Informação: primeiro passo para prevenção e enfrentamento da Aids

Novembro/2024

No próximo domingo, 1º de dezembro, é o Dia Mundial de Luta contra a Aids. A data foi instituída em 1988 com o objetivo de alertar a sociedade sobre a doença, conscientizar sobre o impacto do HIV, apoiar as pessoas que vivem com a doença e combater o preconceito, que persiste até hoje.

Para marcar a data, selecionamos entrevistas publicadas recentemente em outros veículos de divulgação científica da Fiocruz e também o farto material publicado no Blog e na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos.

Estratégias biomédicas em detrimento de abordagens estruturais e comportamentais

Começamos com a nota de pesquisa de Simone Monteiro e Mauro Brigeiro, pesquisadores do IOC/Fiocruz, publicada na atual edição da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 31, 2024): Biomedicalização e as respostas à aids no Brasil: notas de pesquisa. Introduzem os autores:

“Uma das principais características da resposta global ao vírus da imunodeficiência humana (HIV) na última década é o predomínio de estratégias biomédicas, em detrimento de abordagens estruturais e comportamentais. Sob a perspectiva histórica, a reconfiguração é notória. A epidemia de HIV tornou-se um problema prioritariamente médico, a clínica vem a ser o lócus privilegiado para seu controle, e os debates acerca das desigualdades estruturais e dos direitos humanos perderam centralidade. A prevenção, agora englobada pela lógica do tratamento, supõe um esforço para rastreamento de casos, rápida vinculação a terapias antirretrovirais e oferta de profilaxias medicamentosas para pessoas consideradas sob risco. Este texto aborda desdobramentos dessas diretrizes globais no Brasil, articulando dados de nossas pesquisas recentes, informadas pela análise socio-antropológica e pelos estudos sociais da ciência e da tecnologia.” Leia o texto completo

Desigualdade e preconceito

A newsletter da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz traz uma entrevista com sanitarista Paulo Roberto Teixeira, criador do programa pioneiro em DST/Aids no Brasil, em que ele recorda momentos importantes do enfrentamento à doença no Brasil, país que se tornou exemplo mundial de combate ao HIV/Aids. Gestor da área no Ministério da Saúde e na Organização Mundial da Saúde (OMS) e referência internacional no tema, ele afirma: “Não vamos eliminar a Aids enquanto houver desigualdade de acesso, preconceito e discriminação”. Leia aqui.

Quem também afirma que o “conservadorismo é um desafio na luta contra a Aids” é Eliza Vianna, pesquisadora da história da Aids. Ela deu entrevista ao Blog de HCS-Manguinhos por ocasião do Dia Mundial de Luta Contra a Aids do ano de 2019, quando foi lançada nova campanha pelo Ministério da Saúde. “Como prevenir uma infecção sexualmente transmissível sem falar de sexo e sexualidade?”, questionava. 

Decolonizar a narrativa sobre Aids no mundo

Beatriz Grinsztejn. Foto: Radis

Beatriz Grinsztejn. Foto: Radis

A mais recente edição da revista Radis (n. 266, nov/2024), da Ensp/Fiocruz, também enfoca a Aids numa entrevista com Beatriz Grinsztejn, pesquisadora do INI/Fiocruz e nova presidente da International Aids Society (IAS). À frente de uma das mais importantes sociedades científicas mundiais, ela fala sobre ser a primeira brasileira — e a primeira mulher latino-americana — a assumir a presidência da IAS, revelando a expectativa de levar a voz do Sul global ao centro de tomada de decisões.

“O processo de decolonização tem que ser contínuo. Muitas pesquisas são conduzidas na África, na Ásia, na América Latina, mas o autor principal é do Norte global. São questões críticas que a gente tem que enfrentar a cada dia, para que a nossa narrativa seja preponderante”, afirma. Na entrevista, ela também comenta avanços e desafios no enfrentamento ao HIV a partir dos temas tratados na 25ª Conferência Internacional sobre Aids, que aconteceu na Alemanha, em julho de 2024. “Mesmo tendo tratamento acessível e disponível, ainda há no mundo quase 10 milhões de pessoas que não acessam a terapia antirretroviral”, relata.

Beatriz Grinsztejn também aborda as expectativas em torno do uso da Profilaxia de Pré-Exposição (PrEP) de longa duração e da ampliação da estratégia para populações em situação de vulnerabilidade, além dos impactos das co-infecções de HIV com covid e mpox. A pesquisadora explica como funciona o projeto internacional Unity, liderado por ela e que reúne, além do INI, centros de pesquisa de Brasil, Argentina e Suíça para avaliar a eficácia de um antiviral no tratamento de pessoas com mpox. Leia aqui

Vale destacar também a entrevista de Richard Parker, pesquisador da Universidade de Columbia e diretor da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), ao Blog de HCS-Manguinhos. Segundo ele, as condições atuais do mundo não sugerem que a Aids venha a ser uma prioridade significativa para a comunidade global.

Leia a entrevista: Epidemia de Aids no Brasil: a história chegou ao fim?

Cabe lembrar ainda o lançamento, em 2023, de Uma História Global e Brasileira da Aids, 1986-2021, livro de Marcos Cueto e Gabriel Lopes que traça uma história da resposta ao HIV e à aids no Brasil e no mundo e como esta resposta moldou e foi moldada pelo campo da saúde global.

Veja uma amostra e adquira o livro na Editora Fiocruz ou via SciELO Books.

