Desigualdades sociais e formação em saúde na América Latina pós-pandemia

Setembro/2023

A pandemia da covid-19 agravou as desigualdades socioeconômicas históricas na América Latina e Caribe e aprofundou as incertezas relacionadas às necessidades humanas básicas.

Lina Faria

Um estudo publicado no suplemento da revista HCS-Manguinhos sobre a covid na América Latina (v. 30, supl. 1, 2023) apresenta relatórios de agências internacionais entre 2019 e 2022 e discute caminhos para a formação profissional em saúde no Brasil e mudanças nas práticas para impulsionar a proteção social das populações vulneráveis, com base nas propostas de Paulo Freire e Edgar Morin. O artigo é assinado por Lina Faria, professora associada e coordenadora institucional do Mestrado Profissional em Saúde da Família da Universidade Federal do Sul da Bahia, e dois professores do curso, Rocío Elizabeth Chavez Alvarez e Luiz Antonio de Castro Santos. Leia o release e prossiga para o artigo completo.

Desigualdades socioeconômicas na América Latina e Caribe: o futuro pós-pandemia para a formação profissional na saúde

Lina Faria | Professora Associada da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)

As desigualdades, sejam elas sociais, econômicas, de raça ou de gênero, são um problema global e estrutural que aflige com maior intensidade as populações dos países mais empobrecidos. A pandemia da Covid-19 agravou esse problema histórico na América Latina e no Caribe e aprofundou as incertezas relacionadas às necessidades humanas básicas. O estudo apresenta um painel sobre o tema produzido pelos relatórios oficiais de agências internacionais, como a Organização Pan-Americana de Saúde, Organização Mundial de Saúde e Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe entre os anos de 2019 e 2022, e discute alguns caminhos para a formação profissional em saúde, em especial no Brasil, bem como mudanças nas práticas profissionais que podem impulsionar a proteção social das populações mais vulneráveis, que se utilizam exclusivamente dos serviços de saúde públicos.

O mundo está diante de uma crise sociossanitária que exige, de certa forma, uma formação com características culturais dos conhecimentos humanos, em seus contextos e em suas complexidades, ou na visão de Paulo Freire (2019), conhecimentos socialmente construídos na realidade concreta, com respeito às diferenças culturais e às complexidades históricas das sociedades. Neste sentido, essa discussão tem como base as propostas do educador e filósofo brasileiro Paulo Freire e do sociólogo e filósofo francês Edgar Morin. Ambos se distanciam do paradigma tradicional do processo pedagógico e enfatizam a importância da construção de saberes nas instituições formadoras com base nos contextos históricos, nas complexidades humanas e diversidades sociais.

Partindo desta realidade, o social impõe-se nas práticas cotidianas na perspectiva da produção do cuidado, ou seja, a formação em saúde como produção social e a determinação social como base para a compreensão das desigualdades (Almeida-Filho, 2011). Segundo os vários relatórios dessas agências internacionais, investimentos em políticas de proteção social voltadas para as populações mais vulneráveis, como, por exemplo, investimentos na economia do cuidado e em recursos humanos, serão fundamentais para minimizar os danos causados pelas desigualdades, além de promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável e reduzir as violências e as injustiças sociais.

O processo de transformação das práticas profissionais em saúde faz recordar a “travessia” de Guimarães Rosa (2019 [1956]), que encerra Grande sertão: veredas, e nessa travessia o processo de mudança educacional adquire diversidade de significados e suas implicações práticas devem considerar as ambiguidades, contradições e imprevisibilidades como aspectos constituintes do mundo para que o processo pedagógico não se concretize com base em ideias preconcebidas, como diriam Freire e Morin, ou seja, uma prática educativa capaz de assimilar os problemas globais e locais e que ponha em questão o conhecimento fragmentado.

ALMEIDA FILHO, Naomar. O que é saúde? Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 59. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2019.

ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

Leia na revista HCS-Manguinhos:

Desigualdades socioeconômicas na América Latina e Caribe: o futuro pós-pandemia para a formação profissional na saúde, artigo de Lina Faria, Rocío Elizabeth Chavez Alvarez e Luiz Antonio de Castro Santos (HCS-Manguinhos, v. 30, supl. 1, 2023)