SBHC por melhor representação de gênero, raça e região

Outubro/2022

Marina Lemle | Blog de HCS-Manguinhos

Rogério Monteiro

Prestes a completar 40 anos em 2023, a Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC) pretende, nos próximos anos, alcançar mais gente com as suas atividades. 

Em setembro último, os sócios da SBHC elegeram Diretoria e Conselho para os biênios 2022-2024 e 2023-2025.

Para saber como a nova gestão da entidade que representa os historiadores da ciência do Brasil lidará com desafios como a regionalização das atividades num país tão grande e diverso e o financiamento num cenário de cortes, o Blog de HCS-Manguinhos entrevistou o novo presidente da SBHC, o matemático Rogério Monteiro de Siqueira. Ele é professor do Programa de Pós-graduação em Estudos Culturais da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP), onde leciona disciplinas na área de história da ciência e matemática. 

Como a interiorização do ensino superior brasileiro nas últimas décadas impactou o trabalho da SBHC?

Uma das importantes mudanças pelas quais o sistema de ensino superior passou, nas últimas duas décadas, tem a ver com um aumento substancial de instituições, institutos e faculdades federais no território nacional, que permitiu oferecer ensino de qualidade e gratuito, ao lado de casa, para muitos jovens. Esse aumento do sistema permitiu, por outro lado, absorver uma leva importante de novos mestres e doutores. A área de história da ciência se beneficiou bastante desse aumento no sistema de pós-graduação brasileiro. Por conta disso, temos jovens colegas lecionando em vários pontos do país.

Apesar disto, cerca de 75% dos nossos associados estão em instituições da região que engloba o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia. No último seminário da SBHC, em São Paulo, essa região contribuiu com 67% dos inscritos. É difícil estimar com precisão a extensão e dispersão da nossa comunidade no território nacional. Mas é certo que há muito mais colegas interessados na área, para além dessa grande região do país, do que os 25% que temos como sócios.

Como atingir mais colegas em diferentes regiões?

Para se aproximar mais desse público, vamos precisar pensar, por exemplo, em uma maior regionalização das atividades da SBHC, sem prejuízo dos seminários bianuais. Eu sei que estamos muito cansados das ferramentas virtuais. Muita gente comemorou a volta do seminário nacional ao modelo presencial. Eu também. Mas elas se revelaram bastante úteis também para aproximar colegas de regiões distintas. No 18º SNHCT (Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia), foi o que permitiu a participação de pesquisadores com dificuldades financeiras. A ideia é continuar explorando esse tipo de ferramenta, sem prejuízo de atividades presenciais regulares.

Com os cortes de verbas da SBHC, as desigualdades regionais se acentuam. Quais as maiores ameaças, e que soluções se vislumbram? 

Basta pensar na lógica dos nossos encontros. Se organizamos o SNHCT na grande região da qual falava, diminuímos os gastos da maioria dos associados, mas complicamos bastante a participação de colegas que trabalham fora dessa grande região. Isso acaba por reproduzir as desigualdades territoriais. Por isso falava de uma maior regionalização das atividades da SBHC e do uso das ferramentas virtuais. Mas também precisamos enfrentar essas desigualdades de uma perspectiva interseccional, ou seja, identificar aqueles pesquisadores e pesquisadoras da nossa área com maiores dificuldades e pensar em estímulos mais pontuais.

Como falei, as desigualdades no sistema nacional de ensino superior e na nossa área tem um viés geográfico, mas quando olhamos os dados dos participantes do nosso último seminário e dos sócios, outras questões aparecem. Entre os nossos sócios, temos uma maioria de pesquisadores com doutorado (70%). Onde estão nossos estudantes? Estudos têm mostrado que o perfil dos estudantes universitários tem ficado cada vez mais diverso, em virtude das políticas de acesso. Tivemos uma importante participação feminina, mas negros, negras, pardos, pardas são somente 27% do nosso público. Como podemos acolher melhor essas frações da comunidade de historiadores da ciência?

O que caracteriza a Diretoria e o Conselho do próximo biênio (2022-2024)? E o conselho do biênio de 2023-2025?

Fizemos um esforço em ter, entre os membros da Diretoria e do Conselho, colegas das várias regiões do país, representando os grupos de pesquisa conhecidos, procurando também uma melhor representação de gênero e raça. Não é ainda o ideal, mas a nossa esperança é que esse grupo consiga pensar em boas soluções para essas questões. Sobretudo porque, em 2023, a SBHC vai completar 40 anos. A área se desenvolveu, a pós-graduação e a pesquisa no país mudou bastante. Vai ser um momento super importante para refletir sobre o futuro, mas também celebrar esse momento ímpar, conquistado com muito trabalho pelas quatro gerações de pesquisadores que temos dentro da sociedade.    

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Como citar este post: 

SBHC por melhor representação de gênero, raça e região. Entrevista de Rogério Monteiro de Siqueira a Marina Lemle, Blog de HCS-Manguinhos. Publicada em 17 de outubro de 2022. Disponível em https://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/sbhc-por-melhor-representacao-de-genero-raca-e-regiao/