Julho/2025

Fóssil de estrela do mar. Exposição “No tempo em que o Brasil era mar”, no Museu Nacional, 2017. Foto: Grupo Palaios
Inaugurado em 6 de junho de 1818 e reduzido a cinzas 200 anos depois, num incêndio em 2 de setembro de 2018, o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Quinta da Boa Vista, foi reconstruído e reinaugurado recentemente, em 2 de junho de 2025. O prédio foi refeito, mas o acervo do Museu, quase todo perdido, agora existe apenas nos registros feitos antes da tragédia.
O acervo da Seção de Memória e Arquivo (Semear), por exemplo, foi a principal fonte primária de Joana David Caprário de Lima na sua pesquisa de doutorado em Museologia e Patrimônio da Unirio/Mast, defendida em 2019 e laureada com o Prêmio Capes de Teses daquele ano. A pesquisa ficou ainda mais relevante depois do incêndio.
Joana de Lima também é autora do artigo A coleção de paleoinvertebrados do Museu Nacional, Rio de Janeiro: práticas museológicas e etapas da sua trajetória, publicado no final do ano passado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 31/2024). O artigo analisa os aspetos gerais da formação da coleção de paleoinvertebrados do Museu Nacional e as etapas da sua trajetória, tendo em consideração o próprio percurso da instituição, sob a perspectiva da museologia e dos estudos sobre o patrimônio. São abordados o alcance da coleção no contexto do departamento, os procedimentos por que passou e as práticas em que esteve envolvida, nomeadamente a pesquisa, o ensino e as exposições. Segundo a autora, a trajetória da coleção reflete os contextos do museu de meados do século XIX até o início do século XXI.

Exposição “No tempo em que o Brasil era mar” (2017- 2018), com fósseis da Coleção de Paleoinvertebrados. Reprodução de fotografia da tese de doutorado de Joana de Lima.
“A coleção de paleoinvertebrados do Museu Nacional, tal como se encontrava antes do incêndio é, muito provavelmente, constituída apenas pelo que sobreviveu ao tempo, e não o retrato fiel da sua formação e trajetória. Resulta de vários processos de formação, nomeadamente coletas, doações e permutas ocorridas, grosso modo, a partir da década de 1940, e foi alvo de várias curadorias”, explica Joana de Lima, que é pesquisadora do Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
De acordo com a pesquisadora, nos seus 181 anos de formação, as quatro etapas por que passou a coleção de paleoinvertebrados refletem mudanças sensivelmente a cada 30 anos, o que significa que a cada duas ou três gerações de curadores ocorrem modificações que traduzem diferentes formas de olhar e tratar as sub-coleções.
“A sua trajetória envolveu a mudança de instalações, a participação em exposições, além de diversos processos de tratamento, reorganização e acondicionamento que, no conjunto, abrangeram a gestão do espaço disponível, a eliminação do material destituído de interesse e a implementação de medidas de segurança. Estas atividades permitiram elucidar sobre o papel do Museu na gestão das coleções”, afirma.
Leia na revista HCS-Manguinhos:
A coleção de paleoinvertebrados do Museu Nacional, Rio de Janeiro: práticas museológicas e etapas da sua trajetória, artigo de Joana David Caprário de Lima (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 31, 2024)
Leia também:
A coleção de mosquitos de Antonio Gonçalves Peryassú do Museu Nacional, Rio de Janeiro: registro de memória de um patrimônio desaparecido, artigo de Ricardo Lourenço-de-Oliveira e Francisco dos Santos Lourenço (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 30, 2023)
O incêndio, a morte e a esperança
Carta dos Editores Marcos Cueto e André Felipe Cândido da Silva (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, vol.25, no.3 jul./set. 2018)
Souza VS; Santos RV; Coelho MCS; Hannesh O; Carvalho CR. Arquivo de Antropologia Física do Museu Nacional: fontes para a história da eugenia no Brasil. (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 16, 2009)
Santos RV; Gaspar Neto VV. Entre ossos e cientistas: um mergulho na pré-história americana. (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 16, 2009)
Sá GJS; Santos RV; Carvalho CR; Silva EC. Crânios, corpos e medidas: a constituição do acervo de instrumentos antropométricos do Museu Nacional na passagem do século XIX para o XX. (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 15, 2008)
Santos RV. A obra de Euclides da Cunha e os debates sobre mestiçagem no Brasil no início do século XX: Os Sertões e a medicina-antropologia do Museu Nacional (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 5, suplemento, 1998)
Leia no Blog de HCS-Manguinhos:
No tempo em que o Brasil era mar

O incêndio, a morte e a esperança

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