Junho/2025

A arqueóloga Niède Guidon – Foto de divulgação
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lamentaram o falecimento, na madrugada de hoje (4/6), da arqueóloga Niède Guidon, aos 92 anos.
Membra Titular da ABC, Niède Guidon foi responsável pela criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde atuou por mais de cinco décadas e desenvolveu seus principais trabalhos.
Guidon graduou-se em História Natural pela Universidade de São Paulo (USP) em 1959 e obteve o título de doutora em Pré-História pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne em 1975. “À frente das escavações na Serra da Capivara desde a década de 1970, a cientista foi responsável pela descoberta de mais de 800 sítios arqueológicos com pinturas rupestres e ferramentas de pedra lascada que nos dão uma janela de observação sobre a ocupação antiga no continente americano. Seus trabalhos ajudaram a inserir o Brasil no cenário da arqueologia internacional e geraram debates intensos sobre a antiguidade da presença humana nas Américas”, informa o site da ABC.
A arqueóloga também teve atuação fundamental da criação do Museu do Homem Americano, no Parna da Serra da Capivara. O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, destacou a importância científica e simbólica do local. “Ela produziu um museu fantástico, que é um deleite para quem visita e deveria ser uma atração turística no oeste do Piauí. Além disso, ela conduziu pesquisas que revolucionaram o conhecimento sobre a presença humana no continente americano. Ela fará falta, mas deixa uma memória impactante e perene”, disse ao site da SBPC.
Numa nota de pesar, o MCTI afirma: “Com coragem, rigor científico e compromisso com a educação, Niède construiu um legado que transcende a ciência. Fundadora da Fundação Museu do Homem Americano, membro da Academia Brasileira de Ciências e Grande Oficial da Ordem Nacional do Mérito Científico, foi também uma das vozes mais firmes na defesa da valorização do conhecimento e da presença feminina na ciência. Niède Guidon deixa uma marca indelével na história do Brasil.”
Numa rede social, a socióloga, ex-ministra da Saúde (2023-2025) e pesquisadora da Fiocruz Nísia Trindade Lima escreveu:
“É com profundo pesar que recebo a notícia do falecimento de Niède Guidon, arqueóloga de renome internacional, cujo trabalho redimensionou o entendimento sobre o povoamento das Américas. Sua dedicação à Serra da Capivara transformou a região em um dos mais importantes patrimônios científicos e culturais do mundo, preservando vestígios fundamentais da história da humanidade. Foi a seu pedido que o governo brasileiro criou o Parque Nacional na região, que abriga mais de 1.200 sítios arqueológicos, com a maior concentração de pinturas rupestres do planeta. Graças ao seu empenho, a UNESCO reconheceu a área como Patrimônio Cultural da Humanidade em 1991. Niède desenvolveu ali um modelo pioneiro de desenvolvimento sustentável para a Caatinga, integrando pesquisa científica, conservação ambiental e inclusão social, abraçando o lugar também como morada.
Recordo com carinho nosso encontro no Museu do Amanhã, durante o evento “A Presença Feminina na Ciência”, que homenageou Niède em junho de 2018. Registramos um momento de afeto e reconhecimento à sua trajetória ímpar. Ela não apenas expandiu as fronteiras do conhecimento arqueológico, mas também formou gerações de pesquisadores e construiu instituições duradouras, como a Fundação Museu do Homem Americano e o Museu da Natureza.
Niède reescreveu o papel da mulher na ciência com a coragem e perseverança de uma grande arqueóloga, mostrando que a preservação da memória é também um ato de futuro. À comunidade científica, à família e aos amigos que tiveram o privilégio de seu convívio, meus sentimentos.”