Junho/2021
Mulheres tiveram um papel importante na pesquisa da medicina tropical em Portugal durante o período da ditadura do Estado Novo (1933-1974), segundo um estudo de doutorado desenvolvido no Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
Ao identificar quem eram as mulheres envolvidas em pesquisa no Instituto de Medicina Tropical e seus interesses de estudo, o trabalho do pesquisador João Lourenço Monteiro rompe com uma historiografia centrada apenas em personagens masculinas e na subalternização do papel feminino, abrindo um campo de pesquisa sobre os percursos acadêmicos das mulheres, sua influência na internacionalização do Instituto e o impacto das suas publicações no contexto médico daquele período.
No artigo Mulheres visíveis: uma perspectiva diferente na história do Instituto de Medicina Tropical em Portugal (HCS-Manguinhos, vol. 28, n. 1, jan-mar 2021), Monteiro discute as conclusões do seu estudo de doutorado, que teve como fonte os Anais do Instituto de Medicina Tropical, publicado entre 1943 e 1966. A análise dos artigos mostrou que, dos 410 pesquisadores que publicaram na revista oficial da instituição durante o período, 17 eram mulheres (4,14%), e do total de 784 artigos, há pelo menos uma mulher em 30 deles (3,82%). Seis destes 30 têm uma mulher como primeira autora.
A maioria dos artigos escritos por mulheres contava com a coautoria de seus colegas homens, refletindo a incorporação de pesquisadoras às redes científicas já estabelecidas por homens. Entre os temas de estudo estão desde áreas tradicionais, como as parasitologias tropicais, até novas áreas, como nutrição e o uso de isótopos radioativos em medicina tropical. Suas publicações resultaram tanto de pesquisas realizadas na metrópole como nas colônias ultramarinas de Portugal. Boa leitura!
Leia em HCS-Manguinhos:
Mulheres visíveis: uma perspectiva diferente na história do Instituto de Medicina Tropical em Portugal, artigo de João Lourenço Monteiro disponível em inglês (HCS-Manguinhos, vol. 28, n. 1, jan-mar 2021)
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