Agosto/2013
SciELO em Perspectiva
Indrajit Banerjee é diretor da Knowledge Societies Division, Communication and Information Sector, e foi chefe doInformation and Communication Technology in the Education, Science and Culture Section of the Communication and Information Sector da Unesco. Tem doutorado em “Communication and in Didactics” pela Université de la Sorbonne Nouvelle, Paris (França), estudos pós-doutorado naUniversité du Québec, Montreal (Canadá), e trabalhou como secretário geral da Asian Media Information and Communication Centre (AMIC) em Singapura. Na presente entrevista, Banerjee explica por que a Knowledge Societies Division, Communication and Information Sector da UNESCO patrocinou o SciELO, o que representa o maior apoio que a UNESCO cedeu a uma iniciativa de informação. Segundo ele, o Projeto SciELO é pioneiro no mundo pois incentiva a publicação científica em Acesso Aberto quatro anos antes da Reunião de Budapest sobre o Open Society, e as conferências de Berlin posteriores. Dos 10 periódicos do projeto piloto de 1998, hoje o SciELO tem cerca de 1.000 periódicos de qualidade de quase 20 países com mais de 400.000 artigos. Este modelo de sucesso levou a Unesco a tornar o SciELO um estudo de caso para apresentar aos Estados Membros, e replicar em outras partes do mundo. Banerjee informa que este estudo da Unesco será publicado como um livro com financiado com fundos do governo do Japão. Unesco é a organização internacional que está patrocinando a Conferência SciELO 15 anos, o que significa um grande reconhecimento ao Programa SciELO e a celebração do seu 15 º aniversário. Como você avalia o papel do SciELO para melhorar a visibilidade e a qualidade dos periódicos nacionais, por meio de programa com financiamento governamental em acesso aberto baseado na cooperação internacional? Muito obrigado por me fazer esta pergunta. É verdade, a UNESCO concedeu ao SciELO seu patrocínio. Patrocínio é a mais alta forma de apoio da UNESCO. É concedido para demonstrar o apoio moral da Organização a uma atividade excepcional. O patrocínio concedido pela Secretaria da UNESCO para a Conferência SciELO 15 anos demonstra o carácter e âmbito significativamente internacional deste evento. Não menos importante, ele também inclui um gesto de agradecimento da UNESCO ao esforço da SciELO para tornar os resultados da pesquisa mais acessíveis às pessoas comuns. Desde o início da pesquisa científica organizada, tem sido a motivação de cientistas compartilharem seus trabalho com os seus pares, a fim de estimular o debate, provocar elogios, e receber críticas. Este compartilhamento também cria um pretexto para declarar o direito moral à descoberta, fornecer um ponto de referência para o avanço da ciência a um nível mais elevado de perfeição, e inspirar outros cientistas a assumir ou aprender melhor sobre a pesquisa. Periódicos constituíram meios eficazes de compartilhar resultados de pesquisas e foi incluído processo de revisão por pares, entre outras formas de validação, controle de qualidade e processos de autenticação. Com o aumento do acesso à internet, os processos de publicação e compartilhamento foram alterados. As editoras descobriram uma maneira de comercializar a concessão de acesso às obras publicadas, e logo começaram a cobrar uma quantidade excessiva além do que cientistas, especialmente aqueles dos países em desenvolvimento, poderiam pagar. O Acesso Aberto (AA) foi uma reação natural a esta comercialização. Este se refere ao acesso online irrestrito a artigos publicados em periódicos acadêmicos. Desde os acontecimentos que tiveram lugar em Budapeste e Berlim, no início dos anos 2000, tornou-se um dos temas mais apaixonadamente discutidos entre a comunidade científica e acadêmica. É um movimento em curso com muitos defensores e proponentes que resolutamente defendem a causa. O movimento AA está alinhado com os Millennium Development Goals (MDG) com seu foco no fortalecimento do capital humano e da meta daWorld Summit on the Information Society’s na construção de sociedades de conhecimento aberto e inclusivo. Para atingir a meta de sociedades do conhecimento abertas e inclusivas, diferentes abordagens e estratégias foram adotadas pela UNESCO. SciELO foi lançado quatro anos antes da Declaração de Budapeste, e seis anos antes da Declaração de Berlim sobre o Acesso Aberto. Na verdade SciELO foi pioneira no conceito de Acesso Aberto e trouxe a pesquisa ao alcance imediato das pessoas comuns. A infraestrutura da SciELO compreende a plataforma para a publicação on-line, juntamente com um sistema de indexação, concebendo o arcabouço inicial que sucedeu ao impulso do SciELO. O lançamento de dez periódicos em um seminário público em São Paulo no seu ano de início ao nível atual de mais de 985 periódicos e mais de 400 mil artigos livremente acessíveis é uma façanha notável e um exemplo por excelência de enfoque em Acesso Aberto! Entendo que o website da SciELO recebe mais de 1,5 milhões de acessos e downloads em um único dia. SciELO, portanto, extrapolou mesmo a definição de Acesso Aberto não apenas trabalhando para fornecer acesso a material acadêmico, como