Como usar inteligência artificial sem escorregar na ética

Agosto/2025

Uma proposta de diretrizes para uso de Inteligência Artificial (IA) em periódicos de História foi apresentada na última reunião presencial do Fórum de Editores no 33º Simpósio Nacional de História da Anpuh, em julho de 2025, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. O documento é resultado das discussões realizadas pelo Grupo de Trabalho sobre Inteligência Artificial do Fórum.

Reunião do Fórum de Editores no 33º Simpósio Nacional de História da Anpuh, realizado em julho de 2025 na UFMG

Reunião do Fórum de Editores no 33º Simpósio Nacional de História da Anpuh, realizado em julho de 2025 na UFMG

Presente aos debates, a editora-executiva da revista História Ciências, Saúde – Manguinhos, Roberta Cardoso Cerqueira, que integra o Fórum, é uma das signatárias do documento.

De acordo com Roberta, o documento é importante para nortear práticas e discussões em três áreas importantes da história: ensino, pesquisa e publicação.

“A proposta contém sugestões e orientações para editores lidarem com inteligência artificial na publicação científica, e não só para editores, mas também pareceristas, professores, alunos, pesquisadores e autores de textos em geral nas áreas humanas. Buscamos chamar atenção para os perigos e benefícios da IA, estimulando o bom uso dos recursos e ferramentas, para que contribuam de forma produtiva na construção do texto”, explica. Para ela, é importante que se busque como a IA pode contribuir para a publicação acadêmica, sem demonizar seu uso ou estigmatizar quem a utiliza.

No documento, os editores definem as seguintes categorias de sistemas de inteligência artificial:

– IA Generativa: sistemas que criam novos conteúdos como textos, imagens ou áudios, como ChatGPT ou Google Gemini), cujo uso deve ser declarado explicitamente;

– Processamento de Linguagem Natural (PLN): ferramentas que analisam, traduzem ou processam texto sem gerar conteúdo original significativo, como corretores gramaticais e ferramentas de tradução, que requerem menção, mas não declaração detalhada;

– Reconhecimento e análise: sistemas que identificam padrões em dados, textos, imagens ou sons, como reconhecimento facial, análise de imagens históricas, OCR para texto impressos e HTR para manuscritos. Seu uso deve ser descrito na seção de métodos, incluindo parâmetros e limitações;

– Recomendação e busca: algoritmos que auxiliam na descoberta e organização de fontes, referências e bibliografia, como ferramentas avançadas de busca deve ser mencionado, quando utilizado de forma significativa da metodologia da pesquisa;

– Algoritmos de visualização: usados para geração de gráficos e mapas, devem ser descritos de modo detalhado.

“Qualquer uso de inteligência artificial deve ser informado de acordo com princípios éticos e boas práticas de comunicação científica. Compreende-se que ocultar o uso de conteúdo gerado por meio de inteligência artificial é uma falha ética que viola os princípios de integridade em pesquisa e desvaloriza a autoria humana, podendo induzir à retratação do artigo. Cabe à autoria humana assumir a responsabilidade pública por seu trabalho e zelar pelo bom uso de recursos tecnológicos”, afirma o documento, que pode ser lido na íntegra aqui: https://doi.org/10.5281/zenodo.15985593

A reunião foi conduzida pela professora Sônia Meneses, da Universidade Regional do Cariri (URCA), editora da Revista Brasileira de História e uma das responsáveis pela coordenação do Fórum. Estavam presentes também o outro coordenador, Marcus Bonfim, editor da Revista História Hoje e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); e Marcos Eduardo de Sousa (UFOP e Cefet-MG), assistente editorial do Fórum.

Foram apresentadas as iniciativas implementadas ao longo da gestão (2023-2025) e alguns de seus resultados, com destaque para a discussão sobre as mudanças feitas pela Capes na avaliação dos periódicos científicos brasileiros. Além disso, foram apresentados dados importantes sobre os periódicos de História, como que a área possui 224 títulos em atividade, e sobre a presença nos principais indexadores que nortearão a avaliação dos produtos bibliográficos no quadriênio 2025-2028.

Roberta C. Cerqueira, editora-executiva de História Ciências, Saúde – Manguinhos, 2025

Roberta C. Cerqueira, editora-executiva de História Ciências, Saúde – Manguinhos, 2025

Desde sua criação, em 2019, o Fórum tem sido um espaço importante para as discussões que têm ocorrido sobre edição científica em periódicos, seus impactos na área de História, além de contribuir como espaço formativo e reflexivo, contando sempre com a participação tanto de novos editores quanto de editores com experiência de atuação. 

Todos os documentos produzidos nas reuniões do Fórum estão disponíveis na página da Anpuh, na seção do Fórum de Editores: https://anpuh.org.br/index.php/forum-de-editores-2/item/6569-documentos-produzidos).

“A expectativa é que os trabalhos avancem na nova gestão e que a participação dos editores e equipes editoriais se intensifique, com ideias e propostas para a área. Ficou evidente no encontro a importância das discussões e iniciativas do Fórum, consolidando-o como um espaço de trocas e apoio aos editores”, afirma Roberta Cardoso Cerqueira.

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