Março/2025

Cascatinha da Tijuca, também conhecida como Cascatinha Taunay. Foto de Marc Ferrez, c.1885 (Instituto Moreira Salles)
Desde o século XVI, o maciço da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi fonte de recursos naturais para o crescimento da cidade, como água, carvão, lenha e madeira, o que resultou na redução florestal aos atuais 25% do território carioca. Na primeira metade do século XIX, grande parte da vegetação foi derrubada e queimada para dar lugar à cafeicultura. A conversão de florestas em áreas agrícolas, produtoras de madeira e de energia, era comum na Europa nos séculos XVIII e XIX.
Os impactos decorrentes da transformação da paisagem levaram à necessidade da realização de ações de reflorestamento, desde medidas protetivas, como o decreto de 1817, que proibiu o corte de árvores perto de nascentes do rio Carioca, principal curso d’água da cidade, à recuperação das áreas degradadas, na década de 1840, incluindo plantios experimentais perto de nascentes.
O plantio da Floresta da Tijuca foi conduzido por Manoel Gomes Archer (1862-1874 e 1890-1891), Gastão d’Escragnolle (1874-1888) e outros administradores, como o paisagista francês Auguste François Marie Glaziou (1889). No artigo “Éden Fluminense”: de área de reflorestamento no maciço da Tijuca a espaço público europeizado do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 31, 2024), professores do Departamento de Biologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) refletem sobre o processo de ressignificação do maciço da Tijuca após o projeto de plantio, junto com uma proposta de usos sociais da floresta, alinhada ao imaginário europeu de valorização da natureza.

Paisagem do Rio de Janeiro da Vista Chinesa. Foto de Marc Ferrez, c.1885 (Instituto Moreira Salles)
A partir de fontes primárias do Arquivo Nacional e da Biblioteca Nacional, especialmente da Hemeroteca Digital, Gabriel Paes da Silva Sales, Mariana Reis de Brito e Rejan R. Guedes-Bruni analisaram a mudança na percepção dessas áreas verdes, transformadas em parques públicos. O artigo é ilustrado com fotos de Marc Ferrez e um anúncio de 1873 de oito “passeios pitorescos” a serem feitos no Rio de Janeiro.

Anúncio destacando as oito atrações que poderiam ser visitadas no maciço da Tijuca (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1873, p.456)
“Conhecer as diversas atrações no maciço da Tijuca, apresentadas em anúncios de jornais do século XIX, foi fundamental para compreender como as áreas verdes inseridas no contexto urbano carioca, juntamente com as paisagens naturais, expressavam as demandas, os interesses e as expectativas da sociedade brasileira, mais particularmente de uma elite aristocrática, que marcavam o período histórico em questão”, revelam os autores. Segundo eles, Archer, d’Escragnolle e Glaziou imprimiram ao maciço suas personalidades e tendências estrangeiras, associadas às demandas sociais e políticas locais.
Leia o artigo na íntegra:
“Éden Fluminense”: de área de reflorestamento no maciço da Tijuca a espaço público europeizado do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX , artigo de Gabriel Paes da Silva Sales, Mariana Reis de Brito e Rejan R. Guedes-Bruni (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 31, 2024)
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