também fornecendo acesso à forma de produzir periódicos visíveis e reconhecidos, ajudando em particular os países em desenvolvimento e emergentes. A ideologia de SciELO de desenvolver uma metodologia comum para a preparação, armazenamento, difusão e a avaliação da literatura científica em formato eletrônico, a enriquece com a estabilidade crítica institucional e demonstra a importância do financiamento do Governo. A realização central de SciELO no incentivo de parcerias resistentes entre as comunidades científicas nacional e internacionais – autores, editores, instituições científicas e tecnológicas, agencias de fomento, universidades, bibliotecas, etc. impulsionaram a difusão, melhoramento e sustentabilidade do modelo SciELO. Esta é a mesma razão pela qual a UNESCO, de acordo com a sua estratégia de Acesso Aberto, considerou a preparação de um estudo de caso sobre o SciELO. É o primeiro estudo de caso deste tipo, que avalia e documenta a contribuição positiva do SciELO, e que irá relacionar os benefícios às comunidades de pesquisa através do mundo. Este livro será lançado durante o aniversário de 15 anos do SciELO. Devo também salientar que o recurso financeiro para preparar esta publicação provém do Governo do Japão. O SciELO África do Sul acaba de adquirir o status de coleção certificada da Rede SciELO, o que dá o direito à coleção e aos periódicos de ter acesso a todos os produtos e serviços oferecidos pela rede. Trata-se do décimo primeiro país que teve êxito em obedecer aos critérios estabelecidos pela Rede. É também o primeiro país não Ibero-Americano a integrar a Rede SciELO. O senhor acha que este fato irá estimular a adoção do modelo SciELO e sua plataforma por outros países em desenvolvimento e emergentes? Sem dúvida que estimulará! Entendo que a África do Sul se associou à Rede SciELO em 2009 assinalando uma necessidade da ampliação do enfoque. Não é muito cedo para avaliar o sucesso do enfoque de SciELO na África, uma vez que 26 periódicos já se associaram à Rede e muitos mais estão considerando unir-se. Com sua filosofia de plataforma descentralizada efervescente e cooperativa, e a maneira com que o SciELO estabelece pontos focais, o SciELO fornece essencialmente um contexto para que o próprio país a conduza o processo de publicação em Acesso Aberto. Outros fatores que considero importante mencionar são a avaliação e os conceitos de sustentabilidade do SciELO. Não só a metodologia assegura a qualidade do processo depeer review, mas seu enfoque exige que estes periódicos continuem publicando. A metodologia desencoraja periódicos temporários e também assegura que os artigos sejam reconhecidos por seu impacto. O modelo bem sucedido do SciELO encoraja funções imperativas de publicação eletrônica, operação de websites, produção de indicadores estatísticos, e medidas de aferição de qualidade, etc. em conjunto com relevantes atividades de treinamento. Em março de 2013, a UNESCO organizou uma Consulta Regional sobre Acesso Aberto em Kingston, Jamaica para avaliar de que forma o acesso gratuito e irrestrito à pesquisa e a comunicação científica aumentam o impacto da pesquisa e beneficiam as instituições de pesquisa, autores, editores, e a sociedade como um todo. A consulta deliberou sobre as modalidades para criar os mecanismos, mandatos e modelos de política que cercam o Acesso Aberto. Os participantes tiveram oportunidade de contribuir para identificar as áreas prioritárias de intervenção para conseguir “abertura” na região e nos países individualmente. Uma das recomendações da consulta foi repetirem o modelo de SciELO de Acesso Aberto no Caribe. Atualmente, estão em nível avançado de discussão, iniciativas com o Governo do Brasil para o apoio técnico e financeiro desta expansão. Penso ainda que a publicação da UNESCO sobre o SciELO e o sumário de políticas relacionadas definitivamente resultará em um aumento da atenção dos Estados Membros para replicar o modelo SciELO em outras partes do mundo. A UNESCO lançou recentemente a sua Política de Acesso Aberto Referente a Publicações da UNESCO tornando todas as suas publicações disponíveis gratuitamente a partir dede 1° de Julho de 2013, através de um repositório. Este é um grande avanço que se encaixa com a política de Acesso Aberto e informação para todos os programas que a UNESCO já vem promovendo há muitos anos. Você poderia comentar sobre esta decisão, suas implicações e por quais outras Organizações das Nações Unidas será adotado? Este é realmente um grande passo que demos para estabelecer que a UNESCO pratica e prega. Em 23 de março de 2013, a Diretoria Executiva da UNESCO discutiu e aprovou uma primeira versão do Projeto de Política de Acesso Aberto de Publicações da UNESCO. Esta decisão deve vigorar a partir de 1° de Julho de 2013. Esta decisão faz da UNESCO a primeira agência da ONU a adotar uma política de AA. O objetivo da política de Acesso Aberto da UNESCO é o de melhorar o acesso à pesquisa, especialmente suas publicações e os dados coletados pela Organização. A política tem como alvo os países em desenvolvimento e é totalmenteapoiada pelos Estados Membros como “um grande passo