Outubro/2021
Entre as drogas psicotrópicas que marcaram a década de 1960, o LSD – ácido lisérgico – e a psilocibina, presente em algumas espécies de cogumelos, tiveram grande destaque, despertando a curiosidade de psiquiatras, que chegaram a fazer experimentos em si mesmos e em pacientes e produziram artigos descrevendo e discutindo os casos.
O “Relato de autoexperiência com um psicodisléptico (Psilocibina)”, de Albuquerque Fortes et al, e “Sobre um caso de desdobramento de personalidade analisado com auxílio de dietilamida do ácido lisérgico (LSD-25)”, de Martins et al, publicados no Boletim Bibliográfico de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 1963 e 1964, são exemplos.
No primeiro artigo, os psiquiatras relatam suas experiências com a substância; no segundo, analisam a personalidade de uma paciente após a experiência com LSD, que teria tido efeito de “soro da verdade”.
O Boletim foi o precursor da Revista de Psiquiatria Clínica, que existe até hoje, e mereceu um estudo aprofundado dos pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP Gustavo Gil Alarcão e André Mota.
No artigo Boletim da Clínica Psiquiátrica da FMUSP, 1962-1971: publicação esquecida, retrato de uma época, publicado na atual edição da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (volume 28, n. 3, jul-set/2021), Alarcão, pesquisador colaborador do Instituto de Psiquiatria, e Mota, professor do Departamento de Medicina Preventiva, abordam, além dos experimentos com novas medicações psicotrópicas, a busca pela padronização dos diagnósticos e a chegada de novas práticas de psicoterapia, como psicanálise, psicologia analítica, psicologia, psicodrama e psicoterapia de grupo, que gradativamente se institucionalizariam em São Paulo.
O artigo revela a história inédita da publicação, que durou de 1962 a 1971. “O Boletim é uma valiosa fonte de pesquisa histórica, que retrata uma década da psiquiatria brasileira. Seu conteúdo é composto por trabalhos variados: testes de medicação, discussões teóricas, notícias da época e questões institucionais da formação da psiquiatria e de áreas correlatas como a psicologia e a psicanálise”, afirmam os autores.
“A principal função do Boletim era a de vocalizar e disseminar o desejo da psiquiatria: ser científica, médica e moderna”, esclarecem. Segundo eles, a publicação não abordava questões essencialmente conceituais sobre a psiquiatria, mas divulgava informações e notícias, que ampliavam a audiência para o tipo de saber produzido na Clínica Psiquiátrica. “O leitor do Boletim não encontraria uma psiquiatria autocrítica, mas um campo em consolidação e expansão, que se reassegurava para se fortalecer”, revelam.
Leia em HCS-Manguinhos:
Boletim da Clínica Psiquiátrica da FMUSP, 1962-1971: publicação esquecida, retrato de uma época, artigo de Gustavo Gil Alarcão e André Mota, História, Ciências, Saúde – Manguinhos, volume 28, n. 3, jul-set/2021