Carta dos Editores Convidados • História, Ciências, Saúde-Manguinhos v. 29, supl. 1, dez/2022
Sonu Shamdasani e Cristiana Facchinetti
Caros leitores,
Neste número especial investigamos histórias das psicoterapias. É possível encontrar o termo “psicoterapia” já em meados do século XIX. Médicos advindos de escolas diversas, como Tuke, Bernheim e Van Eeden começaram a utilizá-lo para definir terapias que buscavam o tratamento moral, curar automatismos, persuadir ou produzir catarse, afetando o corpo, a mente e o subconsciente. No início do século XX, a palavra ganhou maior espaço de circulação, sendo adotada por autores como Dubois, Janet, Forel, Jaspers e Jung, que passaram a buscar afetar comportamentos e o inconsciente. O termo ganhou ainda maior notoriedade e diversidade no pós-Segunda Guerra Mundial, passando a ser adotado por autores de referência psicanalítica, do gestaltismo, da escola existencial e mesmo por autores provenientes de referenciais cognitivo-comportamentais (Borch-Jacobsen, 2009). No mundo contemporâneo, e apesar da falta de consenso sobre o seu significado, as psicoterapias ganharam um papel ainda mais central para as definições dos sujeitos, impactando os conceitos de sofrimento e de bem-estar psicológico e a ideia de identidade, sendo possível afirmar que conformamos hoje culturas e sociedades psicoterápicas (Shamdasani, 2017) .
Este número especial apresenta diferentes histórias das psicoterapias, considerando que a expressão conforma um conjunto de práticas, historicamente situadas, que incorporam e produzem valores culturais específicos que precisam ser investigadas em termos de circulação, troca e deslocamento de uma rede de práticas conectadas em diferentes domínios (Subrahmanyam, 2004).
A proposta advém de debates desenvolvidos no interior de um grupo internacional coordenado pelo professor Sonu Shamdasani (University College London, UCL) que vem se encontrando anualmente desde 2016 (recentemente apenas online ), com apoio da UCL Global Engagement Office. Desde 2019, o tema ganhou nova institucionalização, por meio de um “Memorandum of Understanding” entre a UCL e a Fundação Oswaldo Cruz. A partir dessas trocas, novos membros foram incorporados ao grupo, que é composto por psicólogos, psicanalistas, historiadores e filósofos de países da América Latina, da Ásia, da Europa e dos EUA.
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