Outubro/2023
Alana Gandra e Mariana Tokarnia | Agência Brasil, Rio de Janeiro
Com 23 votos, o escritor e ativista ambiental Ailton Krenak foi eleito nesta quinta-feira (5/10) para a Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele é o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL, assumindo a cadeira número 5, que pertenceu a José Murilo de Carvalho, falecido em agosto deste ano. Disputaram com Krenak a historiadora Mary del Priore e o escritor também indígena Daniel Munduruku, que obtiveram, respectivamente, 12 e quatro votos.
Para o presidente da ABL, Merval Pereira, Krenak é um poeta com “visão de mundo muito própria e apropriada para este momento, em que o mundo está preocupado com o meio ambiente, em que os povos originários lutam por seus direitos. Tudo isso está embutido na vitória de Krenak na Academia. É um indígena que trabalha com a cultura indígena, com a valorização da oralidade”.
Merval Pereira citou o livro Futuro Ancestral, de Krenak, que trata da preservação dos rios como forma de conservar o futuro. “Os rios já estavam aqui antes de a gente chegar. Esta visão da natureza, do homem junto com a natureza, é que a gente está reforçando com esse grande escritor e intelectual indígena”.
A acadêmica Rosiska Darcy classificou a eleição de Krenak como histórica. “Não só para Academia, como para o Brasil, não há melhor substituto para um grande historiador do que a história encarnada, que é o Krenak. Krenak encarna hoje uma parte importante da história do Brasil. Estou muito feliz com a eleição dele”, manifestou a escritora.
A data de posse ainda não foi definida pelo novo imortal da ABL. A escolha é um acerto dele com a ABL.
Ativismo
Ailton Krenak nasceu em 1953, na região do vale do rio Doce (MG), território do povo Krenak, um local afetado pela atividade de extração de minérios. Krenak é ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas. É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal de Juiz de Fora.
Krenak organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia e contribuiu para a criação da União das Nações Indígenas (UNI). É coautor da proposta da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) que criou a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, em 2005, e é membro de seu comitê gestor.
Nas décadas de 1970 e 1980, foi determinante para a conquista do “Capítulo dos índios”, o capítulo 8º na Constituição de 1988, que passou a garantir, no papel, os direitos indígenas à cultura e à terra. Entre os livros mais recentes, estão Ideias para adiar o fim do mundo (2019), A vida não é útil (2020), Futuro ancestral (2022) e Lugares de Origem (2021), escrito junto com Yussef Campos.
Em A vida não é útil, ele aborda a pandemia da covid-19 e diz: “Se durante um tempo éramos nós, os povos indígenas, que estávamos ameaçados da ruptura ou da extinção do sentido da nossa vida, hoje estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar a nossa demanda”. Krenak valoriza a cultura indígena e mostra que a forma de lidar com a natureza e o mundo têm muito a ensinar a sociedades capitalistas. “Já vi pessoas ridicularizando: ele conversa com árvore, abraça árvore, conversa com o rio, contempla a montanha, como se isso fosse uma espécie de alienação. Essa é a minha experiência de vida. Se é alienação, sou alienado. Há muito tempo não programo atividades para depois. Temos de parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã”, diz em outro trecho do mesmo livro.
Fonte: Agência Brasil/EBC
Artigos em diversas edições da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos abordam questões indígenas. Confira!
