Faleceu, em 29 de junho de 2013, aos 70 anos, Ciro Flamarion Cardoso.
Formado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tornou-se doutor pela Universidade de París X e trabalhou como professor e pesquisador em diversos países latino-americanos e europeus. Lecionou na Universidade da Costa Rica e na Universidade Nacional da Costa Rica, bem como na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Universidade Católica de Petrópolis (UCP). Atualmente era professor emérito de História na Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ).
Leia o relato de Jaime Benchimol, editor de História, Ciências, Saúde – Manguinhos, sobre o amigo:
Ciro faleceu! Recebo essa notícia tão triste longe de minha biblioteca onde guardo livros dele que marcaram minha formação: os trabalhos sobre historiografia, sobre história da América, sobre os modos de produção escravista e asiático, temas que fazem reverberar meus tempos estimulantes de aluno do antigo Ichif, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense. Ficava num casarão em Niterói, na rua Lara Vilela. Não lembro se fui aluno de Ciro lá, mas convivi com ele durante minha curta temporada como professor colaborador do mesmo Instituto, quando este já funcionava no Valonguinho. Eram famosas as aulas de Ciro sobre história antiga; era famosa, aliás, a vasta e sólida erudição dele, que aliava um jeito circunspecto, austero, contido, de poucas e exatas palavras, com grande afabilidade e grande generosidade. Convivi com ele quando fiz doutorado no mesmo Instituto. História das ciências era tema que tinha pouco curso então naquela casa e, em geral, em quase todas as faculdades de história. Era a Ciro, que sabia muito, que recorriam aqueles que não se encaixavam nas vertentes historiográficas, digamos, consagradas, como a história econômica, a história antiga e medieval, a história do Brasil e da América, a moderna e contemporânea, compartimentações hoje um tanto bolorentas. E era Ciro, claro, que buscavam aqueles que queriam realizar estudos em áreas nas quais ele era um craque. Manolo Florentino, por exemplo, hoje renomado especialista em escravidão, foi orientado por ele à mesma época que eu. Procuravam Ciro os que desejavam um orientador exigente, que ia cobrar resultados. Era crítico implacável de modismos irracionalistas. Ele marcava encontros comigo em um shopping, perto das barcas, em Niterói. Era pontual, exigia pontualidade e era extremamente objetivo nas críticas e recomendações. Sorridente e austero, afável mas sempre um pouco distante, com surtos às vezes de loquacidade em que contava, por exemplo, estórias sobre a militância política dos pais ou sobre os tempos em que morara e lecionara em Porto Rico. Ciro adorava ficção científica e escreveu ótimos trabalhos a esse respeito, inclusive na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, da qual foi valioso conselheiro. Enfrentou estoicamente, com grande coragem e por longo tempo, um câncer difícil, sem interromper suas atividades, sem deixar de sorrir e de oferecer generosamente a novas gerações de historiadores sua vasta cultura historiográfica. Um homem de fibra e um historiador ímpar que dificilmente encontrará sucessor nestes tempos de extrema especialização, de sábios do fragmento.
Para História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Ciro Flamarion Cardoso escreveu o artigo Ficção científica, percepção e ontologia: e se o mundo não passasse de algo simulado?, em outubro de 2006.
Imagem do destaque: extraída da capa do livro Um combatente pela história: professor Ciro Flamarion Cardoso, de Alexandre Carneiro Cerqueira Lima e Sônia Regina Rebel de Araújo.