A história do petróleo no Brasil – da descoberta em 1939 do poço de Lobato, na Bahia, até os campos do pré-sal – é o tema do livro Ouro Negro, que a professora da Coppe/UFRJ Aïda Espinola acaba de lançar. Editada pela Interciência, a publicação estará à venda na XVI Bienal do Livro do Rio de Janeiro, que será realizada de 29 de agosto a 8 de setembro no Rio Centro.
Hoje com 93 anos de idade, Aïda conta que a ideia de escrever o livro surgiu na festa de comemoração dos 45 anos da Coppe, em 2008. Ao ser homenageada, ela reviveu sua trajetória profissional e seus primeiros anos na Coppe, onde ingressou em 1975, trazendo na bagagem a experiência de análises químicas que identificavam a presença de óleo petrolífero em rochas. A técnica havia sido desenvolvida por ela em 1962, no laboratório que implantou e coordenou no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), ligado ao Ministério de Minas e Energia.
A trajetória de Aïda Espínola na área de ciência e tecnologia se confunde com a história do petróleo no Brasil. Em 1942, formada em Química Industrial pela UFRJ, passou em primeiro lugar no concurso público do DNPM, aos 21 anos, e iniciou sua carreira no Laboratório de Produção Mineral como química tecnologista. Lá implantou e chefiou o Laboratório de Análises Químicas de Rochas (depois renomeado Laboratório de Geoquímica), que passou a colaborar para a evolução da exploração de óleo e gás no país. Durante anos, foi o único no Brasil a realizar análises químicas completas de rochas, atendendo geólogos e mineralogistas brasileiros e estrangeiros.
Para atender os interessados em localizar petróleo no Brasil, Aïda e suas assistentes desenvolveram um ensaio de cromatografia em camada fina que se tornou um recurso valioso para identificação de contaminação das rochas por componentes de petróleo. Tal interesse foi despertado pela descoberta do poço de Lobato que, mesmo com o rápido esgotamento das reservas, marcou o retorno da procura de petróleo no Brasil. Aïda coordenou o Laboratório de Geoquímica do DNPM até dezembro de 1971, dividindo seu tempo com as atividades de ensino na UFRJ.
A trajetória acadêmica de Aïda é igualmente brilhante. Ela ingressou como professora da Escola de Química da UFRJ em 1955, após cursar Engenharia Química, sua segunda graduação. Em 1958, concluiu seu mestrado na University of Minnesota (EUA). Em 1970, assumiu a direção do Instituto de Química da UFRJ, onde participou da implantação do curso de pós-graduação em Química. Tem quatro cursos de pós-doutorado, sendo o primeiro, em 1977, na University of Minnesota (EUA), e o último em 1982, como bolsista da Organização dos Estados Americanos.
O ingresso de Aïda Espínola na Coppe se deu em 1975, no Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, onde iniciou os estudos de pilhas a combustível, já como fruto de seu doutorado, concluído no ano anterior, na Pennsylvania State University, (EUA). Segundo a professora, tais pesquisas já eram consideradas estratégicas para a Coppe naquela época e, como resultado, hoje a Cidade Universitária conta com um ônibus a hidrogênio circulando em suas ruas.
No livro Ouro Negro, a professora Aïda Espínola destaca a contribuição da Coppe na superação dos desafios da exploração de petróleo em águas profundas e ressalta o valioso treinamento de mergulhadores para plataformas em alto-mar, realizado no Laboratório de Tecnologia Oceânica (LabOceano).
Mais sobre a autora
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Aïda aos 19 anos na Praia de Ipanema |
Carioca, nascida em 18 de abril de 1920, Aïda Espínola foi criada em Copacabana, onde durante a juventude frequentava a praia e desenhava a si própria e personalidades como os astros do cinema Greta Garbo e James Cagney. Apaixonada por esportes, começou a montar antes dos 18 anos, e aos 47 anos ainda esquiava em Bariloche.
Reconhecida pela comunidade científica e premiada no Brasil e no exterior, Aïda lecionou no Departamento de Química da Pennsylvania State University como doutoranda, e recebeu o prêmio de melhor professor assistente. Em seguida, recebeu o título de fellow e substituiu vários professores titulares da universidade americana. Ao optar pela química, a professora afirma que não se intimidou pela presença masculina predominante na profissão, e faz questão de dizer que nunca sofreu discriminação pelo fato de ser mulher.
Em 1964, as técnicas desenvolvidas por Aïda foram valiosas durante uma consultoria industrial à General Electric (GE) do Brasil. A professora conta que quando a GE desenvolvia o processo de fabricação das lâmpadas fluorescentes, para implantá-lo em sua fábrica do Rio de Janeiro, as mesmas ficavam com pequenas manchas pretas, inviabilizando sua comercialização. Após um ensaio, ela constatou que se tratava de contaminação por óleo petrolífero, proveniente do compressor. Seu parecer final foi ‘Substitua-se o compressor por um novo, com filtro eficiente’. Deu certo e a GE passou a fabricar suas lâmpadas no Rio, sem ter que importá-las.
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A professora Aïda hoje em sua residência |
Enquanto fazia seu doutorado, Aïda foi requisitada, em 1973, pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA) para desenvolver o gerador de energia a bordo de satélites. À época, a principal missão do CTA era construir o primeiro satélite brasileiro. Foi a iniciação da pesquisadora no desenvolvimento de geradores de eletricidade de pilhas a combustível. Uma linha de pesquisa que implantou na Coppe e nunca mais abandonou, por considerar esses geradores de eletricidade “a tecnologia de energia do século XXI, capaz de proporcionar o desenvolvimento sustentável”.
A professora Aïda Espinola orientou oito dissertações de mestrado e seis de doutorado. É autora de mais de 150 artigos publicados em periódicos científicos e de 12 livros, incluindo o Ouro Negro. Na Bienal do Livro, o livro estará à venda no Stand O-16, localizado no Pavilhão 4 – Verde.
Fonte: Planeta Coppe |