Uma enfermeira brasileira na II Guerra Mundial

Julho/2022

A enfermeira Virginia Portocarrero, 1944. Fundo Virginia Portocarrero, Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

Nascida em 1917 no Rio de Janeiro, Virgínia Maria de Niemeyer Portocarrero sempre estudou em boas escolas. Formou-se bacharel em Ciências e Letras, depois desenhista e finalmente, em 1942, enfermeira, com diploma da Cruz Vermelha Brasileira. Em 1943, soube por um anúncio no jornal do curso de preparação emergencial para as práticas de enfermagem de guerra organizado pelo Exército Brasileiro. Inscreveu-se em sigilo, com receio da reação da família. De fato, a notícia de que fora selecionada como voluntária para servir na Segunda Guerra Mundial abalou sua mãe.

Mesmo assim, em junho de 1944, Virginia Portocarrero embarcou para a Itália com a Força Expedicionária Brasileira (FEB), para integrar o primeiro grupamento feminino de Enfermagem do Exército, que contou com 67 voluntárias de várias partes do Brasil, que prestaram serviços naquele país até o fim da guerra.

Como as demais enfermeiras voluntárias, ao voltar da Itália, um ano depois, Virginia foi desligada do Exército Brasileiro, mas ela não se conformou com o desinteresse da instituição em manter em seus quadros oficiais mulheres em tempo de paz. Como a maioria, entretanto, seguiu em frente com sua antiga profissão, trabalhando como desenhista no recém-criado Instituto Brasileiro do Café até 1957. Foi quando uma nova lei permitiu que as enfermeiras que atuaram pela FEB na guerra se tornassem as primeiras enfermeiras militares do país, com os mesmos direitos dos oficiais da ativa.

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Histórias da guerra e do pós-guerra estão no diário de Virgínia, assim como fotos, cartas, desenhos, objetos e indumentárias que compõem o acervo doado em vida pela enfermeira veterana à Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

As potencialidades deste acervo para um vasto universo de pesquisas são apresentadas no artigo Uma enfermeira da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial: Fundo Virgínia Portocarrero da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz,  publicado na seção Fontes da atual edição da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 29, n. 2, abr-jun/2022).

De autoria de Margarida Maria Rocha Bernardes, Sonia Helena da Costa Kaminitz, Laurinda Rosa Maciel, Anna Beatriz de Sá Almeida, Alexandre Barbosa de Oliveira e Fernando Rocha Porto, o texto destaca o diário de campo e as fotografias feitas por Virginia, grande parte delas mostrando a rotina de cuidados aos feridos de guerra na Itália.

“Dessa documentação constam registros de sua formação profissional e acadêmica, e é percebida sua determinação em preservar as reminiscências do front de batalha e do período pós-guerra, numa luta simbólica pelo registro de uma história essencialmente feminina em um cenário emblematicamente masculino. Integra o acervo ampla variedade de tipologias de fontes históricas, com destaque para um diário de sua participação no conflito, demonstrando aspectos cotidianos e peculiares de sua atuação profissional na saúde naquele momento dramático da história da humanidade”, revelam os autores no resumo do artigo.

O Fundo Virgínia Portocarrero inclui documentos textuais, iconográficos, tridimensionais, eletrônicos e sonoros do período de 1917 a 2010, que retratam aspectos institucionais e culturais, enfatizando o contexto da guerra. 

Leia na revista HCS-Manguinhos:

Uma enfermeira da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial: Fundo Virgínia Portocarrero da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, artigo de Margarida Maria Rocha Bernardes, Sonia Helena da Costa Kaminitz, Laurinda Rosa Maciel, Anna Beatriz de Sá Almeida, Alexandre Barbosa de Oliveira e Fernando Rocha Porto (HCS-Manguinhos v. 29 n. 2, abr-jun/2022)