Agosto/2013
Marina Lemle “Jornalismo narrativo de fôlego” é um nome justo. Afinal, é preciso fôlego tanto para fazer quanto para ler reportagens de mais de 40 mil caracteres, 7 mil palavras ou páginas e mais páginas de revista. Em tempos de internet, haja tempo para isso! Mas o chamado longform journalism está na moda nos Estados Unidos e já existe até um aplicativo – o Pocket – que permite que a pessoa salve o conteúdo em seu dispositivo para ler… quando tiver tempo. Aqui no Brasil, a revista Piauí reina nesta modalidade de jornalismo narrativo de fôlego. Cobrindo a área de ciência para a revista, o jornalista Bernardo Esteves acumula “causos” para contar, e contou alguns para a turma de pós-graduação em divulgação científica do Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz na Fiocruz em 19 de agosto. Ele também discutiu com os alunos a importância de se ir a fundo nas questões. “Não existe um assunto que seja pura ciência, sem implicações políticas, econômicas, sociais, ambientais. É preciso ter uma preparação sólida para tratar dos diferentes aspectos envolvidos nas pautas”, enfatizou. Esteves lembrou que é raro um tema de ciência ganhar as manchetes e elogiou o pioneirismo do jornal The Guardian, que dilui as notícias de ciência no caderno principal. “O tema vai onde a atualidade impuser. Existem os repórteres especializados em ciência, mas as reportagens são colocadas em diferentes áreas do jornal. É um exemplo de flexibilização das fronteiras”, explicou. Outras referências em jornalismo narrativo, segundo Esteves, são as revistas New Yorker, que inspira a Piauí, Wired, de tecnologia, e Matter. Ele contou que faz uma reportagem a cada dois ou três meses e, paralelamente, edita outras seções da revista e faz o blog Questões da Ciência. Para as grandes reportagens, viaja até onde for preciso para entrevistar as fontes e captar os cenários. “A ciência dá margem a um jornalismo literário, que se permite fazer comparações, construir personagens, romancear, compor elementos narrativos, injetar dramas e histórias de vida. A realidade é muito mais rica e complexa do que as visões que costumamos ter das pessoas e das coisas. Vamos em busca do singular, fugindo das abordagens macro. Pode-se criar um conflito e resolver ou não”, disse Esteves, revelando sua paixão pelo trabalho. “Mas isso não é História?”, perguntou um aluno. “Totalmente”, concordou o jornalista. Talvez um pouco frustrados por não conseguirem colocar em prática este jornalismo inspirador, colegas presentes relataram suas dificuldades cotidianas – falta de tempo, de espaço, de acesso à informação, de investimento e outras faltas – e ficaram satisfeitos de ver que algo melhor é possível, apesar de a sustentabilidade deste jornalismo narrativo de fôlego, enquanto negócio, permanecer uma incógnita. Leia algumas das reportagens feitas por Esteves e comentadas por ele no curso da Fiocruz: Cidade do átomo Contadores de carbono Irmãos Corsos no Fundão Os alquimistas
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Narrador com fôlego faz história com ciência
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