Leia em HCS-Manguinhos:
A flora da antiga capitania de Porto Seguro na viagem de Wied-Neuwied, 1815-1817: prática científica, inventário naturalista e colaboração indígena, artigo de Francisco Cancela (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, vol. 28, n. 3, jul/set 2021)
Ordem Consolata e povos indígenas do território federal do Rio Branco (1948-1952): estratégias de abordagem para inserção de cuidados, artigo de Jacquelaine Alves Machado, Raphael Florindo Amorim e Fernando Porto (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 27, n. 4, out./dez. 2020)
“Where are the Botocudos?” Anthropological displays and the entanglements of staring, 1882-1883, artigo de (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 26 n. 3 jul./set. 2019)
Novas raças, novas doenças: a possibilidade colonizadora por meio da mistura racial em History of Brazil (1810-1819) de Robert Southey, artigo de Flávia Florentino Varella (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 23, supl.1, Dez/2016)
A abordagem historiográfica dos séculos XIX e XX sobre a atuação de médicos e boticários jesuítas na América platina no século XVIII – artigo de Eliane Cristina Deckmann Fleck (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 21 n.2 abr./jun. 2014)
“O Sesp nunca trabalhou com índios”: a (in)visibilidade dos indígenas na atuação da Fundação Serviços de Saúde Pública no estado do Amazonas, artigo de Amandia Braga Lima Sousa e Júlio César Schweickardt (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol.20, no.4, dez 2013)
A emergência da medicina tradicional indígena no campo das políticas públicas, artigo de Luciane Ouriques Ferreira (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol.20, no.1, jan./mar. 2013)
Evidências de medicina mestiça em obra escrita por irmão jesuíta na América meridional do século XVIII – Artigo de Eliane Cristina Deckmann Fleck e Roberto Poletto (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 19, n.4, dez 2012)
O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio, artigo de Fernando de Tacca (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 18, n.1, mar. 2011)
Aspectos socioculturais de vacinação em área indígena, artigo de Luiza Garnelo (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 18, n. 1, mar. 2011)
Comunidade sateré-mawé Y’Apyrehyt: ritual e saúde na periferia urbana de Manaus, artigo de João Bosco Botelho e Valéria Augusta C.M. Weigel (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol.18, n.3, set 2011)
‘Formidável contágio’: epidemias, trabalho e recrutamento na Amazônia colonial (1660-1750), artigo de Rafael Chambouleyron, Benedito Costa Barbosa, Fernanda Aires Bombardi e Claudia Rocha de Sousa (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol.18, no.4, dez 2011)
Ñande Ru Marangatu: a judicialização da luta pela terra indígena e o papel do cientista, artigo de Thiago Leandro Vieira Cavalcante (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 17, n. 2, jun 2010)
Do suplemento Amazônia (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v.14, supl.0, dez. 2007):
- O povo das águas pretas: o caboclo amazônico do rio Negro, artigo de Fernando Sergio Dumas dos Santos
- Cosmologia, ambiente e saúde: mitos e ritos alimentares Baniwa, artigo de Luiza Garnelo (versão também em inglês)
- Bahsariwii: a Casa de Danças, artigo de Gabriel Gentil
- Marcus Barros fala sobre meio ambiente e doenças tropicais na Amazônia, artigo de Stella Oswaldo Cruz Penido
- Koame wemakaa pandza kome watapetaaka kaawa (Baniwa, uma história de plantas e curas): caminhos para um roteiro, artigo de Stella Oswaldo Cruz Penido
- As plantas que curam e as ‘qualidades do ser’: sobre ontologia e alteridade ameríndia, artigo de Marco Antonio Gonçalves
- O mundo e o conhecimento sustentável indígena, artigo de André Fernando
Globalização e ambientalismo: etnicidades polifônicas na Amazônia, artigo de Luiza Garnelo e Sully Sampaio (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 12, n. 3, 2005)
Caminhos percorridos pelo dr. Jorge Clarke Bleyer nos campos da medicina tropical e da pré-história brasileira, artigo de Terezinha de Jesus Thibes Bleyer Martins Costa (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol.10, n.1, abr 2003)
Cinco imagens e múltiplos olhares: as ‘descobertas’ sobre os índios do Brasil e a fotografia do século XIX, artigo de Marcos Morel (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 8, supl.0, 2001)
Leia no blog de HCS-Manguinhos:
Antropóloga defende diálogo para articular medicinas indígenas e sistema de saúde – Entrevista com a antropóloga Luciane Ouriques Ferreira
Publicações de HCS-Manguinhos para marcar o Dia Internacional dos Povos Indígenas
Acesse artigos na revista e entrevistas e reportagens no Blog
Botocudos foram expostos no Rio e na Europa em 1882 e 1883
Georg Fischer, da Universidade de Aarhus, Dinamarca, discute as exposições antropológicas do século XIX em artigo em HCS-Manguinhos
As ciências e os saberes indígenas na Companhia de Jesus – Eliane Cristina Deckmann Fleck discute a contribuição dos jesuítas ao desenvolvimento científico da América Platina.
Editora Fiocruz libera acesso à coleção Saúde dos Povos Indígenas
Interessados podem baixar nove livros gratuitamente no SciELO Livros e ler artigos publicados em diversas edições da revista HCS-Manguinhos.
E no Blog internacional de HCS-Manguinhos, uma seleção de artigos em inglês e espanhos: