Charles Pessanha: um cientista em defesa da publicação científica brasileira

26 de julho de 2024

Charles Pessanha. Foto: revista Dados, 2020.

A comunidade científica nacional, em especial a das ciências humanas, recebeu ontem (25/07/2024), com muita tristeza, o falecimento do sociólogo Charles Pessanha. Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, Pessanha dedicou suas pesquisas à teoria política e aos estudos de instituições de controle e aos estudos sobre publicação científica. Neste campo, podemos considerá-lo ator importante e definitivo para o desenvolvimento da publicação acadêmica no Brasil.

Foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Editores Científicos (Abec) em 1985, e o único editor científico da área de ciências humanas a ser convidado a fazer parte do lançamento do projeto Scielo, em 1998. Editor emérito da revista Dados, promoveu inúmeras mudanças na publicação aos longo dos anos.

A história da publicação científica no país a partir da década de 1980 não pode ser escrita sem se citar a importância que o trabalho de Charles Pessanha teve no aprimoramento das revistas científicas brasileiras.

Roberta Cardoso Cerqueira e Charles Pessanha

Foi num dos inúmeros congressos organizados pela Abec que tive meu primeiro contato com ele, eu era ainda uma estudante da graduação de história e recém-chegada à revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Como um dos nossos editores adjuntos, sempre trazia comentários, sugestões, informando-nos sobre o estado da arte da publicação científica não só no Brasil, como no cenário internacional.

Generoso, Pessanha compartilhou comigo suas experiências e as tantas histórias sobre editoria científica e sua militância política em uma longa entrevista concedida a mim [1] em 2022, por ocasião de minha pesquisa de doutoramento. Ao tratar das ações que ajudou ao desenvolvimento do campo da publicação científica nacional, me confessou: “Mas foi uma aventura, sabe? Eu me orgulho muito da minha vida profissional, do Scielo. (…) a gente sabia que estava fazendo uma coisa que ia revolucionar. E foi importantíssimo, não é?”

Terminamos a conversa com algumas ideias sobre pesquisa em comunicação científica e publicações, com a vontade dele ainda grande de continuar com seus trabalhos. Em breve, espero compartilhar esta conversa para que se torne fonte e também inspiração para muitas “aventuras” no fazer e na pesquisa sobre periodismo científico.

Roberta Cardoso Cerqueira, editora-executiva da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos.

 

[1] PESSANHA, Charles. Entrevista concedida a Roberta Cardoso Cerqueira. Rio de Janeiro, 26 maio 2022. Mp4 (110 mim.).