para fomentar sociedades do conhecimento”. Através de sua política de Acesso Aberto, a UNESCO prevê a disponibilização em acesso aberto de informação de pesquisa submetida à revisão por pares, trabalhos acadêmicos e resultados de pesquisa para todos, usando um sistema de licenciamento do tipoCreative Commons. A intenção é que todas as suas publicações (por exemplo, impressos, áudio, vídeo e multimídia) sejam disponibilizados para acesso online gratuito através do seu site. A política de AA vai exigir que todas as publicações sejam depositadas no repositório, permitindo que qualquer usuário no mundo possa ler livremente, baixar, salvar, copiar, imprimir, reutilizar, adaptar e traduzir o texto completo da obra. A implementação da política incluirá: a criação de um novo Repositório de Publicações da UNESCO multilíngue em AA; a publicação gradual de documentos no repositório; capacitação do pessoal e revisão de contratos existentes; formulários de direitos de permissão; acordos de publicação e a reforma significativa nas políticas de publicação da Organização. A Política de Acesso Aberto requer que o Diretor-Geral incentive os Governos, instituições e organizações de pesquisa a assinarem os instrumentos apropriados de Acesso Aberto como a Declaração de Berlim sobre o Acesso Aberto ao Conhecimento nas Ciências e Humanidades. Estamos, portanto, discutindo com nossos parceiros para organizar o ciclo de conferências de Berlim do próximo ano em Paris. A Knowledge Societies Division of UNESCO dentro do Communication and Information Sector(KSD/CI) tornou-se parte integrante da implementação da Política de Acesso Aberto. KSD/CI desenvolverá ferramentas de capacitação para treinar funcionários de UNESCO a compreender a Política de Acesso Aberto da UNESCO. Isso ajudará a avaliar o desenvolvimento de um novo repositório e sua funcionalidade. Esperamos agora a ser exemplo a seguir. De maneira interessante, o Acesso Aberto tem sido reconhecido como uma agenda implícita para tratar do desafio do conhecimento no futuro. Entendemos que em breve prazo uma nova política sobre os direitos será acordada conjuntamente pelo sistema das Nações Unidas e por muitas outras organizações das Nações Unidas, que adotarão a política de Acesso Aberta em suas publicações. Em fevereiro de 2013 a UNESCO conduziu a First WSIS+10 Review, reunião com associados internacionais para avaliar a implementação das Linhas de Ação da World Summit on the Information Society’s. Como você avalia as conclusões e recomendações da WSIS+10 Review? Como você observou corretamente, a primeira análise multiusuário, que foi realizada em fevereiro deste ano, examinou os avanços das Linhas de Ação da WSIS e analisou os recentes desenvolvimentos, bem como as previsões. Convocado dentro da sua estrutura, o processo geral de análise da WSIS, o evento contribuiu para a análise contínua dos resultados de grandes Conferências das Nações Unidas. O evento abordou em sinergia todas as dimensões dos avanços da WSIS, debateu os desafios relacionados e as questões em jogo no futuro, esboçando visões comuns sobre a agenda pós-2015 e metas de desenvolvimento sustentável nos quais as Information and Communications Technology (ICTs) devem ser reconhecidas adequadamente como promotoras do desenvolvimento inclusivo e paz. A análise reconheceu a capacidade das ICTs e observou que seu uso levou à transformação significativa nas sociedades, capacitando os indivíduos, possibilitado o crescimento econômico e contribuindo para atingir os Objetivos de Millennium Development Goals. A análise concluiu enfaticamente que o acesso à informação e conhecimento está, entretanto, longe de ser universal e equitativa. Muitas pessoas estão ainda excluídas dos benefícios da revolução da informação devido aos desafios existentes no acesso às ICTs acessíveis, assim como falta de políticas e habilidades apropriadas. Reconhecendo o potencial da banda larga para acelerar o progresso socioeconômico de países, ainda há uma necessidade urgente de fechar a brecha entre os países mais ricos e os mais pobres e abordar as disparidades de capacidades humanas e de acesso a conteúdos. Diferenças significativas também prevalecem nos países. A superação destes desafios ajudará a humanidade a colher os dividendos das oportunidades que se encontram diante de nós. O surgimento da Sociedade de Informação fez surgir muitas esperanças. Entretanto, informação e conhecimento são não apenas forças para transformação social. Eles são também essenciais para alcançar a promessa do desenvolvimento sustentável, a compreensão mútua e a paz. As Sociedades do Conhecimento se baseiam na soma da engenhosidade humana, inovação tecnológica e o poder de informação e do conhecimento. Eles têm o potencial de conseguir impactos positivos e duradouros em educação, prosperidade econômica, inclusão social e proteção do meio ambiente, levando adiante a humanidade a uma nova era de paz e desenvolvimento sustentável. Entre muitas outras ações, a WSIS+10 Review reconheceu o Acesso Aberto como um dos elementos fundamentais para fomentar as Sociedades do Conhecimento. Fonte: SciELO em Perspectiva