Maio/2024
Como um conjunto de imagens pode contribuir para o fortalecimento de identidades de diferentes sujeitos de uma comunidade e ajudar a entender relações de afeto estabelecidas? No artigo Luta contra o apagamento: acervo comunitário de fotografias da igreja São Daniel Profeta, em Manguinhos, publicado na seção Imagens revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (suplemento 2, volume 30, 2023), os arquitetos da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz Inês El-Jaick Andrade, coordenadora do Núcleo de Estudos de Urbanismo e Arquitetura em Saúde, e Éric Alves Gallo discutem a construção e a valorização dos laços que unem a Igreja São Daniel Profeta e sua comunidade no território de Manguinhos, no Rio de Janeiro.
Os autores analisam uma seleção de fotografias digitalizadas no projeto de educação patrimonial desenvolvido pela Comissão de Preservação da Igreja de São Daniel Profeta entre 2019 e 2021. Numa oficina comunitária sobre narrativas e memórias relacionadas à igreja de São Daniel, foram compartilhadas fotografias dos acervos pessoais dos fiéis com objetivo de construir um acervo coletivo iconográfico. Foram digitalizadas cerca de 226 fotografias, divididas em oito coleções, cedidas à Comissão com legendas elaboradas pelos cedentes.
Entre os itens, destacou-se a Coleção Luiz Mello, que apresenta um contexto de produção de base comunitária, pois seu acervo é composto de um álbum produzido pela comunidade, que num dado momento foi descartado pela paróquia, recuperado e salvaguardado pelo cedente.
O álbum começa com a inauguração, com a presença de autoridades políticas e eclesiásticas, do templo projetado por Oscar Niemeyer em 1960. As imagens evidenciam a importância de tal construção num contexto de efervescência sociocultural da comunidade paroquial no Estado da Guanabara nos primeiros anos da década de 1960.
O artigo ajuda a compreender a estratégia da inserção da Igreja católica e do Estado em territórios de favelas na segunda metade do século 20 no Rio de Janeiro.
A igreja teve seus atributos arquitetônicos e artísticos reconhecidos por tombamento estadual em 1966 e municipal em 1998. Apesar de tombada, a “hóstia” – como a igreja é chamada pela população local, em referência à sua forma circular – teve seus elementos estéticos bastante alterados ao longo dos anos. Mas, mesmo com as modificações, os reconhecimentos foram mantidos e o templo permanece como um espaço de identidade e pertencimento para a comunidade, ativando memórias associadas.
Segundo os autores, a preservação de documentos, sobretudo os iconográficos, em territórios de vulnerabilidade social se torna um enorme desafio diante das adversidades territoriais como enchentes, incêndios e desabamentos, e sua valorização contribui para a compreensão das relações de afeto estabelecidas, contribuindo para evitar o apagamento histórico.
Leia na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos:
Luta contra o apagamento: acervo comunitário de fotografias da igreja São Daniel Profeta, em Manguinhos, artigo de Inês El-Jaick Andrade e Éric Alves Gallo (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, suplemento 2, volume 30, 2023)
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