Abril/2022
Declarada extinta em 2008, a foca-monge-do-caribe (Monachus tropicalis), única espécie de foca nativa da América Central, teve o último registro de avistamento confirmado em 1952. A espécie ocupou vastas áreas do golfo do México. Seu primeiro registro de avistamento por um colonizador ocidental foi em 1492. E coube à ciência ocidental também uma parcela de responsabilidade sobre o desaparecimento da espécie.
De acordo com um artigo publicado na edição especial sobre história das relações entre animais da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (n. 28, supl 1, dez/2021), as práticas museológicas de coleta e exposição destas focas contribuíram diretamente para o seu desaparecimento. “A história da ciência ocidental sobre a foca-monge-do-caribe é uma história de desaparecimento da espécie”, afirma Dolly Jørgensen, professora da Universidade de Stavanger, Noruega.
Segundo a autora, o animal nunca se tornou icônico, como outras espécies extintas. Embora restos mortais sejam mantidos em museus de história natural nas Américas e na Europa, ficam escondidos em salas ocultas e reservas técnicas, com suas histórias silenciadas. Como resultado, poucas pessoas conhecem a espécie.
“Desaparecimento, nesse caso, é mais do que a mera perda de vida biológica (extinção), mas também o fracasso em relatar a história daquela vida. Esse desaparecimento ocorreu apesar e por meio de práticas de coleta e exibição da espécie em museus, zoológicos e aquários”, explica.
Leia em HCS-Manguinhos:
O desaparecimento do que está extinto: a caça às focas-monge-do-caribe e as práticas de acervos museológicos, artigo de Dolly Jørgensen, professora da Universidade de Stavanger, Noruega HCS-Manguinhos vol. 28, supl 1., dez/2021
Acesse integralmente o suplemento especial sobre relações entre animais da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 28, dez/2021)
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