalham junto de parteiras, ou o atendimento prestado por enfermeiras com aquele prestado por médicos.

Mais da metade dos 53 estudos realizou-se em centros de cuidados terciários em países de renda elevada (Austrália, Canadá, Itália, Holanda, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos da América). O restante foi realizado em países de renda média (Camarões, China, Filipinas, África do Sul, Tailândia, Turquia e Vietnam) e em países de baixa renda (Malaui, Moçambique, Nepal e República Unida da Tanzânia), de acordo com as categorias de nível de renda do Banco Mundial.

Os resultados do estudo são particularmente relevantes para os países que se esforçam para fornecer aos seus cidadãos o acesso universal a serviços de saúde de qualidade e a preços acessíveis – um empreendimento para o qual um grupo adequado de profissionais de saúde representa um componente fundamental. Em 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou uma resolução exortando os governos a se comprometerem com a cobertura universal de saúde.

“A realização ou a manutenção de uma cobertura universal de saúde é um desafio para todos os países: os modelos tradicionais de cuidados médicos, dominados pelo provimento de serviços curativos caros orientados por médicos em centros de cuidados terciários, possuem suas limitações”, declara o Dr. Giorgio Cometto, consultor para o diretor-executivo da Global Health Workforce Alliance, uma parceria da OMS.

“Porém, quando se atribui um papel mais proeminente aos profissionais de saúde de nível médio, os serviços de saúde podem responder melhor às necessidades dos cidadãos – e esta abordagem pode igualmente levar à economia de dinheiro em longo prazo”, diz Cometto, que também é um dos autores do estudo.

A OMS encoraja todos os países a adotarem a combinação mais eficiente possível de quadros e competências em cuidados de saúde para atender às necessidades de saúde de suas populações. A entidade tem emitido recomendações sobre a delegação de tarefas de um tipo de profissional de saúde para outro, com relação aos cuidados com a infecção pelo HIV, assim como com a saúde materna e neonatal, e oferece suporte técnico a países que enfrentam desafios relativos à oferta de profissionais de saúde.

Esta edição especial do Boletim da Organização Mundial de Saúde apresenta exemplos de histórias de sucesso para enfrentar os desafios com relação à disponibilidade de profissionais de saúde e descreve abordagens inovadoras e novas evidências para os países.

Este comunicado está disponível em inglêsespanhol e francês.