Leia mais no Blog e na revista HCS-Manguinhos:

Arquivos representam de maneira inadequada o impacto da aids, afirma pesquisadora da Universidade de Amsterdam
Leia na revista HCS-Manguinhos artigo de Manon Parry “Public health heritage and policy: HIV and AIDS in museums and archives”

HIV/Aids, os estigmas e a história
Leia a Carta dos Editores André Felipe Cândido da Silva e Marcos Cueto e acesse o novo número de HCS-Manguinhos (vol.25, n.2, abr./jun. 2018)​

Marcos Cueto e Gabriel Lopes publicam artigo sobre a participação do Brasil na política global da Aids
Trabalho acaba de ser publicado na revista Social History of Medicine (Oxford University Press)

Aids no Brasil: entrelaçando ativismo, direitos humanos, saúde pública e agências internacionais
Do confronto entre os atores à sinergia que levou ao sucesso e reconhecimento mundial do programa, as décadas de 1980 e 1990 são o recorte temporal do novo artigo de Marcos Cueto e Gabriel Lopes

Retrocesso na saúde global e o fim do excepcionalismo da Aids no Brasil, 2007-2019
Os historiadores Marcos Cueto e Gabriel Lopes publicaram artigo na revista Global Public Health

Aids: 30 anos depois, jovens em risco 
Dilene Raimundo do Nascimento fala sobre a Aids no Brasil desde a década de 1980 e chama atenção para a necessidade de se conscientizar os jovens

Estudo analisa noticiário do Dia Mundial da Luta contra a Aids 
Ana Condeixa analisou como dois grandes jornais brasileiros abordaram o tema anualmente por 25 anos 

A emergência da Aids no estado do Amazonas
Pesquisadores analisam o contexto histórico, social e político do surgimento da doença no fim da década de 1980 e como as respostas locais foram moldadas 

Leia ainda em HCS-Manguinhos: 

Rocha Kadri, Michele, e Schweickardt, Júlio César. A emergência da Aids no Amazonas (HCS-Manguinhos vol.23, no.2, abr./jun. 2016)

Nascimento, Dilene Raimundo do. A face visível da Aids. HCS-Manguinhos Jun 1997, vol.4, no.1  

Andrade, Maria de Fatima de Oliveira, Martins, Maria Cezira Fantini Nogueira and Bógus, Cláudia Maria Casa Siloéa história de uma ONG para crianças portadoras de HIV/AIDS. HCS-Manguinhos Dez 2007, vol.14, no.4

Zaquieu, Ana Paula V. Os desafios da alteridade:considerações sobre gênero e sexualidade entre militantes de uma ONG/Aids carioca. HCS-Manguinhos Mar 2006, vol.13, no.1

Marques, Maria Cristina da Costa. Contradições e assimetrias na construção do conhecimento em Aids/HIV. HCS-Manguinhos Ago 2005, vol.12

Góis, João Bôsco Hora. Novas reflexões sobre a Aids?. HCS-Manguinhos Ago 2005, vol.12, no.2

Moutinho, Laura. Tal Brasil, qual prevenção?. HCS-Manguinhos Ago 2004, vol.11, no.2

Monteiro, Simone. Uma visão histórica sobre uma epidemia contemporâneaa Aids e o caso peruano. HCS-Manguinhos Dez 2003, vol.10, no.3

Góis, João Bôsco Hora. Reabrindo a ‘caixa-preta’rupturas e continuidades no discurso sobre Aids nos Estados Unidos (1987-98). HCS-Manguinhos Dez 2002, vol.9, no.3

Marques, Maria Cristina da Costa. Saúde e podera emergência política da Aids/HIV no Brasil. HCS-Manguinhos 2002, vol.9

Xavier, Caco. Aids é coisa séria! – humor e saúdeanálise dos cartuns inscritos na I Bienal Internacional de Humor, 1997. HCS-Manguinhos  Jun 2001, vol.8, no.1

Ayres, José Ricardo de Carvalho Mesquita. Ruína e reconstruçãoAIDS e drogas injetáveis na cena contemporânea. HCS-Manguinhos Nov 1996, vol.3, no.3

Ferreira, Andréa Rocha. Quebrando o silênciomulheres e AIDS no Brasil. Out 1996, vol.3, no.2 Bastos, Cristiana. As ciências da Aids e a Aids das ciências:o discurso médico e a construção da Aids. HCS-Manguinhos Out 1995, vol.2, no.2 

Camargo Jr., Kenneth R. de. Aids e a Aids das ciências. HCS-Manguinhos Out 1994, vol.1, no.1 

Artigos em francês e espanhol: 

Bidegain, Evangelina Anahí. Una etnografía sobre personas viviendo con sida, calidad de la atención y construcción de la enfermedad. HCS-Manguinhos Abr 2019, vol.26, no.2.

Spesny, Sara Leon. Les politiques du corps: l’approche critique de Didier Fassin à l’épidemie du Sida en Afrique du Sud. HCS-Manguinhos Dez 2014, vol.21, no.4 

Torres-Ruiz, Antonio. Nuevos retos y oportunidades en un mundo globalizadoanálisis político de la respuesta al VIH/Sida en México. HCS-Manguinhos Set 2006, vol.13, no.3

Cueto, Marcos. El rastro del SIDA en el Perú. HCS-Manguinhos 2002, vol.9

Löwy, Ilana. Les métaphores de l’immunologieguerre et paix. HCS-Manguinhos  June 1996, vol.3, no.1