USP concede título póstumo de ‘doutor honoris causa’ a Luiz Gama

Junho/2021

Luiz Gama. Fonte: Biblioteca Nacional

O Conselho Universitário da Universidade de São Paulo aprovou, no dia 29 de junho, por unanimidade, a outorga do título de doutor honoris causa póstumo a Luiz Gonzaga Pinto da Gama. De acordo com o Estatuto da Universidade, o título de doutor honoris causa é concedido “a personalidades nacionais ou estrangeiras que tenham contribuído, de modo notável, para o progresso das ciências, letras ou artes; e aos que tenham beneficiado de forma excepcional a humanidade, o País, ou prestado relevantes serviços à Universidade”.

Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em 21 de junho de 1830, em Salvador, filho de um fidalgo português, cujo nome nunca revelou, e Luiza Mahín, africana livre da Costa Mina, importante ativista envolvida em diversos levantes dos escravos na Bahia no início do século XIX. Nascido livre, foi vendido como escravo aos dez anos pelo próprio pai para saldar dívidas de jogo e levado para São Paulo onde, aos 17 anos, aprendeu a ler e escrever. De posse das letras, conseguiu conquistar judicialmente a própria liberdade.

Em 1850, tentou ingressar no curso de Direito da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Negro e pobre, não foi admitido formalmente como aluno. Entretanto, permaneceu nos corredores da faculdade, frequentou diuturnamente a biblioteca e assistiu a inúmeras aulas como ouvinte. Formou-se advogado provisionado, tornando-se o maior especialista jurídico na libertação de escravos, tendo libertado mais de 500 pessoas e realizado ações também na defesa de pessoas pobres, inclusive imigrantes europeus.

Paralelamente, Luiz Gama atuava como jornalista e literato. Participou dos movimentos contra a escravidão e é reconhecido comoum do s principais líderes abolicionistas do Brasil. Nos tribunais, com oratória distinta e domínio das letras jurídicas, lutou arduamente contra a escravidão, o racismo e a desigualdade.

Sua atuação nesta área rendeu-lhe o reconhecimento em vida e postumamente com a concessão, em novembro de 2015, do título de advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil, em homenagem inédita àquele que se imortalizou na luta por um país “sem reis e sem escravos”.

Foi um dos expoentes do Romantismo, com a publicação, em 1859, das Primeiras Trovas Burlescas de Getulino, reeditada ampliada em 1861, livro em que Gama introduz a subjetividade do autor negro na literatura brasileira. Como um dos principais personagens na luta republicana, Luiz Gama esteve ao lado de vários nomes ilustres, como Ruy Barbosa. Também foi um inovador no jornalismo, tendo fundado o primeiro jornal ilustrado da cidade de São Paulo, o Diabo Coxo, em 1864, e participado ativamente de periódicos republicanos da época. Criou, em 1869, com Ruy Barbosa, o jornal Radical Paulistano, do Partido Liberal Radical paulista. Luiz Gama foi personagem central da história da imprensa em São Paulo e no Brasil.

Faleceu em 24 de agosto de 1882, aos 52 anos, antes da assinatura da Lei Áurea (1888).

No dia 17 de janeiro de 2018, o Diário Oficial da União publicou a Lei nº 13.629, que declarou Luiz Gama como o patrono da abolição da escravidão do Brasil. Também, na mesma data, foi publicada a Lei nº 13.628, que inscreveu o nome de Luiz Gama no Livro dos Heróis da Pátria.

Leia a reportagem completa no Jornal da USP

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Leia na revista HCS-Manguinhos:

Suplemento Saúde e Escravidão (HCS-Manguinhos,vol.19  supl.1 dez. 2012)
Treze artigos do suplemento temático revelam como viviam, adoeciam, eram curados ou morriam os escravos e libertos no Brasil

Artigos sobre racismo (diversas edições de HCS-Manguinhos)

Fronteira, cana e tráfico: escravidão, doenças e mortes em Capivari, SP, 1821-1869, artigo de Carlos A. M. Lima (vol.22, no.3, jul./set. 2015)

Relatos de Luís Gomes Ferreira sobre a saúde dos escravos na obra Erário mineral (1735)artigo de Alisson Eugênio (vol.22, n.3, jul./set. 2015)

Sobre escravos e genes: “origens” e “processos” nos estudos da genética sobre a população brasileira. Artigo de Elena Calvo-González (vol.21, no.4, dez 2014)

O suicídio de escravos em São Paulo nas últimas duas décadas da escravidão, artigo de Saulo Veiga Oliveira e Ana Maria Galdini Raimundo Oda (v.15 n.2 abr./jun. 2008)